sábado, 16 de janeiro de 2010

Sessões de tortura até decorar as declarações


No testemunho recolhido pelo Gara, Pello Olano relata com detalhe o «inferno» vivido durante os cinco dias em que permaneceu incomunicável nas instalações da Guarda Civil.

Afirma que não comeu nada nem dormiu durante esse período, chegando a perder seis quilos, e que nas sessões de tortura o obrigaram a decorar as duas declarações realizadas na esquadra. Pensou que com as declarações acalmassem, mas diz que o continuaram a torturar até ao último dia.

O lizartzarra recorda que as primeiras agressões e ameaças começaram a caminho de Madrid. Fez a viagem com a cabeça tapada, dobrada para baixo, e as mãos algemadas. Obrigaram-no a repetir tabuadas para evitar que adormecesse durante o trajecto e, quando parava, levava. Segundo refere, deram-lhe três socos na cara. Ao chegar a Madrid, meteram-no numa cela e, segundo conta, disseram-lhe que devia permanecer de pé, olhando para a parede e com a cabeça para baixo, sem olhar para os agentes.

É a partir de então que começa um «verdadeiro inferno» com interrogatórios e sessões de tortura. Olano refere que terá passado por uns 30 interrogatórios durante o período de incomunicação, mas sem os recordar numa sucessão cronológica, uma vez que estava «desorientado, sem saber se era de dia ou de noite».

O saco, «o mais duro»
Os guardas civis realizaram a maioria dos interrogatórios encapuzados, excepto em duas ocasiões, e eram cinco os agentes que participavam, a julgar pelas vozes que conseguia distinguir, cada um deles cumprindo um papel: o bom, o mau, o que lhe dava, o que ameaçava e «o selvagem a quem chamavam 'animal'». Alguns dos interrogatórios não duraram mais que uma hora, enquanto outros se prolongaram até seis horas.

Em todas essas sessões, colocavam-no de pé contra a parede, gritando e ameaçando-o enquanto lhe batiam. Depois começavam a empurrá-lo e era obrigado a fazer flexões até à exaustão. Caso parasse, levantavam-no ao pontapé.

O lizartzarra refere que lhe davam na cara, na cabeça e nas costas, tanto com as mãos abertas como de punho fechado. Afirma, no entanto, que a parte mais dura foram as sessões de «saco», sobretudo as primeiras.

Segundo relata, atiravam uma manta para o chão, na qual o enrolavam de mãos atadas atrás das costas e fazendo força para cima. Três pessoas sentavam-se sobre as suas costas e o que estivesse mais próximo do pescoço pegava-lhe na cabeça e puxava-a para trás. Então, um outro guarda civil aproximava-se e enfiava-lhe o saco, apertando junto ao pescoço.

Olano refere que sentia a asfixia e que, quando ia a perder os sentidos, esburacavam o saco pela boca para que pudesse respirar. As tonturas e os sufocos foram tremendos, segundo diz, ao ponto de se urinar durante as sessões. Passou os últimos dias com calças da Guarda Civil, porque as suas estavam molhadas.

Para além disso, foi despido por diversas vezes para ser inspeccionado e sofreu ameaças que envolviam a sua companheira e o seu filho, e ainda outros métodos de tortura.

Segundo afirma, contou todos os maus tratos ao médico forense, mas este não lhe fez qualquer teste, embora tenha tomado nota do que dizia.
Fonte: Gara