sábado, 20 de setembro de 2008

Prestigiando as vias pacíficas


O governo espanhol está cumprir na perfeição o seu objectivo de deslegitimar a violência da ETA. Ninguém podia imaginar uma forma mais brilhante de o fazer. Há alguma maneira melhor de deixar sem argumentos quem defende a luta armada do que observar o Supremo Tribunal a ventilar a legalidade de partidos entre cafezito e cafezito? Sem dúvida, a Lei de Partidos ou a recente condenação de militantes anti-repressivos vão deixar a ETA sem argumentos. Do mesmo modo que os relatos de torturas fortalecem de maneira notável a legitimidade da “democracia” espanhola. Do mesmo modo, ao expulsar a esquerda abertzale das instituições, está-se a conseguir que a base social da esquerda abertzale veja cada dia com mais admiração essas instituições.

Por este caminho, é previsível que a ETA se auto-dissolva um dia destes. Os militantes da esquerda abertzale irão a correr filiar-se no Aralar e o estado terá vencido, graças à sagacidade dos seus estrategas. É o que deve esperar este estado exemplar que garante a existência de canais pacíficos e democráticos para defender todas as ideias. Este estado que dá especial atenção à possibilidade de todos os projectos se poderem defender em igualdade de condições, sem que se coloquem limites à vontade popular. Com o comportamento exemplar do Estado espanhol para com a cidadania basca, quem irá dar credibilidade às injustificadas denúncias da esquerda abertzale? Estado de excepção? Por favor, que disparate!

O Governo possui um grande conhecimento da história, e é lógico que tenha seguido a linha de acção bem-sucedida dos seus antecessores. Todos sabem de que maneira tão genial Franco deixou a ETA sem argumentos no Processo de Burgos ou com os fuzilamentos de Setembro de 1975. Em todo o mundo se admira a inteligentíssima jogada do Batalhão Basco-Espanhol e dos GAL, que debilitaram extraordinariamente a legitimidade da ETA. A morte por tortura de Joxe Arregi foi outra genialidade. É normal que Rodríguez Zapatero, tão superior em tudo a quem o precedeu, queira rematar a faena ganhando com uma goleada. Em poucos meses, neste país não resta ninguém que veja razões para a luta armada, certamente.

Floren AOIZ
www.elomendia.com

Fonte: Gara