quinta-feira, 14 de maio de 2009

Já não são só bascos: o Governo de Zapatero veta uma lista estatal de esquerda


O Governo do PSOE impugna pela primeira vez uma candidatura de âmbito estatal. Trata-se da opção Iniciativa Internacionalista, que quer levar às urnas europeias um programa radicalmente de esquerda, em qual se aceita o direito de autodeterminação e se denuncia a tortura, entre outras coisas. A desculpa utilizada seria a “suspeita” de que a esquerda abertzale poderia vir a apoiá-la, e também o facto de ser liderada pelo dramaturgo Alfonso Sastre.

A Iniciativa Internacionalista é o nome mais recente da lista de impugnações do Estado espanhol. Mas não é um nome qualquer. A decisão supõe um salto qualitativo por várias razões. Para começar, não se trata de uma lista basca, mas de âmbito estatal, na qual o único basco que figura nos postos de destaque é o prestigiado dramaturgo Alfonso Sastre, o cabeça de lista. Seguem-no pessoas conhecidas pela militância em formações de esquerda, como Doris Benegas (Izquierda Castellana) ou Angeles Maestro (Corriente Roja), bem como independentistas de várias nações.

Também é significativo que se persiga a lista pela mera “suspeita” de que a esquerda abertzale possa vir a pedir o voto para ela, como referiu ontem a Magistratura do Estado ao antecipar a impugnação. Foi o Ministério da Justiça que se encarregou disso através de uma nota de imprensa. A Procuradoria avançou pouco depois que iria fazer o mesmo.

Para além disso, o veto vem a ter lugar perante uma instituição como o Parlamento Europeu, depois de que várias instâncias internacionais – especialmente o Relator da ONU – tenham questionado a política de ilegalizações no Estado espanhol.

Sastre: «Isto é completamente disparatado»
Nas suas obras, Alfonso Sastre imaginou e recriou todo o tipo de situações e de excessos do poder, mas a notícia da impugnação supera-o. Em declarações à Europa Press, o veterano autor nascido em Madrid e estabelecido em Hondarribia afirmava que “é completamente disparatado” que se queira vetar a lista por ligação ao Batasuna. “Eu nunca pertenci a nenhuma organização excepto ao Partido Comunista de Espanha (PCE) durante a ditadura de Franco”, recordou.

Sastre, que se definiu como “um votante democrático que vai às urnas”, referiu algo que já tinha avançado no sábado na conferência de imprensa em Donostia: “A minha presença é meramente simbólica e reduz-se a uma contribuição ideológica”. Por isso, acrescentou que “seria injusto que a minha presença na lista prejudicasse os meus companheiros. Ficaria muito triste por eles”, disse Sastre.
Defendeu ainda os objectivos da plataforma, “que é levar à Europa a voz dos que não têm voz, não lutar contra a Europa mas contra a Europa dos negociantes. É um lema antigo da esquerda”, lembrou.

Notícia completa: Gara