quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Reacções ao comunicado da ETA: Muito para lá das eleições municipais e forais


O movimento da esquerda abertzale tem um alcance muito maior. Pretende alterar os parâmetros do conflito e levar a confrontação para vias exclusivamente democráticas.

Apresentar o debate que a esquerda abertzale está à beira de concluir como uma resposta a supostas urgências de carácter eleitoral constitui um exercício de cinismo táctico por parte de Alfredo Pérez Rubalcaba e de tacticismo cínico no caso de Antonio Basagoiti. O ministro do Interior sabe em primeira mão que, se no interesse da esquerda abertzale a presença nas urnas tivesse primado sobre a necessidade de avançar em direcção a um cenário com novas regras de jogo democráticas, teve ao seu alcance a oportunidade de o fazer em 2007. Rubalcaba sabe que não é esse o objectivo, mas convém-lhe virar para aí o foco.

Em relação a Basagoiti, o que se passa é que tem a noção de que, se as eleições decorrerem em condições democráticas, as suas aspirações podem ver-se bastante afectadas, e trata de pressionar o Governo espanhol para que não o admita. Não é segredo para ninguém que a esquerda abertzale aspira não só à presença nas urnas, mas ainda à obtenção dos melhores resultados possíveis, mas a sua sobrevivência não depende disso. Se não, relembre-se os vaticínios sobre o desaparecimento iminente do Batasuna, em 2003, sem representação municipal e foral e sem os subsídios consequentes, e estabeleça-se um contraste com a realidade actual.

O movimento da esquerda abertzale tem um alcance muito maior. Pretende alterar os parâmetros do conflito, aos quais considera que o Estado está perfeitamente acomodado, e levá-lo para um novo estádio em que a confrontação se dê única e exclusivamente por vias democráticas. E a sua base social está já a encerrar o debate sobre as fórmulas mais adequadas para isso.

Neste contexto, faz sentido enquadrar o último comunicado da ETA. É sobretudo digno de destaque o facto de que uma organização que defendeu historicamente a sua condição de vanguarda escreva agora que «a esquerda abertzale, que é o motor da luta deste povo, falou e a ETA faz suas essas palavras». Agora, não era altura para se esperar um anúncio de tréguas ou o fim da luta armada que, seguramente, como se diz no comunicado, não virão por si mesmos e sem que haja um processo democrático. O essencial é observar que o interesse em criar dissensões ou excisões não deu frutos e, como tal, as conclusões que resultarem do debate interno da esquerda abertzale - que serão conhecidas dentro de algumas semanas - hão-de ser aquelas que marcarão o caminho do futuro sob a direcção que as bases de Batasuna estão a traçar.

Iñaki IRIONDO
Fonte: Gara

Leituras relacionadas:
«A ETA faz seus os posicionamentos expressos pela esquerda abertzale»
http://www.gara.net/paperezkoa/20100117/177657/es/ETA-hace-suyos-planteamientos-expresados-izquierda-abertzale

«Tradução integral para castelhano: Comunicado da ETA a Euskal Herria»
"Como o Gara indicou, o comunicado da ETA publicado no domingo no seu idioma original, o euskara, foi resumido por outros meios de comunicação seguindo traduções que distorciam o seu conteúdo e nas quais havia erros coincidentes. De forma a dissipar as dúvidas que esta situação possa ter provocado nos leitores não euskaldunes, o Gara decidiu traduzi-lo, desta vez de forma integral:"
http://www.gara.net/paperezkoa/20100119/177927/es/Traduccion-integra-castellano-Comunicado-ETA-Euskal-Herria

«Egibar destaca o texto da ETA e o Eusko Alkartasuna pede que se aborde com inteligência»
"As primeiras apreciações previsíveis do comunicado da ETA vão dando lugar a leituras mais profundas. Ontem, Joseba Egibar [PNV de Gipuzkoa] afirmou tê-lo lido bem e sublinhado, concluindo que evidencia que 'o centro de gravidade está em Altsasu'. O EA de Nafarroa respondeu às críticas da UPN dizendo que, 'na questão da violência, a direita navarra mais vale estar calada'."
http://www.gara.net/paperezkoa/20100120/178254/es/Egibar-destaca-texto-ETA-EA-pide-tratarlo-inteligencia