segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A realidade navarra do conselheiro Carlos Pérez-Nievas


Quando nasceu o nosso primeiro filho, há oito anos, decidimos levá-lo, com 18 meses, para a Ikastola Argia de Fontellas-Tudela. Essa decisão sustentava-se no facto de acreditarmos que a Ikastola Argia era um centro plural, laico, com bons profissionais, com um modelo educativo progressista e uma oferta linguística - euskara, castelhano e inglês - excepcional.

A Ikastola constitui ainda uma iniciativa social que se organiza como cooperativa de pais e mães e isso contribui para a participação e co-gestão na maioria das decisões e actividades que emanam da própria cooperativa.

A história dos 25 anos da Ikastola Argia foi escrita pelos seus profissionais, os seus alunos e os pais e mães, que ali largaram a pele para conseguir levar por diante este projecto educativo tão entusiasmante.

A Ikastola Argia é uma ikastola localizada na Ribera de Navarra porque assim o quiseram e exigiram os pais e mães que, como nós, apostam neste modelo educativo.
Agora vem o Conselheiro Carlos Pérez-Nievas dizer-nos que os manuais de texto dos nossos filhos e filhas não se ajustam à realidade navarra. Eu percebo que no CDN haja muita pressa em coligar-se com a dupla UPN-PP para não ficar de fora do bolo. Eu percebo que o Conselheiro Carlos Pérez-Nievas queira ser um político profissional, mas o que não aceito como pai da ikastola é que queira fazer-se grande e ganhar dividendos políticos à custa da educação dos meus filhos.

Para o Governo de Navarra, para o poder - para que nos entendamos -, é muito fácil falar da realidade de Navarra, mas em Navarra há muitas realidades. Infelizmente para a generalidade dos navarros e das navarras, desde Franco até ao dia de hoje quiseram-nos impor uma só realidade, a da Espanha, grande e livre.

De que realidade navarra nos fala Pérez-Nievas? Da realidade navarra que nasce com o golpe fascista de 1936? Da navarra republicana e dos seus milhares de assassinados, perseguidos e exilados? Da navarra pós-franquista que jamais votou o seu Estatuto de Autonomia, diga-se “Amejoramiento del Fuero”? Ou talvez os manuais de texto das ikastolas não reflictam a conquista de Navarra por Castela a ferro e fogo, em 1512, ou talvez ali não apareçam acontecimentos conhecidos como a Gamazada, que estão na origem do Paloteado de Monteagudo. É possível que a editorial se tenha esquecido de mostrar a perseguição e queima de bruxas que a Inquisição castelhana executou nas nossas terras desde o Ebro até ao Adour. Eu creio que o Departamento de Educação fica incomodado com essa questão, a da Geografia. Ao Conselheiro, incomoda-o a mesma coisa que a Patxi López, o mapa do tempo, isto é, Euskal Herria. Mas esse tipo de moléstias não se extirpam por via inquisitorial nem mandando a Polícia Foral confiscar livros às ikastolas para que se ajustem à realidade de Navarra. Essas moléstias costumam ser degenerativas e acabam bastante mal, a não ser que se administre ao doente uma alta dose de “pluralismo”. Mas parece que as grandes companhias farmacêuticas deixaram de fabricar esta vacina, pelo seu carácter solidário e gratuito e por não haver dividendos a repartir. Vacine-se, senhor Conselheiro e não brinque à política com a educação dos nossos filhos e filhas.

Santi LORENTE
pai e cooperativista da Ikastola Argia