sábado, 9 de maio de 2009

«Se isto tivesse acontecido nos EUA, passava nos telejornais»


A jovem de Berriozar Natalia Jiménez já tinha sido avisada na esquadra que era melhor pensar bem antes de apresentar queixa contra a Polícia Foral. Mas decidiu não deixar passar a agressão que sofreu numa bomba de gasolina, comprovada pelos relatórios médicos. A sua denúncia foi arquivada em poucos dias e agora ficou a saber que é ela a acusada. O vídeo dos acontecimentos, esse, está nas mãos do juiz.

“Se isto tivesse acontecido nos Estados Unidos ou em França, passava nos telejornais”. A frase do edil de Berriozar Fermin Irigoien colocou o dedo na ferida. Mas a bomba de gasolina Discosa não é no Arkansas, mas em Iruñea, e a máquina policial e judicial parece estar mais bem oleada em terras bascas para evitar que este tipo de factos passe para a opinião pública. O vídeo, de facto, está nas mãos do juiz, que determinou que a denúncia de Natalia Jiménez deve ser arquivada por não ser possível identificar nenhum agressor.

Rebobinemos. Madrugada de Quinta-feira Santa. Jiménez regressa de Iruñea a Berriozar e entra na bomba de gasolina com o seu companheiro. Ali, estão dois agentes da Polícia Foral. Aparentemente, ocorre um malentendido, já que um deles pergunta a Natalia: “O quê, meto-te nojo?”. Da troca de palavras passa-se à revista, da revista à agressão, e da agressão à detenção, de acordo com a denúncia. Jiménez acrescenta que na viagem para a esquadra os forales lhe dirigem frases como “Puta batasuna, filha de andaluzes”. Que alguém põe o hino espanhol a tocar no seu telemóvel e comenta: “fico com tusa ao ouvir isto”.

Relatórios médicos no Tribunal
Denúncias como estas são frequentes, mas o mais difícil é conseguirem provas. No entanto, este caso é diferente: o médico que atende a jovem envia o relatório ao tribunal, e depois um outro, passados poucos dias.

Natalia Jiménez diz o nome e os apelidos do agente, uma vez que o conhece da escola. Há testemunhas. E há o vídeo das câmaras da bomba de gasolina. “Do que é que um juiz precisa para mandar abrir uma investigação?”, perguntou Irigoien, para quem o caso evidencia “a impunidade, o ódio a tudo o que é basco e o militarismo” da Unidade Móvel de Intervenção da Polícia Foral. A esquerda abertzale levará o caso ao Município, apresentando uma moção no dia 27 de Maio, e realizará uma concentração no dia 14.

Jiménez acrescentou um outro dado revelador. Assim que saiu da esquadra naquela madrugada, passou primeiro pelo serviço ambulatório e depois dirigiu-se à Polícia Municipal de Iruñea para interpor a denúncia por uma agressão que não compreendia: “Quando lhes disse o nome do foral, mudaram de cara, porque o conheciam. Disseram-me: ‘talvez seja melhor descansares, não há pressa, tens seis meses para apresentar queixa’”. Mas recusou-se, e agora passou de denunciante a denunciada.

Ramón SOLA

Fonte: Gara


Declarações de Natalia Jiménez e de Fermin Irigoien. Fonte: eguzkiplaza.net