quarta-feira, 30 de setembro de 2009

«Temos de marcar hora para visitar o túmulo do meu irmão?»


Diego PAREDES MANOT, irmão de Jon Paredes Manot, «Txiki», fuzilado em 1975, entrevistado por Gari MUJIKA

Depois de 34 anos sem impedimento ou obstáculo de qualquer espécie para honrar a memória do seu irmão, um dos cinco militantes «legalmente» fuzilados por ordem do ditador Franco, a Ertzaintza apareceu junto ao túmulo de «Txiki» no domingo. A indignação da família Paredes-Manot perante a «falta de respeito» e «a humilhação» sofrida foi transmitida, de forma veemente, por Diego Paredes ao Gara.

A Audiência Nacional espanhola abateu-se no fim-de-semana, com uma onda de proibições, sobre diversos actos políticos que deveriam decorrer em vários pontos do país. Vetos que chegaram a mesmo a incidir sobre actos em memória das vítimas do franquismo, convocados inicialmente pela Ahaztuak 1936-1977, com o argumento de que se ia «enaltecer o terrorismo» e «humilhar as vítimas do terrorismo».

Ainda sem tempo para acalmar a indignação e ira vividas, o zarauztarra Diego Paredes Manot critica com dureza a Ertzaintza, pela falta de respeito mostrada junto ao túmulo do seu irmão fuzilado e enquanto a sua mãe, com 80 anos, o beijava.


No domingo, como acontece desde há 34 anos, foram até ao cemitério de Zarautz. O que é que se passou quando chegaram?
Sabíamos que a Ahaztuak tinha uma convocatória para as 13h, mas Martxelo Álvarez desconvocou-a. No cemitério, juntaram-se os familiares e alguns amigos de Txiki. Pouco depois de chegarmos, apareceram os polícias com material antidistúrbios, armados até aos dentes.
Falámos com eles, e Martxelo disse-lhes que não se ia fazer nada. Estava lá um txistulari [tocador de txistu/flauta] e as minhas filhas vestidas de dantzari, que, como sempre, iam dançar o aurresku. Então, o comandante da Ertzaintza, muito prepotente, disse que não se podia fazer absolutamente nada. Martxelo disse-lhes que se ia embora, mas que deixasse a família em paz.

Mas não estavam para aí virados.
Disse-lhes que «agora, a família e os quatro amigos de Txiki que aqui estão vão-lhe fazer a homenagem que ele merece, como o fazemos todos os anos».
«Os familiares, até podem ficar. Mas os outros têm de se ir embora», respondeu, muito prepotente. «Como é que os familiares 'até podem ficar'? Temos de marcar hora para poder visitar o túmulo do meu irmão?», disse-lhe, que já estava a ferver. «Pois aqui é que não vão ficar», disse o comandante.
Vinham preparados para carregar. Houve um momento de tensão em que lhe disse que a única coisa que faltava era que nos fuzilasse a nós também. «A esse ponto não vamos chegar», ainda me respondeu.

Também os identificaram, não foi?
Pediram os BI a quem lhes apetecia. Disse-lhe que ou pediam a todos ou a ninguém, e dei-lhes o meu. Também os meus irmãos e o resto da família os tiraram, mas não os quiseram ver.
Identificaram quatro pessoas, e depois, pela piada que tinha, também os carros que desceram do cemitério. Dissemos que, se nem ao menos a família podia estar com os amigos, que nos íamos dali, mas a minha mãe deu alguma luta. «Já nem ao menos me deixam visitar o túmulo do meu filho. Os mortos metem assim tanto medo?», perguntou-lhe. Ficou bastante nervosa.

O auto judicial afirmava que, no caso de fazer, «humilharia as vítimas do terrorismo».
No sei de que vítimas estaria a falar... Mas, à minha mãe, com 80 anos, dizem-lhe quando pode visitar o túmulo do filho!
Sentimo-nos mal. Humilhados, impotentes... a minha mãe a beijar o túmulo de Txiki, e isso não lhes importava a ponta de um corno. Em 34 anos não tivemos nenhum problema, nem nenhuma outra força policial mostrou essa falta de respeito. Olha, até um inspector da Guarda Civil me chegou a dizer que «ao teu irmão, respeito-o, porque era um verdadeiro soldado, embora no lado errado». Mas estes não respeitam nada. Fizeram-me lembrar a Polícia nazi.
Fonte: Gara