É significativo que tenham encenado a tomada de posse de López e o abandono de Ibarretxe como se da conquista de Granada se tratasse.
Estamos a viver a passagem do nacional-catolicismo para o nacional-constitucionalismo, que é, na verdade, um criptonacionalismo espanhol. E agora a defesa da Espanha una, grande e livre faz-se a partir do “não-nacionalismo”. Como afirma Pérez Garzón no seu livro La gestión de la memoria, o nacionalismo espanhol “tem a virtude de se apresentar como se não fosse nacionalista”. Tanto assim é que chamam não-nacionalista ao bloco formado pelo PP e pelo PSOE. Claro que, se falarmos de terminologia, também negam que sejam um bloco. E, claro, nada de frente. O que eles fazem chama-se defesa do pluralismo.
Estamos a viver a passagem do nacional-catolicismo para o nacional-constitucionalismo, que é, na verdade, um criptonacionalismo espanhol. E agora a defesa da Espanha una, grande e livre faz-se a partir do “não-nacionalismo”. Como afirma Pérez Garzón no seu livro La gestión de la memoria, o nacionalismo espanhol “tem a virtude de se apresentar como se não fosse nacionalista”. Tanto assim é que chamam não-nacionalista ao bloco formado pelo PP e pelo PSOE. Claro que, se falarmos de terminologia, também negam que sejam um bloco. E, claro, nada de frente. O que eles fazem chama-se defesa do pluralismo.
Já Joxe Azurmendi o escreveu: “nós, que incessantemente sofremos o sambenito de nacionalistas, suspeitamos que o nosso nacionalismo não é o único que existe no mundo”. As nossas suspeitas têm uma base muito fundamentada, certamente. Nem aquilo a que se chama “conflito basco” nem a evolução histórica desta parte do mundo nos últimos séculos se podem compreender sem se prestar atenção ao nacionalismo espanhol. Este nacionalismo baseado na suposta recuperação da Espanha visigoda foi-se impondo à força em todo o tipo de “reconquistas”, como a dos reinos muçulmanos, e também de outros, como o de Navarra. Chegou depois o império, onde nunca se punha o sol e, mais tarde, quando se derrubaram as lanças da Flandres e vieram os desastres, como o de 1898, as garras do nacionalismo espanhol caíram de novo sobre o Norte de África. E veio outro desastre e novos rios de sangue. E deste espectro nasceu 36, e graças a ele Franco ficou com o poder, e adveio a transição, que preservou acima de tudo a sacrossanta unidade espanhola.
A de López foi, como as anteriores, uma cruzada, uma libertação, como os franquistas chamavam à sua ocupação do território. Uma lança em Gernika. A derrota do infiel, a exclusão do muçulmano e do judeu, a pureza do sangue, a Inquisição, todos os atributos disso que agora definem como não-nacionalismo, reconvertidos na batalha contra o sentimento nacional basco, o euskara, a nossa história e a nossa cultura.
É significativo que tenham encenado a tomada de posse de López e o abandono de Ibarretxe como se da conquista de Granada se tratasse. O obstinado Boabdil-Ibarretxe afasta-se da sua querida Alhambra-Ajuria Enea enquanto López dá início ao seu trabalho de destruição do passado.
Em Granada ainda existe um lugar chamado O Suspiro do Mouro, onde dizem que Boabdil se deteve a contemplar pela última vez a sua amada Granada. Onde está o suspiro de Ibarretxe? Afastar-se-á para sempre, como Boabdil?
Ajuria Enea não é Alhambra. Nem o reino independente de Granada a Comunidade Autónoma Basca. Na verdade, o partido de Ibarretxe foi até ontem o parceiro de eleição do partido de López. E, por incrível que pareça, até no meio desta batalha continuam a trocar carinhos.
E agora chega a cruzada seguinte, a “deslegitimação da violência”. Uma frase que, por certo, estava nos discursos de López e Ibarretxe. Que coincidência!
Floren AOIZ
Fonte: kaosenlared