quinta-feira, 18 de março de 2010

Arturo Campión ou Batzarre?


Leio num manifesto que o NaBai é «o melhor instrumento que o basquismo e a esquerda teve em Nafarroa». A esquerda, não sei, mas o basquismo certamente, porque o conceito nem sequer existia antes de a coligação [NaBai] existir. Ficamos a dever essa contribuição ao Batzarre, onde a certa altura se começaram a sentir dessa forma, acabando por arrastar toda [a coligação] NaBai.

Até então sentíamo-nos navarros e bascos de uma maneira completamente natural, como sempre ocorreu nesta terra, de Axular a Xalbador, passando por Arturo Campión, até chegar aos nossos dias. Mas, depois daquela inovação, começámos a dar voltas à cabeça. Seremos bascos ou basquistas? Haverá alguma diferença entre ambos os termos? Há, e de que maneira…

Para vocês, um habitante de Gaza é palestiniano ou palestinianista? E os habitantes de Temuco são mapuches ou mapuchistas? Em Tinduf, são sarauís ou sarauistas? E em Roma? Italianos ou italianistas? Efectivamente, os termos que aparecem em primeiro lugar referem-se ao povo a que uma pessoa pertence, à nacionalidade, e são os que se utilizam normalmente para designar colectivamente os habitantes de um território. Ao invés, o sufixo «-istas» costuma referir-se a uma inclinação ou a uma profissão, a algo que não somos in se mas que adoptamos nalgum momento da vida. Por exemplo, ser osasunista [adepto do Osasuna] ou escayolista [estucador].

Desta forma, a mim, esta história do basquista soa-me a claque/torcida, a etiqueta, não a identidade. É como se ser-se basco em Nafarroa nos parecesse hoje politicamente incorrecto e precisássemos de um eufemismo. Soa-me também a cientistas que nos vêm estudar, a ONG solidária, não a alguém que viva connosco nas restrições e partilhe o sonho da reconstrução do país.

De facto, basquista é um adjectivo que, em todo o caso, deveria acompanhar algum dos substantivos que procura ocultar: basco ou espanhol. Assim, seria correcto dizer espanhol basquista, ou, ao contrário, basco espanholista, porque denotaria uma inclinação ou simpatia por algo que não se é in se. Ao invés, basco basquista ou espanhol espanholista descartam-se pela redundância, já que o substantivo e o adjectivo indicam a mesma coisa.

Para o NaBai, basquista é adjectivo de quê? De navarros, dirão; somos navarros basquistas. E assim o termo é mais pernicioso ainda, porque a disputa ardilosa entre «navarristas» e «basquistas» transforma a sede da UPN numa réplica grotesca do Castelo de Amaiur, num falso baluarte dos Foros, enquanto nós, os abertzales, somos relegados à categoria de simpatizantes de outro território.

A Navarra basquista, que diferente da Navarra marítima! A nova parece renunciar a si mesma ao optar por algo estranho: ser basquista, aranista, biscainha, como diria o Diario de Navarra. E isto, às portas do quinto centenário da conquista, parece um fraco favor àqueles que trabalham para revelar que a dominação espanhola da nossa terra ocorreu e se mantém vigente através do recurso à violência e de costas voltadas para a vontade popular.

Agora que todo o espectro político navarro se reposiciona, e em prol da clareza das propostas, seria positivo que o NaBai esclarecesse se a sua identidade é a basca ou a basquista. E sempre que falo de ser, de identidade, não me refiro a apelidos, sangue ou registo de nascimento - isso tanto me faz -, refiro-me ao sentimento, às cores da camisola, ao que bate no coração de uma pessoa, àquilo que lhe provoca indignação e a entusiasma, à casa que defende. O que me preocupa é se se sente Navarra ou se começa a sentir-se Espanha, se a memória histórica vai mais além de 1936 e se existe vontade de reconstrução ou de assimilação. Em suma, Arturo Campión ou Batzarre?
-
Sergio LABAYEN
Fonte: nafarroan.com