domingo, 3 de janeiro de 2010

Vinte jovens afirmam correr risco de detenção e tortura


Jovens independentistas cujos nomes aparecem em listas policiais completadas com declarações extraídas em regime de incomunicação aos detidos no final de Novembro compareceram no dia 30 perante a comunicação social para dar a conhecer a fragilidade da situação em que se encontram. Os advogados declaram que este caminho aberto pela Audiência espanhola é «ilegal».

Mês e meio depois da operação policial levada a cabo pela Polícia espanhola e pela Guarda Civil, que provocou mais de 30 encarceramentos e muitas denúncias de maus tratos, no dia 30 apresentaram-se perante os meios de comunicação quase vinte jovens independentistas que se sentem numa «situação de desamparo». Isto porque sabem que os seus nomes aparecem em declarações policiais «arrancadas sob tortura» aos detidos em Novembro último, e isso fá-los «correr um sério risco» de detenção.

A sua advogada, Arantxa Aparizio, sublinhou que nenhum deles «tem alguma coisa a esconder» e realçou o facto de as suas actividades serem bastante conhecidas nas suas terras, gaztetxes [centro juvenis] ou escolas.

Não obstante, a advogada afirmou que os jovens não podem apresentar a sua versão dos factos na presença de um juiz, já que, «ignorando as leis», a Audiência espanhola «fechou as portas» à possibilidade de declaração voluntária. «Primeiro, têm de ser detidos, passar pelo período de incomunicação e torturados», salientou Aparizio.

Assim, recordaram o caso da jovem iruindarra Ainara Bakedano, que foi detida mesmo à porta da Audiência, para onde se dirigia voluntariamente, e apesar disso levada para a esquadra e sujeita à incomunicação. «A atitude da Audiência Nacional é clara - denunciou a advogada; precisam de declarações auto-incriminatórias ou contra outros jovens, e para isso o período de incomunicação é-lhes imprescindível, pois permite-lhes a tortura».

Aparizio contou como os advogados foram testemunhas dos relatos de maus tratos destes jovens, que consistiram, entre outras práticas, em agressões físicas, ameaças, insultos, na aplicação do «saco» até os deixar sem respiração, e também vexações sexuais.

Assim sendo, a advogada afirmou a «ilegalidade» da via aberta pela Audiência Nacional, que consiste em «deixar os jovens sem defesa e em abrir novos espaços para a incomunicação e a tortura». Por isso, fez um apelo à sociedade, e em especial aos profissionais do direito, no sentido de continuarem a denunciar o «recuo» a nível de direitos e «situações de desamparo» que se vivem no tribunal de excepção espanhol.

Vencer a repressão
Na conferência de imprensa, que reuniu membros do Movimento pró-Amnistia, advogados, jovens cujos nomes aparecem em listas policiais e dezenas de familiares e amigos que assim quiseram manifestar o seu apoio, recordaram que nestes últimos dois anos mais de cem jovens foram detidos sob a acusação de pertencer à Segi. Além disso, como têm vindo a denunciar há já vários meses, os processos judiciais sustentam-se em provas como DVD, T-shirts ou autocolantes «que qualquer jovem pode ter na sua casa».

Arbil Osa, membro do Movimento pró-Amnistia, afirmou que estes jovens que hoje se encontram em risco de ser detidos lutam pelos direitos da juventude e pela independência de Euskal Herria, e que o fazem «de forma visível». Para Osa, o problema reside no facto de, em Euskal Herria, o trabalho em movimentos juvenis ou políticos, «mesmo que feito publicamente» e de modo pacífico, poder ser punido com o regime de incomunicação e com a prisão.

De acordo com esta representante do movimento anti-repressivo, não é por acaso que nos últimos meses os estados francês e espanhol têm actuado contra o movimento independentista, pois «precisam de silenciar as novas gerações». É por isso que o movimento juvenil «é um dos alvos da estratégia de repressão», afirmou Osa.

Assim, pediram aos cidadãos que protejam estes jovens e que denunciem «toda esta repressão policial e judicial». «Para construir uma sociedade democrática é imprescindível vencer a repressão», concluiu.

Janire ARRONDO
Fonte: Gara