sábado, 9 de maio de 2009

«Checkpoint Rock. Canciones desde Palestina»: Muguruza reúne as vozes de um país sitiado também culturalmente


Checkpoint Rock. Canciones desde Palestina é um “canto à vida” que o músico irundarra Fermin Muguruza apresentou no dia 30 no encerramento do Festival de Cine y Derechos Humanos de Donostia e com o qual pretende dar voz a um país cosido por fronteiras artificiais e ocupado por um Estado que evita difundir a existência cultural perante o resto do mundo e, por conseguinte, “encarcera” uma identidade musical que emerge por entre os muros de separação.

A morte do poeta nacional palestiniano Mahmoud Darwish a 9 de Agosto do ano passado é o ponto de partida do documentário Checkpoint Rock. Canciones desde Palestina. O decesso deste artista orienta Fermin Muguruza para chegar a diferentes criadores emergentes do país, como o fez Darwish com a sua poesia na carreira destes jovens artistas. Clássicos, rappers e rockeiros misturam-se num país fortemente ocupado pelo Exército israelita e com grandes dificuldades políticas e fronteiriças, o que lhes dificulta ainda mais encarreirar a sua profissão como músicos e, por conseguinte, difundir as suas criações. Checkpoint Rock. Canciones desde Palestina viaja desde “os anúncios publicitários e o néon” de Tel Aviv até aos checkpoints para conhecer os territórios ocupados da Cisjordânia, e acaba em Gaza. Nesse percurso, com a inestimável colaboração de Angel G. Katarain, captam em directo a música de DAM, que foi o primeiro grupo de rap palestiniano, do grupo de rock Khalas, formado por três palestinianos, ou da cantora e actriz Amal Murkus, que dedicou a sua carreira a promover a música e a cultura palestiniana em Israel e no exterior. Safaa Arapiyat, Walla’at, Habib Addeek, Muthana Shaban, Shadi Al-Assi, Sabreen, Palestinian Rapperz e Le Trio Jurban são os nomes dos restantes músicos que protagonizam esta fita, uma diversidade de estilos que possuem um traço em comum: a quase totalidade das suas letras faz referência ao conflito palestiniano. Muguruza mergulhou nessa “luta cultural” que cada vez ganha maior impulso e se vai despindo perante um planeta que pouco ou nada conhece da existência da cultura no país. Este documentário, que encerra o Festival de Cine y Derechos Humanos de Donostia, serve como trampolim para estes artistas poderem expressar perante o mundo o que pensam, como vivem e que futuro desejam.

Documentar a realidade
O músico surgiu na apresentação do filme acompanhado pelo realizador da fita, Javier Corcuera, e cinco músicos que participaram em primeira-mão neste projecto: Kher Fody (Walla’at), Suhell Nafar (DAM), Amal Murkus, Safaa Arapiyat e Habib Addeek. Estes criadores realçaram que “antes da ocupação de 1948 havia muita cultura na nossa terra. A Palestina era um dos lugares centrais no que respeita à música e ao desenvolvimento da cultura do mundo árabe. Hoje em dia, pode ser que o trabalho que fazemos não seja tão profissional, mas há muitas tentativas dos israelitas para evitar que a nossa cultura se desenvolva”. Por isso, afirmaram que tinha sido necessário que um estrangeiro viajasse até à Palestina para “documentar o que vivemos”. “Somos um povo com uma ferida muito grande – disse Amal Murkus. A nossa vida está repleta de misérias, mas amamos a nossa vida, e que alguém acredite na nossa voz e na nossa capacidade enche-nos de felicidade”. Muguruza, por seu lado, afirmou que este trabalho é um “canto à vida, a celebração de um encontro, da troca de sentimentos que sempre pudemos fazer através da música e que agora fazemos também através do cinema”.

Escuridão
Apesar de as notícias da Palestina serem um ingrediente diário dos serviços informativos nas televisões e nas rádios de todos os meios de comunicação, o certo é que não nos chegam dados sobre a saúde da cultura no país. Murkus considera que em tudo o que tem a ver com a cultura palestiniana, “sentimos que há algo de escuro em seu redor; não quero dizer que seja censura, mas há uma escuridão que impede as pessoas de verem o que se passa no país a nível cultural”. Em seu entender, a Palestina conta com diversas realidades e nem todas se mostram ao mundo. “Andamos há 61 anos a fazer cultura, mas isso nunca se mostra, há coisas mais importantes para os ocidentais”, referiu.

Ariane KAMIO

Notícia completa: Gara

Notas: nos parágrafos seguintes aborda-se sobretudo a realidade política palestiniana; o CD com a “banda sonora” do filme encontra-se à venda. Aupa zu! Aupa zuek!


Dokumentalaren trailerra / Trailer do documentário. Fermin Muguruza saiu de Euskal Herria para dar voz à Palestina.