Tasio (Gara)
Meios espanhóis sublinharam o facto de Rubalcaba não ter apresentado nenhum elemento objectivo que sustentasse essa tese. O segundo foi a forma positiva como o EA, o ELA e, mesmo que com mais disputas, o Aralar acolheram o documento de debate do Batasuna - que o Ministério do Interior tinha ocultado, face à impossibilidade de o contornar. O realce dado ao texto nos meios estatais deitou também por terra a tese oficial de que «não há nada de novo», exposta neste caso pela porta-voz do Governo de Lakua, Idoia Mendia.
O coordenador do Lokarri, Paúl Ríos, é uma das vozes que confirmaram a existência destas reuniões privadas ou, melhor, secretas. Escreveu logo a 10 de Setembro, no seu blog, que o ministro andava a «explicar a sua estratégia» a jornalistas e a partidos com a intenção de tapar todas as gretas possíveis. Num outro artigo publicado esta terça-feira, Ríos explica que falou com os seus contactos e que a versão transmitida pelo Ministério do Interior sobre as detenções responde ao esquema de obstinação adiantado já nas reuniões de Agosto-Setembro.
Nesses encontros, Rubalcaba estaria a justificar o encarceramento dos dirigentes independentistas com o argumento de que «o que os detidos estavam a preparar não era suficientemente claro nem contundente no que respeita à violência». Para reforçar as suas teses, o Ministério do Interior foi muito selectivo na transmissão de informação aos meios de comunicação relativa aos documentos apreendidos. Resta saber se a Polícia pôs nas mãos do juiz instrutor todo o material que tem à disposição.
Paralelamente, e sempre segundo as fontes de Ríos, Rubalcaba «vendeu» aos partidos a ideia de que «uma declaração do Batasuna que aponte para uma etapa sem violência representa uma ameaça para a estratégia do Governo de não dar qualquer oportunidade ao diálogo sem o abandono prévio da violência». Assim sendo, optou-se directamente pela detenção dos seus impulsores para evitar que fosse sequer apresentada.
Esta tese sobre a linha de actuação do ministro ganha total credibilidade ao coincidir com os discursos de quem a apoiou. O caso mais significativo é o de Jesús Eguiguren, que foi quem preparou o processo de negociação de 2005-2007 em nome do PSOE. O partido trouxe-o para a liça um dia depois das detenções para que defendesse a ideia de que, na verdade, o que os detidos tinham entre mãos «não era nada de definitivo».
Também encaixam plenamente nas informações de Paúl Ríos as interpretações sobre as detenções aparecidas no El País, onde se chegou a publicar que o dinamismo de Otegi na busca de vias de solução representava um estorvo para a estratégia do Governo de acabar com qualquer expectativa.
Ramón SOLA - Iñaki IRIONDO
Notícia completa: Gara
[Na sequência:]
Rubalcaba pressionou alguns partidos bascos antes das detenções, para fechar o caminho a uma solução democrática
O ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, recebeu com intenso mal-estar a resposta dada pelo PNV e o Aralar às detenções de membros da esquerda independentista e a receptividade dos meios abertzales ao texto de debate do Batasuna. É que, segundo o Gara pôde apurar, Rubalcaba tinha pedido à direcção jelkide e a Patxi Zabaleta que secundassem a sua estratégia.
A existência destas reuniões era um segredo já muito conhecido que o ministro do Interior espanhol confirmou no sábado passado, aparentemente de modo não intencional, na Cadena Ser. Foi Alfredo Pérez Rubalcaba que telefonou para a emissora para ganhar posição face à polémica aberta pelas detenções de Arnaldo Otegi e seus companheiros e pela decisão tomada pelo PNV de ir à manifestação que tinha lugar horas depois em Donostia. Neste contexto, Rubalcaba realçou o facto de os jelkides estarem a apoiar uma «estratégia político-militar», e neste ponto deixou escapar que «o PNV o sabe, entre outras coisas, porque eu lhes disse».
O envolvimento jeltzale nessa resposta social deixou Rubalcaba bastante tocado, posto que o ministro anda há já algum tempo empenhado em conseguir que partidos bascos e comunicação social façam ouvidos surdos a qualquer iniciativa renovadora que a esquerda abertzale possa pôr em marcha.
Os «avisos» de Rubalcaba foram na realidade uma tentativa de alinhar tanto os partidos como os meios de difusão, e porventura também outros agentes, numa estratégia assente na negação de qualquer opção de diálogo, com a pretensão de que tal condicionasse a tomada de decisões da esquerda abertzale e lançasse a dúvida sobre a viabilidade de uma aposta nas vias exclusivamente políticas.
