sexta-feira, 5 de junho de 2009

Perseguição política no vale de Baztan


Os relatórios das “vigilâncias políticas” da Polícia Foral

Há alguns dias, o Gara dava conta das novas funções que a Polícia Foral, em Nafarroa, tem vindo gradualmente a desempenhar, pisando os terrenos da “ordem pública” tradicionalmente reservados à Guarda Civil e à Polícia espanhola, tornando-se uma força policial multifuncional e “integral” – facto que nesta altura já não constitui nenhum segredo.

“Mas, no vale de Baztan, foi com uma mescla de espanto e indignação que as pessoas reagiram ao saberem que agentes deste corpo assumem entre as suas funções, com aparente normalidade, de acordo com o conteúdo dos seus “relatórios”, a de investigar pessoas pela sua ideologia independentista.”

Nesses relatórios, que foram divulgados por todo o vale, ainda que não se saiba como chegaram ao conhecimento público, registam-se incidentes de diversa natureza, como os relativos ao trânsito, a roubos ou suspeitas de tráfico de droga, entre outros. Mas o que escandalizou muita gente foi verificar que, juntamente com esse trabalho policial comum, se encontravam registos de vigilâncias de carácter única e exclusivamente político.

É o caso de uma nota datada de 11 de Março em Elizondo, na qual se indica que é preciso vigiar uma garagem “para a relacionar ou descartar da rede radical abertzale”, e acrescentam-se alguns dados sucintos sobre os seus donos e empregados.

Noutro caso, desta vez anotado a 28 de Fevereiro na localidade de Ituren, fala-se de uma “quadrilha problemática”, fazendo-se referência a cinco pessoas com nomes e apelidos. “Possível rede radical”, acrescentam os relatórios fotocopiados e divulgados pelos habitantes. E depois anota-se que “se observam inscrições referentes à ETA no frontão. Voltar a controlar estes e preencher ficha de identificação”.

Os apontamentos referem acontecimentos ocorridos em diferentes localidades de Baztan (Elizondo, Irurita...), Malerreka (Donamaria, Doneztebe, Ituren...), Bortziriak (Etxalar, Bera, Lesaka...) e Ultzama, pelo que se depreende que tenham sido feitos por patrulhas do quartel da Polícia Foral de Elizondo.

Habitantes destas localidades consultados pelo Gara salientam que noutras notas aparecem membros da esquerda abertzale, sobre os quais é patente uma vigilância especialmente apertada, ainda que não se determine a razão de tal e não exista qualquer procedimento criminal.

Notícia completa: Gara


A Guarda Civil confisca um Arrano Beltza em Irurita, considerando-o ilegal

Na semana passada a Guarda Civil apareceu na Praça do Povo de Irurita com cinco jipes e identificou 25 pessoas que estavam a desmontar o cenário das festas da localidade. Os agentes deste corpo militar confiscaram uma ikurriña, uma bandeirola em defesa dos presos e um Arrano Beltza (ilustrado acima), parecendo ignorar que se trata de um símbolo histórico de Nafarroa.

Sobre esta última bandeira disseram que se tratava de um símbolo ilegal e que, por esse facto, as pessoas identificadas poderiam vir a ser investigadas pela Audiência Nacional espanhola, tribunal de excepção para o qual iriam enviar um relatório.

Durante os últimos meses, e nas últimas semanas com mais intensidade, o vale de Baztan foi alvo de inúmeras agressões fascistas. Anunciaram o início de investigações policiais, mas delas nada consta e a Guarda Civil não faz nada.

Ao invés, quando é para acossar e perseguir os habitantes de Baztan, vêm depressa e a correr. Enquanto os fascistas agem com toda a impunidade, as pessoas que organizam as festas da localidade são identificadas e ameaçadas. Agora, até o Arrano Beltza, um símbolo histórico navarro, é ilegal. A Guarda Civil não é um corpo policial com raízes nesta terra, e com este tipo de actuações mostra-o bem. Não é só por não respeitar os nossos direitos, é também por nem sequer respeitar os nossos símbolos.