Infelizmente, a realidade que há vários anos vivemos em Nafarroa passou também para a oficialmente denominada Comunidade Autónoma Basca. Agora são dois os parlamentos autonómicos cuja composição foi injustamente alterada por efeito da Lei de Partidos. Injustamente porque não foi a vontade popular que determinou a composição destas câmaras, mas sim um jogo sujo que, além de negar o direito a eleger e a ser eleito de dezenas de milhares de pessoas, distorce toda a organização institucional, ao outorgar aos partidos, sobretudo a alguns, uma representatividade que as urnas não lhes deram.
Qualquer pessoa que se dê ao trabalho de comparar os resultados oficiais com os que são projectados a partir da validação dos votos da esquerda abertzale observará que são sensivelmente diferentes, e que esta diferença gera efeitos decisivos na formação de maiorias. Isto significa, em termos práticos, que o PSOE, o PP e a UpyD são maioria no Parlamento de Gasteiz de maneira ilegítima, não com base nos votos que alcançaram, mas nos embustes que fizeram para deixar a esquerda abertzale fora desta instituição. De qualquer modo, os dados confirmam repetidamente que, quando se apresenta de maneira legal, a esquerda abertzale obtém um número de votos bastante maior que o que alcança quando os seus boletins são considerados nulos, e toda a gente sabe que, se a lista da D3M não tivesse sido ilegalizada, estaríamos agora mesmo a falar de resultados e de uma composição da câmara de Gasteiz totalmente diferentes.
A estas alturas é evidente que a Lei de Partidos beneficia o espanholismo e pretende efectivamente evitar qualquer projecto de construção de Euskal Herria. Do mesmo modo, é óbvio que tem como objectivo arredar das instituições a esquerda mais comprometida, formando parlamentos sem verdadeira oposição. Não escapa à percepção de ninguém a importância de deixar sem representação institucional a única corrente política que aposta na mobilização social para evitar que a crise seja paga pelas e pelos trabalhadores. Salta à vista a intenção de anular o modelo político da esquerda abertzale, assente na complementaridade entre a luta institucional e a acção social.
Oxalá estas eleições levem a uma reflexão profunda e eficaz entre todos os agentes que apostam na soberania do nosso país e numa mudança política com base nos interesses da maioria social. Uma reflexão que assuma que a criminalização das ideias e o jogo sujo são muito mais que medidas contra a esquerda abertzale. Alguns quiseram deixar a esquerda abertzale sozinha nesta batalha e acabam de descobrir que também eles eram destinatários da agressão. Paradoxalmente, é a própria esquerda abertzale que melhor resiste ao embate, possivelmente porque, longe de fugir à realidade, decidiu enfrentá-la e medir forças nas urnas.
Os resultados suscitam a reflexão, a crítica e a autocrítica, mas também a reactivação de uma mudança que é possível, se se enfrentar com determinação e inteligência, sabendo congregar forças e articular a activação de amplos estratos da sociedade.
Fonte: nafarroan.com