Tive a sorte de ler o livro Roma y los bárbaros: una historia alternativa [Terry Jones’ Barbarians, Londres, BBC Books, 2006], escrito por Alan Ereira e Terry Jones, o realizador de A Vida de Brian. Os autores, conscientes das similitudes entre o antigo império romano e o actual norte-americano, desmontam a ideia de uma pugna entre civilização e barbárie. Estas reflexões são muito úteis para quem deseje analisar a história do nosso povo, começando por aqueles bascos incivilizados empenhados em não se deixar submeter aos imperialistas godos e francos. Claro que nas versões oficiais o expansionismo se convertia num esforço civilizador e a resistência, em pura pilhagem. Demos um salto no tempo e veremos Regina Otaola a tomar posse de Lizartza, como os Reis Católicos a entrarem em Granada em 1492, e veremos até que ponto o argumento civilizador se mantém através dos séculos.
Mas isto não afecta apenas os imperialistas. É também a linguagem que adoptam aqueles que colaboram com eles. Civilização, desenvolvimento, progresso, liberdade, ordem, consenso, toda uma cadeia de palavras manipuladas para nos acorrentar. O sensato era que a transição se fizesse como queriam os franquistas e com o rei designado pelo ditador à cabeça. A central nuclear de Lemoiz representava o progresso e o desenvolvimento face à irresponsabilidade dos empenhados em converter o nosso país na Albânia do Cantábrico. Por sorte, impôs-se a “barbárie” e não existe tal central nuclear. Algo parecido poderíamos dizer do TGV, novo emblema da civilização face aos bárbaros, atrás do qual se esconde um gigantesco negócio e graças ao qual uma grande quantia de dinheiro passará do espaço público para o privado. É disso que trata o desenvolvimento no sistema capitalista, não nos enganemos.
Com as coisas neste estado, não estranhei a linguagem eleita por Urkullu [PNV] para justificar a sua aceitação da subordinação de Euskal Herria às decisões espanholas: “atitude sensata e absolutamente responsável”. A submissão implica sensatez e responsabilidade. Obviamente, a insubmissão é um exercício de insensatez e irresponsabilidade. Por que não dizer directamente que a submissão é civilizada e a insubmissão nos conduz à barbárie?
Floren AOIZ
www.elomendia.com
Fonte: Gara