quinta-feira, 19 de março de 2009

A mesma desorientação por padrões comuns

Os murros, os empurrões, as posturas forçadas, os berros e as ameaças voltaram a ser prática nos calabouços da Ertzaintza. Sempre com um mesmo propósito: conseguir declarações de culpa e acusações a terceiros.

Cinco dias e cinco noites, tiritando de frio, sem ingerir alimentos, sem dormir, pensando que a sua gente querida está a viver o mesmo inferno, ouvindo até os seus gritos inexistentes. Assim teria passado Manex Castro a estada nos calabouços da Polícia autonómica, durante 120 longas horas. Os polícias dirigidos pelo conselheiro Javier Balza há anos que não recebiam uma denúncia de maus-tratos e tortura, o tempo durante o qual não aplicaram o regime de incomunicação aos seus detidos. No entanto, a relação causa-efeito entre os dois elementos ficou patente no momento em que Castro deixou de estar sujeito a esse regime e relatou, com grande detalhe, o trato infligido pelos seus captores.

Durante esses dois anos em que a Ertzaintza não recebeu qualquer denúncia, Lakua mostrava-se cheio de orgulho e apontava o seu protocolo como exemplo de respeito pelos direitos humanos, mais ainda de cada vez que organismos internacionais embaraçavam o Governo espanhol com a alusão às denúncias de tortura. Nesse mesmo período, o Parlamento de Gasteiz chegou mesmo a exigir a derrogação do regime de incomunicação e o fim da Audiência Nacional espanhola.

Um período de incomunicação que eles mesmos aplicam e um tribunal de excepção que obsequiam com detidos, candidatos a ser presos e identificados para engrossar a “lista negra” de bascos irredentos que as cloacas de um estado policial custodiam. A hipocrisia monopoliza, se é que algum dia deixou de o fazer, a actividade política. E Miren Azkarate nem sequer cora ao exigir não sei o quê a Madrid sobre a investigação de denúncias de tortura, enquanto a sua polícia mantinha “a seu bel-prazer” a primeira pessoa isolada em mais de vinte e quatro meses.

Antes, pelo menos, diziam a verdade. Como são polícias do Estado espanhol, regem-se pelos mesmos padrões.

Oihana LLORENTE
jornalista

Fonte: Gara