segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Alerta do «Gara»: «El País» tenta intoxicar o debate na esquerda «abertzale»*

Tasio (Gara)

O diário espanhol El País tem vindo a publicar nos últimos meses uma série de informações com as quais, para além de justificar a estratégia traçada pelo Ministério espanhol do Interior, procura tergiversar o conteúdo do debate interno da esquerda abertzale. Ontem revelava um suposto texto de debate no seio do Batasuna que não é tal, nem tem autor conhecido, e que é de 2008.

O texto denominado «Gakoa» foi lançado na Internet, em formato «pdf», pelos diários do Grupo Noticias, que nos dias 18 e 19 de Outubro - após a operação em que foram detidos Arnaldo Otegi, Rufi Etxeberria, Rafa Díez e mais sete militantes abertzales - o elegeram como centro das notícias que veicularam a este respeito. Estes periódicos também destacaram o tema como assunto principal das suas primeiras páginas: «Militantes de la izquierda abertzale piden un debate que no esquive a ETA», podia-se ler no domingo no Noticias de Álava, e «'Gakoa' admite que los militantes han asumido la posible derrota de ETA», no cabeçalho do Gipuzkoa, na segunda-feira.

Embora o Grupo Noticias tenha apresentado o texto no âmbito do debate que a esquerda abertzale está a levar a cabo actualmente - o que é falso, como o Gara pôde verificar, pois na terça-feira passada dava a conhecer o conteúdo do documento elaborado pela direcção do Batasuna -, não ignorava o facto de que «es una iniciativa que tiene sus orígenes en el verano de 2008». Não o podia fazer porque o texto que divulgava está datado de Outubro de 2008 (literalmente: «2008ko urrian»). Também não chegava a afirmar que tinha sido um texto posto em debate no Batasuna, mas indicava que o «Gakoa anda circulando entre militantes de la izquierda abertzale con el propósito de abrir en su seno un debate sobre el futuro de esta expresión política». Quanto aos seus «promotores», apenas se dizia que são «un numeroso grupo de militantes con décadas de actividad política, sindical o en el campo de los presos».

A partir deste texto apócrifo, o El País publicou ontem um artigo, assinado pelo seu analista Luis R. Aizpeolea, no qual os autores desconhecidos desse texto passaram a ser «veteranos dirigentes abertzales».

Apesar de beber da mesma fonte que o Grupo Noticias, o El País oculta que o texto está datado de há um ano, mentindo ao destacar que se trata de «un nuevo documento». E insiste nessa versão: «Pero, además, ahora ha surgido en el mismo interior de la izquierda abertzale una iniciativa, denominada Gakoa (clave, en euskera), que exige que se plantee ya el debate sobre la continuidad de la violencia».

A página completava-se com um outro texto de Aizpeolea intitulado «Las fuerzas que se solidarizaron con Otegi rechazan su plan», em alusão ao ELA, ao EA e ao Aralar.
Fonte: Gara

* Os alertas relativos à desinformação propagada por certos órgãos de comunicação social e à tentativa de boicotar as iniciativas da esquerda abertzale com vista a uma solução democrática para o conflito basco têm sido lançados em vários meios de difusão informativa; a título de exemplo, deixamos aqui o artigo «'El País', o ministro, informação, desinformação e Arnaldo Otegi e a sua via política para a paz para a prisão», de Manuel Márquez, em kaosenlared.net

Em Portugal, em dias de grande agitação em Euskal Herria, com a repressão, a violência, a caça às fotos, as ameaças de ilegalização e tudo o mais que a democracia à espanhola serve em doses habituais e requintadas nas Terras Bascas, um canal de TV mostrava em rodapé que o presidente do Governo basco passava a responder aos cidadãos bascos pelo twitter. O bloqueio, por cá, também é giro.