terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mandela e os presos bascos

Nelson Mandela foi detido em Agosto de 1962 pela Polícia sul-africana acusado de dirigir o braço armado do Congresso Nacional Africano, Umkhonto we Sizwe. Eram os duros tempos do apartheid e o líder guerrilheiro foi condenado a pena perpétua.

Cumpriu 27 anos de prisão em condições penosas até que a tenacidade do movimento africano acabou por dobrar a obstinação do Governo segregacionista e o presidente De Klerck iniciou a desmontagem do apartheid e libertou Mandela, em 1990.

A partir daí Mandela impulsionou a política de reconciliação, alcançou a Presidência da África do Sul quatro anos mais tarde e foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz.

Também em Euskal Herria há militantes condenados a pena perpétua. Uns por actividades armadas e outros não. Também há presos que cumpriram 27 e mais anos de prisão. E também aqui se impôs uma espécie de apartheid que segrega da vida política uma boa parte da população.

O chefe da Polícia autonómica, Rodolfo Ares, afirmou com uma clareza e desfaçatez incríveis o sentido e fundamento do apartheid que também se manifesta na guerra das fotos. Fê-lo, além disso, em sede parlamentar: «Não nos enredemos em questões legais. Não nos vamos deixar enganar. Quem coloca essas fotografias em pontos visíveis de lugares públicos fá-lo, sem dúvida, com a intenção de homenagear os terroristas».

Não sei se dentro de algum tempo - antes hoje que amanhã - o primeiro-ministro espanhol de turno imitará o exemplo de Frederick De Klerck, romperá os diques do apartheid e porá em liberdade os prisioneiros políticos bascos. Também não sei se algum deles alcançará a Presidência do Governo dos bascos. E menos ainda se o Comité Nobel do Parlamento norueguês lhe concederá o Prémio da Paz. Não é fácil fazer prognósticos, ainda que nesse colectivo haja seguramente pessoas que possam muito bem merecer esses títulos.

Do que estou certo é que Ares e os restantes responsáveis pelo apartheid perderam a guerra das fotos. Mesmo que seja apenas porque não a puderam ganhar.

Talvez um dia possamos ver desfilar pelas ruas de Euskal Herria milhares de pessoas com mais de setecentas fotos de Nelson Mandela. O que é que Ares fará?

Martin GARITANO
jornalista

Fonte: Gara

Amandla Soweto!