Mas os acontecimentos posteriores demonstram que o ministro do Interior não encontrou respostas positivas de todos aqueles com quem se tinha encontrado. Já em Agosto, quando Rubalcaba lançou a ameaça de jamais legalizar a esquerda abertzale e fechar definitivamente essa via, porta-vozes jelkides recordaram-lhe que o «final dialogado» é um conceito presente em todos os pactos anti-ETA, a começar pelo de Ajuria Enea, além do que vem referido na resolução do Congresso de Maio de 2005.
Desde Agosto
A realização destas reuniões foi conhecida já no início de Setembro, pelo que vinham a ter lugar desde Agosto, ou seja, depois de Alfredo Pérez Rubalcaba ter lançado a sua primeira ameaça, na sequência das primeiras especulações sobre movimentos políticos da esquerda abertzale, que incluíam uma data marcada: o Outono.
O Gara pôde confirmar a partir de três fontes distintas que Rubalcaba falou também directamente com Patxi Zabaleta, coordenador do Aralar, para o informar da posição do Governo e solicitar o seu apoio. Neste caso concreto, o ministro terá pedido a Zabaleta que, no caso de a esquerda abertzale iniciar movimentos políticos de peso, o Aralar evitasse fazer qualquer apreciação antes de falar com ele.
Depois destes preparativos, o Governo espanhol deu um salto que ninguém esperava - pelo menos neste momento específico - com a detenção de Arnaldo Otegi, Rafa Díez, Rufi Etxeberria e mais sete representantes da esquerda abertzale, cinco dos quais foram parar à prisão. Rubalcaba esperava que os contactos mantidos servissem de «colchão» para amortecer a resposta, mas escapou-lhe um factor: a determinação da maioria sindical basca, que convocou de modo urgente um acto que acabou por arrastar os partidos e trouxe para as ruas mais de 37 000 pessoas.
A estratégia do cerrar de fileiras de Rubalcaba sofreu ainda mais dois reveses posteriores. O primeiro foi a escassa credibilidade outorgada em geral à tentativa de o ministro ligar Otegi e os seus companheiros a Aitor Elizaran e Oihana San Vicente.
O ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, recebeu com intenso mal-estar a resposta dada pelo PNV e o Aralar às detenções de membros da esquerda independentista e a receptividade dos meios abertzales ao texto de debate do Batasuna. É que, segundo o Gara pôde apurar, Rubalcaba tinha pedido à direcção jelkide e a Patxi Zabaleta que secundassem a sua estratégia.
A existência destas reuniões era um segredo já muito conhecido que o ministro do Interior espanhol confirmou no sábado passado, aparentemente de modo não intencional, na Cadena Ser. Foi Alfredo Pérez Rubalcaba que telefonou para a emissora para ganhar posição face à polémica aberta pelas detenções de Arnaldo Otegi e seus companheiros e pela decisão tomada pelo PNV de ir à manifestação que tinha lugar horas depois em Donostia. Neste contexto, Rubalcaba realçou o facto de os jelkides estarem a apoiar uma «estratégia político-militar», e neste ponto deixou escapar que «o PNV o sabe, entre outras coisas, porque eu lhes disse».
O envolvimento jeltzale nessa resposta social deixou Rubalcaba bastante tocado, posto que o ministro anda há já algum tempo empenhado em conseguir que partidos bascos e comunicação social façam ouvidos surdos a qualquer iniciativa renovadora que a esquerda abertzale possa pôr em marcha.
Os «avisos» de Rubalcaba foram na realidade uma tentativa de alinhar tanto os partidos como os meios de difusão, e porventura também outros agentes, numa estratégia assente na negação de qualquer opção de diálogo, com a pretensão de que tal condicionasse a tomada de decisões da esquerda abertzale e lançasse a dúvida sobre a viabilidade de uma aposta nas vias exclusivamente políticas.
Mas os acontecimentos posteriores demonstram que o ministro do Interior não encontrou respostas positivas de todos aqueles com quem se tinha encontrado. Já em Agosto, quando Rubalcaba lançou a ameaça de jamais legalizar a esquerda abertzale e fechar definitivamente essa via, porta-vozes jelkides recordaram-lhe que o «final dialogado» é um conceito presente em todos os pactos anti-ETA, a começar pelo de Ajuria Enea, além do que vem referido na resolução do Congresso de Maio de 2005.
