sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Mais um passo


A sentença do Supremo é exemplar. Chega no momento oportuno, estava escrita há algum tempo e assinam-na demasiadas mãos que agora cospem frases que vêm de uma profunda atitude pouco recomendável, intelectual, jurídica e democraticamente. É mais um passo no caminho da repressão, do genocídio político que propiciam todos aqueles que vão aprovar os seus orçamentos mútuos e que poderão ir mais tranquilos para as próximas eleições, que é de facto a única coisa que os preocupa. Enquanto controlarem as obras públicas, os conceitos de paz, pátria, estatutos, constituição ou direitos são simples desculpas para se animarem. A sua noção de democracia situa-se um pouco mais à direita do que a de Berlusconi.

Deram o passo. Não será o único, e falta-nos dar muitos mais passos para responder, de forma solidária e com inteligência, deixando-nos de tiques e posturas anacrónicas, a estas agressões constantes, a este estado de excepção perpétuo mantido pelo Zapatero mais González que acabará por ser o governo mais aznarista que se possa imaginar. Não têm outra ideologia que não seja o Poder, e não sabem fazer outra coisa senão trilhar o caminho já tantas vezes pisado e que conduz, como sempre, à dor e à crispação. Disseram-lhes que é isso que dá rentabilidade eleitoral. Seguramente que sim, em Espanha; pena é que aqui também lhe possa dar lucros e voltemos a cair no mesmo.

A notícia, televisivamente falando, foi tratada com o nível de intoxicação que merecia algo de tão elaborado nas cloacas do Estado, embora com toga e punhos, e ninguém manifestou uma só dúvida; é como no franquismo triunfante: ninguém pensa, não há argumentos, mas todos acatam, e até aplaudem. Ilegalizaram, pelos seus santos colhões, um partido histórico, fazendo uso de uma lei aberrante. Mas estes ares triunfantes que tentam mostrar não são nada mais do que sintomas da sua falta de credibilidade democrática. E, por mais que acreditem nisso, não melhora a sua situação económica – a crise há-de apanhá-los, e apenas andaram a entreter o pessoal fazendo uma burrice. Mais uma. Mais um passo em direcção ao seu próprio abismo. Não sabem fazer nada bem, mas esmeram-se no que fazem mal.

Raimundo FITERO

Fontes: Gara ou inSurGente