Existirá por acaso uma técnica mais eficaz para deslegitimar a luta armada que violar os direitos humanos? E difundi-lo nos meios de comunicação é de uma refinada subtileza. Que perspicácia!
A cultura política dominante no Estado espanhol é, diga-se logo, uma lixeira. Ninguém se pode espantar, tendo em conta que se baseia na mitificação de uma transição que foi como os franquistas quiseram que fosse. A imagem das elites políticas e intelectuais a darem uma medalha de ouro a um ex-ministro franquista por ser um dos pais da Constituição de 1978 simboliza bem esta putrefacção.
Esta cultura do correcto a confrontar o mal, representado pelo independentismo basco e sobretudo pela ETA, reclama para si o monopólio da honestidade, da racionalidade, da justiça e, cúmulo do sarcasmo, do escrupuloso respeito pelos direitos humanos. Com o pescoço ainda dorido de tantos anos a olhar para o lado enquanto os GAL assassinavam, o horror andava e anda confortavelmente instalado nos quartéis e nas esquadras ou reitera os seus embustes persistentes nas eleições, os “bons” lançam a sua maldição contra os hereges malparidos que turvam a convivência. Pouco lhes importa que o Relator da ONU aponte o Estado espanhol com o dedo. São tudo maroscas, ordens da ETA aos seus seguidores para sujar a imagem da maravilhosa democracia espanhola.
Por isso, numa cultura assim ninguém se escandaliza com o facto de que os meios de comunicação dêem a conhecer que o Governo espanhol viola as suas próprias leis e atenta contra os direitos humanos de pessoas encarceradas seguindo uma estratégia “antiterrorista” perfeitamente calculada e planificada. Alguns presos, dizem-nos, são afastados para o Sul da Península, enquanto outros passam a estar mais próximos de Euskal Herria, como prémio pelas suas posições contra a linha da ETA. Alguns meios dão detalhes: são estes e aqueles. Se dentro de poucos dias não derem qualquer passo, voltarão a ser transferidos, afirmam. O Ministério do Interior, esclarecem, pretende assim fomentar o debate, como se se tratasse de uma fundação para apoiar a renovação ideológica da esquerda abertzale, que simpáticos!
Assim, trata-se com crueldade as pessoas presas em nome de certos objectivos políticos, mas nenhum desses órgãos de comunicação concebe que isto tenha alguma coisa a ver com os direitos humanos. Ninguém menciona as implicações disto na vida diária de presas e presos e na dos seus familiares e amigos. Nenhum desses apóstolos da condenação teve uma palavra de denúncia para um estado que brinca com as pessoas como se fossem meras peças de xadrez.
Na verdade, para alguns isto é o cúmulo da inteligência. Como Rubalcaba é esperto!, dizem. Que estratégia mais bem gizada, fazer-lhes a vida impossível e obrigar os seus familiares a viajar milhares de quilómetros para os ver!
Sem dúvida, quem tiver concebido esta genialidade deve ser alguém excepcional. E será, com certeza, um altruísta por vocação. Assim se demonstra a superioridade moral do estado face àqueles que recorrem à violência com fins políticos. Existirá por acaso uma técnica mais eficaz para deslegitimar a luta armada que violar os direitos humanos? E difundi-lo nos meios de comunicação é de uma refinada subtileza. Que perspicácia! Nem Fernando, o Católico, o teria feito melhor.
Floren AOIZ
www.elomendia.com
A cultura política dominante no Estado espanhol é, diga-se logo, uma lixeira. Ninguém se pode espantar, tendo em conta que se baseia na mitificação de uma transição que foi como os franquistas quiseram que fosse. A imagem das elites políticas e intelectuais a darem uma medalha de ouro a um ex-ministro franquista por ser um dos pais da Constituição de 1978 simboliza bem esta putrefacção.
Esta cultura do correcto a confrontar o mal, representado pelo independentismo basco e sobretudo pela ETA, reclama para si o monopólio da honestidade, da racionalidade, da justiça e, cúmulo do sarcasmo, do escrupuloso respeito pelos direitos humanos. Com o pescoço ainda dorido de tantos anos a olhar para o lado enquanto os GAL assassinavam, o horror andava e anda confortavelmente instalado nos quartéis e nas esquadras ou reitera os seus embustes persistentes nas eleições, os “bons” lançam a sua maldição contra os hereges malparidos que turvam a convivência. Pouco lhes importa que o Relator da ONU aponte o Estado espanhol com o dedo. São tudo maroscas, ordens da ETA aos seus seguidores para sujar a imagem da maravilhosa democracia espanhola.
Por isso, numa cultura assim ninguém se escandaliza com o facto de que os meios de comunicação dêem a conhecer que o Governo espanhol viola as suas próprias leis e atenta contra os direitos humanos de pessoas encarceradas seguindo uma estratégia “antiterrorista” perfeitamente calculada e planificada. Alguns presos, dizem-nos, são afastados para o Sul da Península, enquanto outros passam a estar mais próximos de Euskal Herria, como prémio pelas suas posições contra a linha da ETA. Alguns meios dão detalhes: são estes e aqueles. Se dentro de poucos dias não derem qualquer passo, voltarão a ser transferidos, afirmam. O Ministério do Interior, esclarecem, pretende assim fomentar o debate, como se se tratasse de uma fundação para apoiar a renovação ideológica da esquerda abertzale, que simpáticos!
Assim, trata-se com crueldade as pessoas presas em nome de certos objectivos políticos, mas nenhum desses órgãos de comunicação concebe que isto tenha alguma coisa a ver com os direitos humanos. Ninguém menciona as implicações disto na vida diária de presas e presos e na dos seus familiares e amigos. Nenhum desses apóstolos da condenação teve uma palavra de denúncia para um estado que brinca com as pessoas como se fossem meras peças de xadrez.
Na verdade, para alguns isto é o cúmulo da inteligência. Como Rubalcaba é esperto!, dizem. Que estratégia mais bem gizada, fazer-lhes a vida impossível e obrigar os seus familiares a viajar milhares de quilómetros para os ver!
Sem dúvida, quem tiver concebido esta genialidade deve ser alguém excepcional. E será, com certeza, um altruísta por vocação. Assim se demonstra a superioridade moral do estado face àqueles que recorrem à violência com fins políticos. Existirá por acaso uma técnica mais eficaz para deslegitimar a luta armada que violar os direitos humanos? E difundi-lo nos meios de comunicação é de uma refinada subtileza. Que perspicácia! Nem Fernando, o Católico, o teria feito melhor.
Floren AOIZ
www.elomendia.com
Fonte: Gara