Arnaldo Otegi disse que participou num acto a favor do ex-preso José Mari Sagardui, Gatza, para denunciar a situação «desumana» que sofria e reivindicar a sua libertação. A sua intervenção procurava dar um «maior realce político» ao acto num momento em que se estava a promover «a criação de um processo de diálogo» com o Governo espanhol. A magistrada do MP continua a pedir um ano e meio de prisão.
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Arnaldo Otegi afirmou em resposta à sua advogada, Jone Goirizelaia, que acorreu ao acto em prol de José Mari Sagardui Gatza porque isso lhe foi solicitado pela sua companheira, que «desejava dar um maior realce político ao acto, e, sendo eu a principal referência da esquerda abertzale», os órgãos de comunicação ouviriam as suas palavras na denúncia da situação do agora ex-preso.
Assim, esteve presente com o objectivo de «reivindicar a sua libertação» – nessa altura Gatza estava há 25 anos preso – e denunciar uma política penitenciária «cruel».
«Penso que era preciso visitar as prisões e saber o que são 24 horas lá dentro para que todos se apercebessem da ligeireza com que às vezes se diz que alguém paga com dois anos», afirmou, acrescentando: «25 anos de prisão parecem-me um escândalo jurídico, político e humano que não ocorre em absoluto» noutros lugares do mundo.
O dirigente abertzale salientou que na altura em que decorreu o acto – Julho de 2005 –, estava «bastante consolidado um espaço de comunicação, que ia abrir um processo de diálogo com o Governo», pelo que não fazia nenhum sentido «conceber qualquer tipo de enaltecimento».
«Nunca nas minhas intervenções fiz uma apelo à acção violenta, nunca», afirmou.
Diálogo para resolver situações bloqueadas
Disse que comparou Sagardui com Nelson Mandela porque ambos estiveram 25 anos encarcerados. «Era uma ideia sugestiva, porque tinha sido possível solucionar uma situação absolutamente bloqueada como a sul-africana com diálogo e negociação. As situações absolutamente bloqueadas que parecem irresolúveis solucionam-se por via do diálogo e da negociação», disse.
No início da sessão, o presidente do tribunal, Javier Gómez Bermúdez, avisou os advogados que não ia aceitar «nenhuma pergunta que não se relacionasse com a finalidade do processo».
Otegi já foi julgado e condenado a dois anos de prisão e 16 de inabilitação por participar naquele acto. O Supremo Tribunal anulou a sentença por considerar que o tribunal que o julgou, presidido por Ángela Murillo, não foi imparcial para com o dirigente independentista.
A magistrada do MP mantém o pedido de um ano e meio de prisão
A magistrada do MP Blanca Rodríguez continua a pedir uma pena de 18 meses de prisão, por considerar que ficou «provado» que o acto em prol de Gatza fazia parte dos «actos propiciados pela organização terrorista ETA no Verão de 2005 em benefício, louvor e enaltecimento dos seus presos políticos».
A acusação popular - Foro de Ermua e Dignidad y Justicia - solicitam dois anos pelo mesmo crime. No começo do julgamento, retiraram a acusação de «associação e reunião ilícita».
A defesa pediu a absolvição e ainda a aplicação da atenuante por dilações indevidas.
«A magistrada do MP espanhol insiste em encarcerar Otegi por comparar Gatza com Mandela», de Iñaki IRIONDO (Gara)