domingo, 7 de setembro de 2008

Esquerda ‘abertzale’ alerta contra aumento da repressão


“Acendeu-se o alerta vermelho e há que dizer basta a todas estes actos de selvajaria”, afirmou a esquerda abertzale no último sábado, ao mesmo tempo que convidava a cidadania basca a juntar forças em torno da exigência do direito à autodeterminação, que é, em seu entender, juntamente com a estruturação territorial do país, um dos elementos fundamentais para alcançar a solução do contencioso político e do marco democrático que Euskal Herria espera lograr.

A esquerda abertzale assegurou no sábado passado que, apesar de serem o objectivo principal do vórtice repressivo que Madrid dirige, a sua acção política continuará centrada no desbravar do caminho que conduza a um marco democrático e à independência do país.
Numa comparência perante os meios de comunicação em que expuseram o posicionamento dos independentistas bascos perante a nova sessão legislativa, Shanti Kiroga e Amparo Lasheras viram, para começar, uma clara intencionalidade do PSOE para “condicionar” a vida política do país mediante a repressão, à qual se juntam como protagonistas, segundo criticaram, os “fiéis aliados” do PNV.

Para o explicar, citaram apenas algumas das actuações repressivas que se viveram nas últimas semanas e outras que já estão anunciadas para os próximos dias. Todas contam com um denominador comum: a esquerda abertzale é o alvo.
Como exemplo, lembraram que entre segunda e quarta-feira 23 cidadãs e cidadãos bascos terão que comparecer ante Baltasar Garzón, instrutor do sumário contra o EHAK [Partido Comunista das Terras Bascas]. Destas citações, a esquerda independentista conclui que Madrid promove a criminalização do mero facto de se ser militante da esquerda abertzale, convertendo a militância política em delito.

Os «sequestrados» de Nafarroa

A propósito da citação de Garzón, Shanti Kiroga trouxe à colação as últimas iniciativas do juiz do tribunal especial sobre os desaparecidos durante a ditadura franquista.
O militante navarro sugeriu ao magistrado espanhol que também visite os quartéis da Guarda Civil em busca de “desaparecidos”, como o navarro Alberto López Iborra, que permaneceu cinco dias nas mãos dos militares sem que ninguém tivesse conhecimento, da mesma forma que não se comunicou a sua hospitalização nem o acidente rodoviário que os guardas civis provocaram para o deter.

Factos que, no parecer de Kiroga, evocam os anos obscuros da guerra suja, durante os primeiros mandatos do PSOE no Governo espanhol.

O vereador independentista de Uharte incluiu nesse parágrafo uma denúncia que dirigiu contra as formações políticas pelo mutismo que guardaram enquanto, dia após dia, vinham a público os testemunhos das torturas sobre os detidos na operação policial efectuada em Nafarroa. Uma crítica a que também não escapou o grupo comunicativo EiTB, pela cobertura informativa que realizou.

Decisão tomada de antemão

Mas a “macabra lista repressiva” não acaba aí. Lembraram como a Sala especial do 61 do Supremo espanhol esteve a trabalhar durante Agosto para dar um “encaixe jurídico” à decisão política do PSOE de ilegalizar o EHAK e a EAE-ANV [Acção Nacionalista Basca].
A tudo isso, Kiroga e Lasheras acrescentaram a advertência de que as sentenças condenatórias contra os acusados do Movimento Pró-Amnistia se darão a conhecer a qualquer momento e que o julgamento contra a Udalbiltza terá o seu início em breve. Também incluíram na lista a decisão que dará a conhecer o Tribunal Constitucional sobre a Lei de Consulta aprovada no Parlamento de Gasteiz.

Ante este cúmulo de circunstâncias, a esquerda abertzale insiste na ideia de que o país está submetido a um autêntico estado de excepção, no qual as violações de direitos “são tremendas”. Embora a grande maioria destes ataques incidam directamente nos militantes independentistas, Kiroga chamou a atenção para o facto de não se tratar de uma ofensiva apenas contra a esquerda abertzale, mas contra o conjunto de Euskal Herria, com o objectivo de impedir que se leve a cabo a mudança política que, no seu entender, a sociedade exige.

Atendendo à fotografia repressiva que o Governo espanhol forçou, Kiroga afirmou que
“o PSOE abriu um novo ciclo de opressão para manter, custe o que custar, o actual marco”, e reforçou o seu argumento tendo em atenção as mensagens veiculadas por Pérez Rubalcaba, nas quais assegura que o destino dos militantes bascos é a prisão.

A contribuição do PNV

E é nesse ponto que, segundo denunciaram, entra em jogo “a contribuição repressiva” da formação que dirige Iñigo Urkullu. Shanti Kiroga comentou que “parece uma brincadeira de mau gosto, uma brincadeira macabra” que o Governo de Lakua peça aos cidadãos que denunciem o Estado espanhol nos tribunais europeus por entender que viola os direitos fundamentais, enquanto o Interior de Lakua proibiu, oficialmente, a marcha anual em defensa dos direitos dos presos políticos que percorre Donostia.

Os independentistas entendem que tanto o PSOE como o PNV pretendem manter o actual statu quo, e que é por isso que não abrandam no seu empenho de retirar do tabuleiro político a esquerda abertzale, mesmo que seja à base de actuações repressivas. Contudo, com calma e perspectiva, a esquerda abertzale assegura que não fará marcha atrás na sua aposta firme para que o país continue a caminhar na direcção de um verdadeiro marco democrático.

A sentença contra o EHAK e a ANV estará pronta para o dia 22

A Sala especial do 61 do Supremo Tribunal, que dirige o processo de ilegalização contra as formações EHAK e ANV adiou por uma semana a tomada de decisão final, ao não habilitar os fins-de-semana e os feriados de Setembro para dar continuidade a essa tarefa. Mas anunciaram que a sentença estará pronta para o dia 22.

Entre segunda e quarta-feira

Entre segunda e quarta-feira que vêm, um total de 23 cidadãs e cidadãos bascos terão que comparecer na Audiência Nacional espanhola perante Garzón na qualidade de processados na causa contra o EHAK.

Gari MUJIKA

Fonte: Gara