Horas antes da ciclogénese explosiva, chegavam a Donostia ventos mais agradáveis, ares de mudança que crescem pouco a pouco, sendo que a única coisa que pretendem derrubar são esquemas anquilosados. O acto de apresentação mostrou que a Independentistak não procura ser um ciclone repentino para arrasar tudo e depois se perder, mas antes um sopro contínuo capaz de gerar um outro ciclo, de trazer um outro cenário.
As metáforas climatológicas eram forçosas no meio dos grupos que se formaram antes do acto. «Ciclogénese independentista», sugeriam alguns participantes aos jornalistas como possível parangona. «Tormenta política», ironizava outro dos ali reunidos em função da expectativa mediática da véspera. Nada disso. Brincadeiras à parte, a rede Independentistak é neste momento como um sussurro que, isso sim, aspira a crescer em intensidade e força a pouco a pouco.
A julgar pelas mensagens lançadas no sábado, está claro que não se trata de uma brisa suave que se limita a refrescar de forma passageira o acalorado ambiente basco, mas também não aspira a ser um vendaval capaz de levar tudo pela frente e que depois se dispersa sem resultados práticos. Pelo contrário, salienta que nasce para conquistar vontades pouco a pouco, e que vem para ficar.
A noção de que as pressas não são boas conselheiras ficou clara na própria concepção do acto. Não houve perguntas, de forma a dar destaque ao conteúdo da iniciativa: o manifesto «Ari gara», por um lado, e a explicação dos objectivos e dos procedimentos que a rede utilizará, por outro. Ouviram-se, lado a lado, as três línguas usadas no país -euskara, castelhano e francês - para que ninguém se sentisse à margem. E reiterou-se a noção de que a iniciativa não se encontra encerrada, nem pouco mais ou menos, antes em construção e aberta a todo tipo de contribuições, pelas vias clássicas ou através das tecnologias modernas.
Solene, mas original
Por isso, a apresentação teve forçosamente uma certa «solenidade», como admitiram os seus promotores. De facto, todos chegaram com grande pontualidade, de tal forma que o facto de o parque do Palácio de Miramar se encontrar fechado a sete chaves pelas inclemências do temporal não implicou qualquer atraso. Já dentro do palácio, um cenário muito sóbrio, com uma palavra apenas no atril: «Independentistak».
Mas a solenidade não era sinónimo de irrelevância, neste caso. Rapidamente começaram as surpresas. Num dia em que meios de comunicação como o Diario de Navarra vaticinavam que se ia apresentar «a nova franquia eleitoral dos batasunos», o manifesto deixou claro que a Independentistak é uma coisa bem distinta, «fora do jogo dos partidos e da competição eleitoral». Os que ali foram unicamente para fazer a chamada dos políticos presentes também depararam com algo inesperado, já que a maioria dos congregados provém de outros âmbitos. E os que tinham antecipado que se tratava de uma iniciativa monocromática encontraram na lista de promotores nomes e trajectórias de todo o tipo, desde a do escritor Joan Mari Irigoien à do professor Mario Zubiaga, da do histórico da esquerda abertzale Tasio Erkizia à dos deputados do NaBai Paula Kasares e Maiorga Ramírez, da de Txillardegi à de Sabin Intxaurraga, do surfista Kepa Acero à bertsolari Onintza Enbeitia, do ex-presidente do CES Antxon Lafont aos sindicalistas Paul Nicholson ou Unzalu Salterain, de Pirritx eta Porrotx aos sacerdotes Félix Placer e Ciriaco Molinuevo. E assim por diante até perfazer os 139 signatários, a maior parte dos quais não precisa de apresentação e que partilham fundamentalmente o facto de serem independentistas: Nekane Alzelai, Hafid Amahazian, Battita Ameztoi, Floren Aoiz, Miren Aranguren, Ana Arbulu, César Arrondo, Óscar Bañuelos, Patxi Biskert, Joseba Beramendi Exprai, Eneko Compains, Pello Esarte, Rufi Etxeberria, Gabirel Ezkurdia, Aratz Gallastegi, Xabier Isasi, Nekane Jurado, Ramón Labayen, Juanjo Martínez Leunda, Laura Mintegi, Gabi Mouesca, Fredi Paia, Iñaki Regil, Arritxu Santamaría, Dani Saralegi, Toni Strubell, Martxel Toledo, Maite Ubiria, Jesús Valencia, Walter Wendelin, Xabier Zubizarreta...
Todos eles já estão a soprar para trazer um novo enquadramento no qual a independência seja possível. O vento novo corre também pelas frestas abertas da Internet. Na página independentistak.net podia ler-se a notícia da apresentação pouco depois de se ter levado a cabo, chegavam depois as primeiras adesões ao manifesto «Ari gara» e, à tarde, já se contavam às centenas os fans que tinham aderido através da rede social Facebook. Para o Aberri Eguna, dentro de cinco domingos, ninguém duvida de que serão muitos milhares num país em que a cota de independentistas se situa por cima dos 30% em todas as sondagens desde há vários anos. Matéria-prima suficiente para começar a construir uma outra realidade com paciência e determinação, longe das pressas e da falta de bases sólidas que, segundo um perito como Brian Currin, foi letal em processos anteriores.
