Luis Beroiz faleceu no dia 22 de Maio na sequência de uma doença prolongada, mas com a consciência muito tranquila. Para trás fica uma longa luta contra a impunidade policial, que monopolizou os seus últimos anos.
Beroiz nasceu em Agoitz em 1943, e fixou-se em Galdakao. Mas a sua vida mudou, ou melhor, mudaram-lha, no ano de 2002. Há alguns meses, quando apresentou em Iruñea o seu livro Entre ceja y ceja, explicava assim o dilema em que se viu envolto após a detenção do seu filho Andoni: “Quando alguém se apercebe da existência da tortura, tem várias hipóteses: ficar calado como um morto, rezar, ficar a ruminar sozinho o que lhe aconteceu, pedir perdão... ou ainda afugentar os fantasmas e começar a espalhá-lo e divulgá-lo”. “A escolha é fácil”, concluía.
Não pôde assim passar os seus últimos anos a apanhar cogumelos – como dizia no tom irónico e amargo que impregnava os seus textos –, mas dedicou-os à denúncia, à denúncia, à denúncia. Também, meio a sério e meio a brincar, dizia estar à espera que alguém “apresente uma queixa contra mim e me metam na prisão”, mas isso não aconteceu por uma razão óbvia: sabiam que dizia a verdade.
Em qualquer outro lugar, Beroiz teria sido aclamado como um “pai coragem”, mas em Euskal Herria a sua denúncia do caso de Andoni não atingiu foros de escândalo mediático nem sequer no dia em que o Ararteko [Defensor do Povo] admitiu que a acusação que pendia sobre ele era falsa. Para Luis, talvez esse tenha sido um triunfo momentâneo, mas nunca um ponto final: faltavam os outros detidos e sujeitos a incomunicação naquela macro-operação e em muitas outras similares, e faltam todas as vítimas silenciosas da tortura.
Inconfundível
Beroiz recorreu à escrita e acabou por patentear um estilo inconfundível pela sua clareza. Interpelava os responsáveis políticos destes casos (o famoso burukide) e na sua obra vestiu a pele de um torturador. Entre ceja y ceja (Editorial Txalaparta) é uma dessas histórias reais em que a realidade supera a ficção. Como o caso do seu filho, absolvido já em sete processos judiciais em que o magistrado pedia 91 anos de prisão para ele. Aí se narram a passagem pela esquadra, a prisão, as tentativas de lhe atribuir a responsabilidade de uma sabotagem em Galdakao numa noite em que a própria Ertzaintza sabia que ele estava em Zuia, a ameaça de linchamento apôs o 11 de Março, o brutal acidente sofrido por Andoni numa transferência para a Audiência, ou o sinistro sofrido por ele mesmo quando se deslocava para uma visita.
Os seus familiares e amigos choram-no em Galdakao e na sua terra natal, Agoitz. Também os pelotazales com quem passou muitas horas no campo. E sobretudo os jovens indefesos perante polícias e juízes, a quem deu a cara, mesmo correndo o risco de que lha partissem.
R.S.
Beroiz nasceu em Agoitz em 1943, e fixou-se em Galdakao. Mas a sua vida mudou, ou melhor, mudaram-lha, no ano de 2002. Há alguns meses, quando apresentou em Iruñea o seu livro Entre ceja y ceja, explicava assim o dilema em que se viu envolto após a detenção do seu filho Andoni: “Quando alguém se apercebe da existência da tortura, tem várias hipóteses: ficar calado como um morto, rezar, ficar a ruminar sozinho o que lhe aconteceu, pedir perdão... ou ainda afugentar os fantasmas e começar a espalhá-lo e divulgá-lo”. “A escolha é fácil”, concluía.
Não pôde assim passar os seus últimos anos a apanhar cogumelos – como dizia no tom irónico e amargo que impregnava os seus textos –, mas dedicou-os à denúncia, à denúncia, à denúncia. Também, meio a sério e meio a brincar, dizia estar à espera que alguém “apresente uma queixa contra mim e me metam na prisão”, mas isso não aconteceu por uma razão óbvia: sabiam que dizia a verdade.
Em qualquer outro lugar, Beroiz teria sido aclamado como um “pai coragem”, mas em Euskal Herria a sua denúncia do caso de Andoni não atingiu foros de escândalo mediático nem sequer no dia em que o Ararteko [Defensor do Povo] admitiu que a acusação que pendia sobre ele era falsa. Para Luis, talvez esse tenha sido um triunfo momentâneo, mas nunca um ponto final: faltavam os outros detidos e sujeitos a incomunicação naquela macro-operação e em muitas outras similares, e faltam todas as vítimas silenciosas da tortura.
Inconfundível
Beroiz recorreu à escrita e acabou por patentear um estilo inconfundível pela sua clareza. Interpelava os responsáveis políticos destes casos (o famoso burukide) e na sua obra vestiu a pele de um torturador. Entre ceja y ceja (Editorial Txalaparta) é uma dessas histórias reais em que a realidade supera a ficção. Como o caso do seu filho, absolvido já em sete processos judiciais em que o magistrado pedia 91 anos de prisão para ele. Aí se narram a passagem pela esquadra, a prisão, as tentativas de lhe atribuir a responsabilidade de uma sabotagem em Galdakao numa noite em que a própria Ertzaintza sabia que ele estava em Zuia, a ameaça de linchamento apôs o 11 de Março, o brutal acidente sofrido por Andoni numa transferência para a Audiência, ou o sinistro sofrido por ele mesmo quando se deslocava para uma visita.
Os seus familiares e amigos choram-no em Galdakao e na sua terra natal, Agoitz. Também os pelotazales com quem passou muitas horas no campo. E sobretudo os jovens indefesos perante polícias e juízes, a quem deu a cara, mesmo correndo o risco de que lha partissem.
R.S.
Fonte: Gara