sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Novo requiem pelas liberdades políticas

Movimento Pró-Amnistia: Dignidade

Com a mesma celeridade com que se arrumaram as deliberações sobre a ilegalização da ANV, o ST espanhol decidiu ontem por unanimidade colocar fora da legalidade o EHAK [Partido Comunista das Terras Bascas]. Bastaram apenas algumas horas para que esse tribunal espanhol decidisse a dissolução desta formação política, cobrindo sem surpresas um novo capítulo da ofensiva judicial contra a esquerda abertzale e deixando patente que a leitura e a análise das alegações dos advogados – se é que se realizaram – não fez perder horas de sono a suas senhorias. Cumpriram-se, ponto por ponto, os augúrios do grupo parlamentar da Ezker Abertzalea, que ontem mesmo tinha como certa a ilegalização e, mais significativamente, os que dias antes de se tornar pública a sentença realizara o porta-voz parlamentar do PSOE, José Antonio Alonso, sobre o rumo da decisão judicial.

A semana que agora acaba deixou bem clara a determinação do Estado na sua estratégia para tentar fazer desaparecer do mapa político a esquerda abertzale. Não enfrentou reparos – nem democráticos nem judiciais – no momento de ilegalizar um partido político histórico como a ANV, com o qual o próprio PSOE chegou a partilhar luta política naquele Bloco Anti-Monárquico, há mais de setenta anos, e posteriormente trincheira, na cruenta guerra de 36. Também não lhe causou embaraço de qualquer espécie ilegalizar o Movimento Pró-Amnistia e condenar a duzentos anos de prisão 21 cidadãos bascos que, se se destacaram por alguma coisa, foi por dedicar o seu trabalho de militância para trazer à luz a repressão dos estados francês e espanhol, e fazer chegar a sua solidariedade e apoio a centenas e centenas de perseguidos políticos.

Mesmo desconhecendo ainda as roupagens da sua redacção, a sentença de ontem não se desvia um milímetro da ampla auto-estrada de atropelos judiciais encaminhados para desbaratar a dissidência política em Euskal Herria. “Quem não aceita a Constituição ficará fora da vida política”, manifestavam ontem fontes do governo espanhol na sua apreciação da ilegalização. Esquecem, omitem, de novo, que essa Constituição nunca foi aceite por este povo. E que o deficit democrático com que se iniciou aquilo a que chamaram transição não fez senão degenerar nestas três últimas décadas, até desembocar no estado de excepção que hoje fede em Euskal Herria.

Fonte: Gara