domingo, 3 de janeiro de 2010

Em Bilbau, um gigantesco «não» à «criminosa política penitenciária»

Uma bandeirola gigante da Etxerat abriu a manifestação massiva que ontem disse, em Bilbau, um rotundo «não» à «criminosa política penitenciária». Milhares de pessoas [o boltxe.info refere 45 mil] pediram que sejam respeitados os direitos dos prisioneiros bascos e exigiram «euskal presoak Euskal Herrira» [os presos bascos para o País Basco]. No acto final, os convocantes cederam a palavra a um familiar, que sublinhou que 2010 tem de ser «um ano de compromissos concretos e tangíveis» para pôr um travão a «esta política criminosa».

Com os passeios abarrotados de gente, uma grande bandeirola da Etxerat abriu a marcha ladeada por filas de familiares com o lenço ao pescoço e candeeiros acesos nas mãos.

«Dagozkien eskubideen jabe, euskal presoak Euskal Herrira» [donos dos seus direitos, os presos bascos para o País Basco], reivindicaram os participantes na manifestação, que começou pouco depois das 17h30 no Sagrado Coração, em Bilbau.

A cabeça da marcha ia sendo recebida por aplausos e avançava muito lentamente nos primeiros metros, pois as pessoas que ocupavam os passeios iam-se juntando à manifestação.

A grande distância da bandeirola via-se a faixa com o lema da marcha – «Dagozkien eskubideen jabe, euskal presoak Euskal Herrira» – convocada por Eusko Alkartasuna, Esquerda Abertzale, Aralar, Alternatiba e Abertzaleen Batasuna.

O chifre e os sons da txalaparta anunciavam a chegada da manifestação ao largo da Gran Vía, uma marcha em que foram aumentando em número e intensidade as palavras de ordem a favor da repatriação dos prisioneiros políticos, como «presoak kalera, amnistia osoa» [os presos para a rua, amnistia geral], «errefuxiatuek Euskadin bizi behar dute» [os refugiados precisam de viver em Euskadi] ou «euskal presoak, etxera» [os presos bascos para casa].

Quando a marcha chegou à Rua Iparragirre, ao lado da subdelegação do Governo espanhol, um «Non dago Jon?» [onde está o Jon?] ressoou em frente aos seis guardas civis que, de metralhadora na mão, faziam a guarda ao edifício. [Jon é Jon Anza, o militante donostiarra que desapareceu no dia 18 de Abril.]

Às 18h21 a bandeirola chegou à Praça Circular, onde se formaram grupos de pessoas que esperavam e aplaudiam a manifestação. Só às 19h15 é que a parte traseira da manifestação chegou a este ponto, no qual convergiam os slogans dos manifestantes e os aplausos de quem participava no acto final nas escadarias da Câmara Municipal.

«Política criminosa»
Ali, os convocantes cederam a palavra a um familiar, que sublinhou que o ano que agora começou tem de ser o «dos compromissos concretos e palpáveis» para acabar com «esta política criminosa».

Afirmou que os familiares vão continuar a denunciar as violações de direitos e que continuarão «a bater em diversas portas» para que esta situação chegue ao fim.

Milhares de pessoas à espera
Meia hora antes do início da manifestação, milhares de pessoas aguardavam pelo início da marcha e no local da partida estavam já os convocantes, além de diversos agentes sociais e sindicais que deram o seu apoio à manifestação, tal como os familiares dos perseguidos políticos bascos, que levavam o lenço da Etxerat ao pescoço.

Um helicóptero da Ertzaintza sobrevoava a zona e nas ruas transversais que iam da Gran Vía até à Praça Circular encontravam-se furgonetas da Polícia autonómica.

A manifestação, que foi convocada por EA, Esquerda Abertzale, Aralar, Alternatiba e Abertzaleen Batasuna, sucede à da Etxerat, depois de a Audiência Nacional espanhola ter decidido atender à solicitação da Dignidad y Justicia e proibido a marcha.
Fonte: Gara


Leitura da manifestação e do contexto político (Boltxe.info)
Em lahaine.org, um porta-voz do Boltxe.info fez uma avaliação desta manifestação massiva, referindo-se também ao contexto que a envolveu.

«Esta manifestação foi precedida por um sem-fim de movimentos por parte do Ministério do Interior que visavam travar a solidariedade com o colectivo de pres@s. A intervenção do ministro Rubalcaba anunciando um sequestro ou atentado da ETA poderia ser lida neste âmbito, porque o Estado não consegue lidar com uma proposta política em clave democrática. Agora que não há actividade da ETA, tinham de a inventar, procurando semear a confusão à volta do debate que se está a dar no seio da esquerda abertzale ilegalizada.»

«Houve uma segunda tentativa de acabar com a Etxerat, primeiro, nas visitas, agredindo as famílias e amig@s d@s pres@s nas prisões, e depois procurando ilegalizar directamente este organismo popular. É preciso destacar a reacção das formações políticas que recolheram o testemunho da Etxerat - e alegrarmo-nos por isso -, pedindo o apoio e o carinho para @s pres@s polític@s. Nesta ocasião, as organizações convocantes - Esquerda Abertzale, Aralar, Eusko Alkartasuna e Alternatiba - demonstraram que existe a possibilidade de fazer frente às acções mais agressivas do Estado de forma unitária e medindo forças nas ruas.»

«Nas ruas fomos 45 000, com uma presença significativa de gente de que veio de diversos pontos do Estado espanhol, de Madrid, Salamanca, Cantábria, Burgos e tantos outros lugares, porque a causa da defesa d@s pres@s polític@s basc@s é o elemento central de unidade contra a política fascistóide do Governo Zapatero e do seu aliado estratégico, o Partido Popular.»

«Podemos dizer que hoje se mediram as forças em torno de uma proposta democrática que reclama o direito do povo basco a decidir o seu futuro, sendo que do lado da repressão apenas ficaram o PNV e a Esquerda Unida, ainda que tenhamos a certeza de que gente de ambas essas formações participou também, a título pessoal, na manifestação, deixando as direcções políticas desses partidos numa posição embaraçosa. Tal como a Etxerat, também a Boltxe envia um abraço às pessoas que, vindas de tantos pontos do Estado espanhol, se juntaram a nós.»
http://www.lahaine.org/index.php?p=42404
Acompanhamento da manifestação (com muitas fotos)
http://www.kaosenlared.net/noticia/manifestacion-pro-presos-ha-sido-convocada-lab-ela-ea-aralar-ezker-abe

Apoio aos presos e repressão em 2009 (pequena galeria fotográfica)
http://www.gara.net/argazki-galeriak/presoak/argazkiak.php