terça-feira, 13 de outubro de 2009

Clinton o basco

Clinton era capaz de se tornar basco. Dizem que o disse na semana passada na Euskal Etxea de San Francisco, onde foi condimentar a campanha de John Garamendi, vice-governador da Califórnia que aspira a engolir o lugar que ficou livre no Congresso dos Estados Unidos. Clinton era capaz de se tornar basco? A este norte-americano de prestígio não lhe passaria pela cabeça tamanha insensatez. Sabe perfeitamente que, sendo basco, ao longo da sua vida seria forçosamente tratado como francês ou como espanhol ou como louco ou mesmo como estrangeiro, mas nunca como basco. Basta perguntar ao jornalista que assinou a reportagem da France Presse sobre Romain Sicard, o ciclista hazpandarra da Orbea, filial da Euskaltel, que ganhou a Volta à França do Futuro e que passará a próxima temporada na primeira equipa.

Escrevia este sagaz repórter: «Paradoxalmente, este basco de 21 anos (...) vai estrear-se no ano que vem ao máximo nível com o maillot de uma formação estrangeira. Assinou em Julho pela equipa basca Euskaltel». Um basco assina por uma formação basca que na realidade é estrangeira. É para o Pulitzer.

É o próprio Clinton que o nomeia. Porque este tipo é muito capaz, é um político no sentido mais espúrio da palavra. Por isso a sua frase, era capaz de tornar basco, precisa de ser entendida no seu contexto e no seu pretexto. E é uma pena, porque este tipo é também um político no sentido mais literal da palavra, muito capaz de poder alterar contextos sem pretextos. Melhor seria se, em vez de frases de pose eleitoral, usasse os seus meios, que os possui, para alterar este contexto, para eliminar os pretextos, para que a nós, bascos, nos deixem ser simplesmente bascos. Mas Clinton não fará isso. Nem se fará basco.

Iñaki LEKUONA
jornalista
Fonte: Gara