O vivo interesse dos aparelhos do Estado espanhol em torpedear o processo de debate aberto no seio da esquerda abertzale ficou claro no passado dia 22 de Dezembro, quando o Grupo Noticias divulgou o conteúdo de uma suposta carta de Arnaldo Otegi enviada de Soto del Real para um outro prisioneiro político basco e na qual, de novo supostamente, faria uma série de apreciações políticas, que não deixavam muito bem visto o citado grupo jornalístico. Porquê? Não só porque, caso fossem reais, teriam pertencido ao foro privado e protegido da comunicação postal, mas também porque, para além do mais, eram falsas. A carta nunca foi escrita, nunca foi enviada e, naturalmente, nunca existiu senão nas sebosas cozinhas da intoxicação radicadas em Madrid.
Os cozinheiros responsáveis por tão grosseira perversão informativa sabiam que, mais tarde ou mais cedo, o engano seria descoberto. Mas não pensaram duas vezes. Contavam com a colaboração segura de meios de comunicação que, em tudo o que se refere ao independentismo basco, há muito que perderam qualquer escrúpulo na hora de dar cobertura a fugas com um claro interesse de manipulação informativa. Longe de confrontar ou confirmar a informação, faltou-lhes tempo, não só alimentando desta forma a mentira, mas acrescentando-lhe ainda arrevesadas e sofisticadas especulações de fabrico caseiro, e transformando um simples e óbvio embuste numa arma de arremesso contra o independentismo.
Este episódio, mais um, vem confirmar uma realidade incontestável: os meios de comunicação não são meros observadores no conflito entre Euskal Herria e o Estado espanhol. Em maior ou menor grau, consoante os casos, constituem-se como agentes activos prontos a servir de correia de transmissão à estratégia do Estado espanhol, esquecendo deliberadamente o seu sagrado compromisso com a imparcialidade e a honestidade informativas. A «carta fantasma» de Arnaldo Otegi transforma-se assim num verdadeiro apelo à reflexão.
Fonte: Gara