sexta-feira, 12 de março de 2010

A procuradora de Baiona «não entende nada» e admite que o hospital lhe disse que não havia nenhum cadáver por identificar


A procuradora de Baiona, Anne Kayanakis, foi incapaz de explicar por que razão o corpo de Jon Anza permaneceu na morgue do principal hospital de Toulouse durante onze meses, depois de ter sido supostamente atendido e de ter falecido nesse centro hospitalar, como defende a versão oficial. Admitiu que a investigação falhou e que «não entende nada», mas não se sente desautorizada para investigar agora as causas do falecimento. A procuradora descartou a hipótese lançada por Rubalcaba há tempos.

A procuradora de Baiona, Anne Kayanakis, reconheceu na conferência de imprensa que deu esta tarde que tem «sérias dificuldades» para poder explicar o que se passou com Jon Anza, depois de a Polícia ontem ter avisado os seus familiares que tinham localizado um corpo na morgue do hospital Purpan, em Toulouse, que poderia corresponder ao do militante donostiarra.

Kayanakis, que compareceu junto ao chefe da Polícia Judiciária de Baiona, Patrick Leonard, confirmou que o cadáver pertence a Jon Anza e que este foi encontrado no dia 29 de Abril de 2009 no Boulevard de Estrasburgo em Toulouse, inconsciente e com a cabeça numa jardineira, pelo que um particular alertou os serviços de emergência, que enviaram para o local uma unidade do corpo de bombeiros. Estava em paragem cardio-respiratória e, depois de ser reanimado, foi levado para o hospital de Purpan, onde faleceu no dia 11 de Maio.

Também referiu que na acta que o hospital levantou no dia da sua entrada só estava registado que levava 500 euros em dinheiro, mas não se fazia qualquer alusão aos bilhetes de comboio.

Um funcionário comentou com um polícia amigo
De acordo com o seu relato, o corpo permaneceu no depósito de cadáveres do hospital durante onze meses e foi nestes últimos dias que, de forma «meramente casual», um funcionário do Instituto de Medicina Legal comentou com um polícia seu amigo que havia um cadáver por identificar na morgue. O polícia encontrou entre os seus pertences dois bilhetes de comboio de Baiona para Toulouse, um datado de 18 de Abril e outro, de volta, para o 20 de Abril. Após as devidas verificações e o cotejo de impressões, identificaram Jon Anza, sempre de acordo com a procuradora.

Kayanakis reconheceu que não se sente satisfeita porque a investigação «falhou manifestamente», mas sentiu-se incapaz de explicar porquê. Insistiu na ideia de que, desde que no dia 18 de Maio se iniciou a investigação para esclarecer o desaparecimento de Anza, a Polícia fez «todas as verificações» necessárias para encontrar o ex-preso e garantiu que o seu departamento enviou uma circular a todos os hospitais para que verificassem se havia neles uma pessoa ou um corpo com as características de Anza.

No dia 4 de Junho, a Procuradoria de Baiona recebeu a resposta negativa de vários centros hospitalares, incluindo o de Purpan, em Toulouse.

A procuradora admitiu que a lei obriga os centros hospitalares a comunicar à Polícia num curto prazo de tempo os casos de pessoas por identificar, mas também aqui não pôde esclarecer por que motivo esse procedimento não foi cumprido.

Descarta a versão de Rubalcaba
Apesar do fracasso da investigação, a procuradora disse que não se sente desautorizada para iniciar agora uma nova indagação sobre as causas do falecimento de Jon Anza e que mantém todas as hipóteses em aberto. Descartou expressamente, isso sim, a versão lançada pelo ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, segundo a qual o militante independentista havia fugido pela sua própria vontade com o dinheiro que levava.

Questionada sobre o seu sentimento acerca do que pode ter ocorrido entre os dias 18 e 29 de Abril, quando o donostiarra terá sido encontrado inconsciente na rua, disse não poder dar uma resposta porque «eu também tenho dúvidas». Assegurou que a Polícia continua a investigar o que aconteceu naqueles dias. Quanto à questão de não se ter deixado a família ver o corpo e de não se ter permitido a um médico de confiança estar presente na autópsia, disse que esse é o procedimento habitual.
Fonte: Gara
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Foto: kazeta.info