quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Confrontado com as ameaças de morte ao Bildu, o PSE olha para o lado

O PSE é o único grupo parlamentar que emendou uma proposta do EA para denunciar as ameaças de morte sofridas nos últimos meses por três eleitos do Bildu.

O assunto será tratado no plenário desta quinta-feira do Parlamento de Gasteiz, sendo que o PSE pretende diluir a denúncia directa destas ameaças numa condenação geral na qual ainda envolve a ETA, organização que não tem nada a ver com esta questão.

Em Julho último, o autarca de Lasarte-Oria, Pablo Barrio, e a autarca de Andoain, Ane Carrere, receberam várias cartas em que eram alvo de insultos e de ameaças de morte. As missivas, com remetente falso de Gipuzkoa, provinham realmente de Madrid. Nos escritos, ambos os regedores eram qualificados como «alimárias cheias de ódio que é preciso exterminar» e «predador que ameaça a vida dos demais», e neles anunciava-se a sua eliminação próxima.

Uma carta similar chegou à Câmara Municipal de Azpeitia, neste caso ameaçando Iñaki Errazkin, ex-autarca e actual chefe de gabinete do deputado geral de Gipuzkoa.

Ao ter conhecimento destas missivas, Juanjo Agirrezabala, parlamentar do EA, partido integrante do Bildu, considerou «imprescindível» que o Parlamento de Gasteiz «denunciasse estes factos, manifestasse a sua solidariedade aos ameaçados e expressasse publicamente uma mensagem clara contra qualquer ameaça e perseguição».

EA versus PSE
Na proposta que será debatida no plenário de quinta-feira, o EA defende que a Câmara autonómica se solidarize expressamente com os cargos institucionais afectados, com nomes e apelidos, e que «denuncie e refute» as ameaças de morte por eles recebidas.
Solicita ainda ao Parlamento de Gasteiz que peça «ao Departamento do Interior e à Justiça que tomem as medidas necessárias para identificar e julgar o autor ou autores das ditas ameaças».

Por último, a proposta subscrita por Juanjo Agirrezabala «solicita o desaparecimento de todo o tipo de ameaças, pressões, perseguições, detenções e torturas realizadas em função de actividades ou ideologia política».

Confrontado com isto, o PSE apresentou na quinta-feira passada uma emenda à totalidade da proposta do EA na qual evita fazer qualquer referência directa às vítimas destas ameaças e não menciona a coligação à qual pertencem. Pelo contrário, menciona expressamente a ETA, o que pode dar a entender que esta organização tenha estado de alguma forma relacionada com as ameaças referidas.

Na sua emenda o PSE propõe então o seguinte texto: «O Parlamento Basco condena energicamente qualquer tipo de ameaça às pessoas que ainda possa ocorrer no seio da sociedade basca». A esta declaração de teor genérico acrescenta, sem qualquer de sinal de pontuação que estabeleça uma separação: «E [o Parlamento] manifesta a sua esperança de que o fim da acção terrorista da ETA, pela firmeza do Estado de Direito, seja acompanhado por um avanço substancial na nossa convivência democrática».

Tendo em conta o discurso geral que PSE e PP mantêm sobre vítimas e verdugos, na emenda à totalidade da proposta nenhuma das vítima das ameaças surge identificada, nem se especifica ou qualifica o autor ou autores das mesmas.

«Vamos fazê-los desaparecer»
Nas cartas ameaçadoras recebidas pelos cargos institucionais do Bildu, o seu autor ou autores afirmam textualmente que «a dada altura havemos de vos fazer sair das poltronas com que depararam e vamos fazê-los desaparecer», e acrescenta-se que os dirigentes abertzales hão-de morrer «como espanhóis em companhia do nosso asco e desprezo».

Juntamente com outro tipo de desconsiderações, nas cartas diz-se que os ameaçados «não são pessoas» e «apenas praticam o terrorismo».

Ainda que em todas as respostas dadas pelos próprios visados e pelo Bildu se tenha destacado o facto de que este tipo de acções não iria alterar o rumo da sua acção política, os afectados não deixaram de reconhecer que cartas deste cariz geram certa «preocupação» e que, para além disso, causam sofrimento aos seus familiares e pessoas próximas.

Iñaki IRIONDO
Fonte: Gara

«Doble rasero e intento de manipulación» (editorial do Gara)