Ramón SOLA
Fonte: Gara
As metáforas climatológicas eram forçosas no meio dos grupos que se formaram antes do acto. «Ciclogénese independentista», sugeriam alguns participantes aos jornalistas como possível parangona. «Tormenta política», ironizava outro dos ali reunidos em função da expectativa mediática da véspera. Nada disso. Brincadeiras à parte, a rede Independentistak é neste momento como um sussurro que, isso sim, aspira a crescer em intensidade e força a pouco a pouco.
A julgar pelas mensagens lançadas no sábado, está claro que não se trata de uma brisa suave que se limita a refrescar de forma passageira o acalorado ambiente basco, mas também não aspira a ser um vendaval capaz de levar tudo pela frente e que depois se dispersa sem resultados práticos. Pelo contrário, salienta que nasce para conquistar vontades pouco a pouco, e que vem para ficar.
A noção de que as pressas não são boas conselheiras ficou clara na própria concepção do acto. Não houve perguntas, de forma a dar destaque ao conteúdo da iniciativa: o manifesto «Ari gara», por um lado, e a explicação dos objectivos e dos procedimentos que a rede utilizará, por outro. Ouviram-se, lado a lado, as três línguas usadas no país -euskara, castelhano e francês - para que ninguém se sentisse à margem. E reiterou-se a noção de que a iniciativa não se encontra encerrada, nem pouco mais ou menos, antes em construção e aberta a todo tipo de contribuições, pelas vias clássicas ou através das tecnologias modernas.
Solene, mas original
Por isso, a apresentação teve forçosamente uma certa «solenidade», como admitiram os seus promotores. De facto, todos chegaram com grande pontualidade, de tal forma que o facto de o parque do Palácio de Miramar se encontrar fechado a sete chaves pelas inclemências do temporal não implicou qualquer atraso. Já dentro do palácio, um cenário muito sóbrio, com uma palavra apenas no atril: «Independentistak».
Mas a solenidade não era sinónimo de irrelevância, neste caso. Rapidamente começaram as surpresas. Num dia em que meios de comunicação como o Diario de Navarra vaticinavam que se ia apresentar «a nova franquia eleitoral dos batasunos», o manifesto deixou claro que a Independentistak é uma coisa bem distinta, «fora do jogo dos partidos e da competição eleitoral». Os que ali foram unicamente para fazer a chamada dos políticos presentes também depararam com algo inesperado, já que a maioria dos congregados provém de outros âmbitos. E os que tinham antecipado que se tratava de uma iniciativa monocromática encontraram na lista de promotores nomes e trajectórias de todo o tipo, desde a do escritor Joan Mari Irigoien à do professor Mario Zubiaga, da do histórico da esquerda abertzale Tasio Erkizia à dos deputados do NaBai Paula Kasares e Maiorga Ramírez, da de Txillardegi à de Sabin Intxaurraga, do surfista Kepa Acero à bertsolari Onintza Enbeitia, do ex-presidente do CES Antxon Lafont aos sindicalistas Paul Nicholson ou Unzalu Salterain, de Pirritx eta Porrotx aos sacerdotes Félix Placer e Ciriaco Molinuevo. E assim por diante até perfazer os 139 signatários, a maior parte dos quais não precisa de apresentação e que partilham fundamentalmente o facto de serem independentistas: Nekane Alzelai, Hafid Amahazian, Battita Ameztoi, Floren Aoiz, Miren Aranguren, Ana Arbulu, César Arrondo, Óscar Bañuelos, Patxi Biskert, Joseba Beramendi Exprai, Eneko Compains, Pello Esarte, Rufi Etxeberria, Gabirel Ezkurdia, Aratz Gallastegi, Xabier Isasi, Nekane Jurado, Ramón Labayen, Juanjo Martínez Leunda, Laura Mintegi, Gabi Mouesca, Fredi Paia, Iñaki Regil, Arritxu Santamaría, Dani Saralegi, Toni Strubell, Martxel Toledo, Maite Ubiria, Jesús Valencia, Walter Wendelin, Xabier Zubizarreta...
Todos eles já estão a soprar para trazer um novo enquadramento no qual a independência seja possível. O vento novo corre também pelas frestas abertas da Internet. Na página independentistak.net podia ler-se a notícia da apresentação pouco depois de se ter levado a cabo, chegavam depois as primeiras adesões ao manifesto «Ari gara» e, à tarde, já se contavam às centenas os fans que tinham aderido através da rede social Facebook. Para o Aberri Eguna, dentro de cinco domingos, ninguém duvida de que serão muitos milhares num país em que a cota de independentistas se situa por cima dos 30% em todas as sondagens desde há vários anos. Matéria-prima suficiente para começar a construir uma outra realidade com paciência e determinação, longe das pressas e da falta de bases sólidas que, segundo um perito como Brian Currin, foi letal em processos anteriores.
Ramón SOLA
Fonte: Gara