Desde Agosto
A realização destas reuniões foi conhecida já no início de Setembro, pelo que vinham a ter lugar desde Agosto, ou seja, depois de Alfredo Pérez Rubalcaba ter lançado a sua primeira ameaça, na sequência das primeiras especulações sobre movimentos políticos da esquerda abertzale, que incluíam uma data marcada: o Outono.
O Gara pôde confirmar a partir de três fontes distintas que Rubalcaba falou também directamente com Patxi Zabaleta, coordenador do Aralar, para o informar da posição do Governo e solicitar o seu apoio. Neste caso concreto, o ministro terá pedido a Zabaleta que, no caso de a esquerda abertzale iniciar movimentos políticos de peso, o Aralar evitasse fazer qualquer apreciação antes de falar com ele.
Depois destes preparativos, o Governo espanhol deu um salto que ninguém esperava - pelo menos neste momento específico - com a detenção de Arnaldo Otegi, Rafa Díez, Rufi Etxeberria e mais sete representantes da esquerda abertzale, cinco dos quais foram parar à prisão. Rubalcaba esperava que os contactos mantidos servissem de «colchão» para amortecer a resposta, mas escapou-lhe um factor: a determinação da maioria sindical basca, que convocou de modo urgente um acto que acabou por arrastar os partidos e trouxe para as ruas mais de 37 000 pessoas.
A estratégia do cerrar de fileiras de Rubalcaba sofreu ainda mais dois reveses posteriores. O primeiro foi a escassa credibilidade outorgada em geral à tentativa de o ministro ligar Otegi e os seus companheiros a Aitor Elizaran e Oihana San Vicente.
Meios espanhóis sublinharam o facto de Rubalcaba não ter apresentado nenhum elemento objectivo que sustentasse essa tese. O segundo foi a forma positiva como o EA, o ELA e, mesmo que com mais disputas, o Aralar acolheram o documento de debate do Batasuna - que o Ministério do Interior tinha ocultado, face à impossibilidade de o contornar. O realce dado ao texto nos meios estatais deitou também por terra a tese oficial de que «não há nada de novo», exposta neste caso pela porta-voz do Governo de Lakua, Idoia Mendia.
O coordenador do Lokarri, Paúl Ríos, é uma das vozes que confirmaram a existência destas reuniões privadas ou, melhor, secretas. Escreveu logo a 10 de Setembro, no seu blog, que o ministro andava a «explicar a sua estratégia» a jornalistas e a partidos com a intenção de tapar todas as gretas possíveis. Num outro artigo publicado esta terça-feira, Ríos explica que falou com os seus contactos e que a versão transmitida pelo Ministério do Interior sobre as detenções responde ao esquema de obstinação adiantado já nas reuniões de Agosto-Setembro.
Nesses encontros, Rubalcaba estaria a justificar o encarceramento dos dirigentes independentistas com o argumento de que «o que os detidos estavam a preparar não era suficientemente claro nem contundente no que respeita à violência». Para reforçar as suas teses, o Ministério do Interior foi muito selectivo na transmissão de informação aos meios de comunicação relativa aos documentos apreendidos. Resta saber se a Polícia pôs nas mãos do juiz instrutor todo o material que tem à disposição.
Paralelamente, e sempre segundo as fontes de Ríos, Rubalcaba «vendeu» aos partidos a ideia de que «uma declaração do Batasuna que aponte para uma etapa sem violência representa uma ameaça para a estratégia do Governo de não dar qualquer oportunidade ao diálogo sem o abandono prévio da violência». Assim sendo, optou-se directamente pela detenção dos seus impulsores para evitar que fosse sequer apresentada.
Esta tese sobre a linha de actuação do ministro ganha total credibilidade ao coincidir com os discursos de quem a apoiou. O caso mais significativo é o de Jesús Eguiguren, que foi quem preparou o processo de negociação de 2005-2007 em nome do PSOE. O partido trouxe-o para a liça um dia depois das detenções para que defendesse a ideia de que, na verdade, o que os detidos tinham entre mãos «não era nada de definitivo».
Também encaixam plenamente nas informações de Paúl Ríos as interpretações sobre as detenções aparecidas no El País, onde se chegou a publicar que o dinamismo de Otegi na busca de vias de solução representava um estorvo para a estratégia do Governo de acabar com qualquer expectativa.
Ramón SOLA - Iñaki IRIONDO
Notícia completa: Gara
[Na sequência:]
«O EBB decidiu estar de modo oficial em Donostia para não apresentar fissuras», de R.S.