sábado, 20 de setembro de 2008

Reacções à sentença contra o Movimento Pró-Amnistia


Tristeza entre os que encontraram apoio nos «ilegais»

A perseguição ao Movimento Pró-Amnistia afecta de forma directa pessoas que estão presas, que denunciaram torturas ou que foram vítimas de violência policial ou parapolicial. O GARA recolheu três testemunhos significativos horas depois das detenções.

ANDONI TXASKO
Vítima do 3 de Março de 1976
“O Estado espanhol não persegue as pessoas, mas as suas ideias”
Além de ser vítima directa da repressão executada às ordens do ex-ministro franquista Manuel Fraga contra os trabalhadores de Gasteiz, a 3 de Março de 1976, Txasko voltou novamente a ser vítima da repressão policial mais de duas décadas depois, desta vez às mãos da Ertzaintza. Pelo meio, foi testemunha neste julgamento contra o Movimento Pró-Amnistia. “Quando nos propuseram que fosse à Audiência Nacional para mostrar como as Gestoras Pró-Amnistia tinham colaborado com a Associação 3 de Março, não colocámos nenhum obstáculo. E menos ainda quando eles renunciaram a uma defesa tradicional e utilizaram as suas intervenções para denunciar todo o tipo de repressões e de infracções. Estive ali com prazer e o que lá disse foi o que é a Associação 3 de Março, a repressão que a classe trabalhadora de Gasteiz sofreu em 1976 e como, a partir dessa altura, todo o Movimento Pró-Amnistia colaborou activamente com a associação para encontrar a verdade, para denunciar a mentira instalada sobre os acontecimentos e para conseguir o apuramento de responsabilidades sobre aquele massacre”.

Depois da sentença de quarta-feira, Txasko afirma que “se sabia desde o início que a decisão de os condenar já estava tomada e que foi por isso que eles renunciaram a erguer uma defesa”. Mas não é por isso que deixa de lhe parecer “vergonhosa” esta atitude do Estado espanhol, “contra qualquer movimento ou grupo que lute pela identidade de um povo, pela sua liberdade e pelos direitos de presos que estão em luta por certas ideias”.

Considera também “ofensivo” que se trate os Bascos “desta forma, condenando-os, encarcerando-os e ilegalizando-os. É um estado que não persegue as pessoas, mas as ideias e qualquer forma de luta que reivindique os direitos deste povo”.

BELÉN AGUILAR
Mãe de um preso político basco
“Para mim, são as pessoas mais solidárias que conheço; acompanharam-me sempre, ajudando-me”
A 5 de Outubro de 1979, o Batalhão Basco-Espanhol tirou a vida ao refugiado basco Justo Elizaran, em Baiona. Belén Aguilar, a sua companheira, recebeu desde o primeiro momento o apoio do Movimento Pró-Amnistia. E agora, que tem um filho preso no Estado espanhol, também. “Para mim são as pessoas mais solidárias que conheço. São os que ajudam os familiares dos presos; estão sempre aí para o que for preciso. E por isso fui a Madrid, porque creio que ninguém deve ser julgado pelo facto de ser solidário. Agora, com a sentença, não tenho palavras para pensar que possam dar 8 ou 10 anos de prisão a uma pessoa sem ter feito absolutamente nada de mal, excepto ajudar aquele que precisa”.
“Está mais que visto que no Estado espanhol não há justiça para os Bascos e que fazem o que lhes dá na real gana. A Justiça não existe; se existisse realmente, não teriam que ir para a prisão”, acrescenta.

“A mim, pelo menos, acompanharam-me sempre, mesmo nos momentos mais duros da minha vida, ajudando-me e apoiando-me a toda a hora, às vezes mais que os próprios familiares. Para mim é muito triste. Não tenho palavras, e aqui ninguém faz nada”, lamenta.

Susana ATXAERANDIO
Torturada
“Estou muito magoada, nem sequer se pode dizer que aqui há repressão?”
A gasteiztarra Susana Atxaerandio teve que prestar declarações no julgamento contra o Movimento Pró-Amnistia por exigência da Procuradoria e da AVT. Curiosamente, as mesmas instâncias que não tomaram em consideração a sua denúncia de tortura interessaram-se por outros detalhes da sua declaração policial. Assim sendo, Atxaerandio recordou na Casa de Campo de Madrid que realizou essa declaração sob tortura e convidou a Procuradoria e os magistrados a lerem o seu testemunho, “porque nenhuma pessoa mentalmente sã pode inventar um relato daqueles”.

Explicou ainda que o Movimento Pró-Amnistia a ajudou a conhecer de perto a situação que se vive em Euskal Herria... e nos calabouços. “Quando a Guarda Civil me levou, já sabia os cinco dias que tinha pela frente”, refere, mas precisa que quem mais ajuda recebeu deste movimento foram porventura os seus pais.
A gasteiztarra sublinha que eles se sentiram amparados. “Quando me detiveram, os meus pais recorreram a outras pessoas, alguns políticos nacionalistas com quem tinham uma relação de amizade, e estes, mesmo assim, viraram-lhes as costas”. Ao invés, lembra que “as pessoas que trabalhavam nessa altura em Gasteiz, gente que ontem estava sentada em Madrid e que foi condenada, lhes deram o apoio, o carinho e a companhia de que necessitavam então, para além da orientação necessária”.

Após a sentença, afirma sentir-se “muito magoada”. “Alguém com o mínimo de inteligência pode acreditar numa coisa destas? Como se pode condenar alguém desta maneira? Será que nem sequer se pode dizer que aqui há repressão?”.

Oihana LLORENTE e Gari MUJIKA