terça-feira, 31 de março de 2009
Aberri Eguna
Já falta pouco. Como todos os anos, e no Domingo de Páscoa, celebraremos a festa de uma pátria que reclama ser levada em conta. Curioso costume deste nosso povo, o de entremear num mesmo programa festas e reivindicações! A lista destas últimas costuma ser tão comprida que cada Aberri Eguna apresenta um matiz diferente, de acordo com a conjuntura em que se celebra; algo assim como as águas, que adquirem a tonalidade do solo que as sustenta.
Naquele longínquo 1963, a festa saiu dos restaurantes e a ikurriña ondeou nos prados de Itsasu; havia que anunciar ao mundo a existência de um abertzalismo mais combativo e havia que oferecer o cartão de apresentação a muitos outros povos que partilhavam inquietações parecidas. Em 1965, a festa mudou-se para a capital do Velho Reino; havia que reivindicar a capital de um estado que continua ainda em hibernação. O de 1973 honrou a memória de Mendizabal, gudari que acabava de ser assassinado, e o de 1974 contou com a presença de um Leizaola clandestino junto à Casa das Juntas. Os anos imediatamente posteriores à morte do General conheceram uns Aberri Eguna pela autodeterminação; todos os vermelhos bascos, mesmo que se identificassem como espanhóis, pegaram na faixa que reclamava o direito deste povo a decidir. O de 1987 recordou em Gernika o bombardeamento com que se tinha punido essa terra cinquenta anos antes. O de 1993, ano de reconversões selvagens, proclamou na margem esquerda biscainha os direitos da classe trabalhadora.
O que estamos à beira de celebrar será o do ano em que se ganhou ou se perdeu “Granada” (conforme o contador). Nem uma coisa nem a outra. Os espanhóis conquistaram esta praça há já vários séculos e não recuperámos nem um nico de soberania durante os trinta anos em que o PNV exerceu as funções de autarca. Não é a independência da praça que está em jogo, mas quem exercerá as funções de governador. A Católica prometeu não mudar as enáguas até que o pendão do seu Reino ondeasse na torre maior do Alhambra. Neste caso não precisa de se submeter a tão fedorenta promessa. A sua fiel Izaskun Bilbao já se encarregou de colocar o símbolo espanhol na sede parlamentar antes de que a nova parelha*, Don Lope e don Basagoiti, se instalem no salão da alcaidaria. Boabdil olhava do cimo de uma colina para o reino recém-perdido e dizem que chorava. Os “boabdis” jelkides soltam a sua raiva procurando quem culpar pela perda da cadeira. Há sempre um mouro na mouraria em quem espetar o alfanje; neste caso – como era de supor – é a marginalizada esquerda abertzale a que carrega com o sambenito.
Enquanto “Boabdil” exaspera e “os católicos” se regozijam, Irun está à nossa espera. Já cortámos a divisória no Aberri Eguna de 1992 (500 anos depois da conquista de Granada) e no do ano passado. O deste ano confirmará a existência de um povo cada vez mais empenhado em recuperar a soberania roubada. “Os católicos” sempre se consideraram senhores da praça; os “boabdis” cuidaram dela com submissa fidelidade. Cabe-nos a nós, os outros, reagrupados e corajosos, reconquistar o nosso estado.
Jesus VALENCIA
educador social
Fonte: Gara
* parelha