segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Panorama confuso que precisa de clarificações

Um tempestuoso mar de fundo tem-se vindo a agitar nas últimas semanas no panorama político basco, coincidindo - e não precisamente ao acaso - com a recta final do debate interno da esquerda abertzale. As tentativas de o condicionar foram constantes; inicialmente foi através do desprezo ou do menosprezo, depois com meias verdades e finalmente através de intoxicações puras e duras. Uma prática que se itensificou nas últimas semanas com episódios como o da tentativa de envolver a ETA no incidente-montagem do quartel de Leitza (ainda sem explicação oficial quase um mês e meio depois), o das afirmações do ministro Rubalcaba sobre um suposto plano de sequestro a que nenhum partido deu credibilidade, o da falsa atribuição a Arnaldo Otegi de uma carta que não escreveu e o da aceitação por parte de José Luis Rodríguez Zapatero de que o Governo espanhol possui uma «estratégia» oculta que impregna tudo isto.

Todas estas distorções criaram uma grande confusão que dificulta a leitura de qualquer acontecimento, incluindo as detenções dos dois últimos dias e as intenções reais dos detidos junto a um esconderijo no Estado francês e numa estrada com destino a Portugal. Até as fontes oficiais espanholas admitiam ontem a sua dificuldade em precisar a situação com exactidão e, em vez das habituais especulações que normalmente se sucedem a estas detenções, preferiram destacar desta vez que o explosivo de Zamora não estava preparado para explodir.

Feita esta ressalva, também não convém desdenhar a situação ou assumir uma atitude de resignação perante estratégias governamentais que não parecem ter outro propósito senão o da provocação. Um cenário tão confuso faz com que as clarificações sejam convenientes, e não só por parte da esquerda abertzale, que enfrenta a recta final do seu debate, mas também dos restantes agentes bascos e do próprio Executivo espanhol. Todos podem fazer alguma coisa para que se concretize essa figura de retórica, tão usada em processos de resolução de conflitos, segundo a qual a escuridão é sempre mais cerrada no momento imediatamente anterior ao amanhecer.
Fonte: Gara