sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Operação contra 34 jovens independentistas bascos: a dor de algumas famílias em busca de auxílio institucional


O sofrimento padecido pelas mães e os pais dos 34 jovens capturados na macro-operação contra a juventude em Novembro transformou-se em vitalidade. Embora aquilo que os une seja a angústia partilhada, decidiram juntar as suas vozes e ir de porta em porta contar a sua dura experiência. Têm apenas uma única exigência: o auxílio das instituições, de forma a que mais nenhuma família passe pelo mesmo que eles.

Depois de conversar com o Ararteko, com o Município de Donostia, com a Direcção de Atenção às Vítimas de Violência de Género do Executivo de Lakua, com diversos sindicatos e partidos políticos e até com o bispo de Donostia, os familiares dos jovens guipuscoanos detidos em Novembro estiveram ontem na Comissão de Regulamento, Instituições e Governo das Juntas Gerais.

«Conhecemos os nossos filhos e sabemos que não nos estão a mentir», esclareceu, antes de mais, Iñaki Egaña, pai de Eihar, que relatou os momentos duros em que o seu filho lhe confessou o que tinha sofrido durante o período de incomunicação. Egaña disse que as agressões, as vexações, as ameaças e as pressões psicológicas se repetiram com a maioria dos jovens independentistas, mas avisou que nas esquadras da Polícia espanhola e da Guarda Civil existiu uma «especial crueldade» contra as catorze jovens detidas, «pelo mero facto de serem mulheres», denunciou.

Rosi Rubio, mãe de Garazi Rodríguez - uma das mulheres detidas e na prisão -, precisou que, depois de cinco dias sem qualquer notícia da sua filha de 22 anos, encontrou-a do outro lado do vidro da prisão «aliviada por estar lá dentro».

«Nesta sociedade que se gaba da tolerância zero contra a violência contra as mulheres, a minha filha foi vexada por ser mulher», denunciou magoada. «Quem é que permite que isto aconteça?», perguntou.

Confessou estar «cansada» de andar de porta em porta a contar o que aconteceu à sua filha, explicando quais são as consequências do regime de incomunicação e exigiu que sejam tomadas medidas de forma imediata. «Nós não somos políticos, só representamos os nossos filhos e filhas e a nós mesmos», referiu, antes de solicitar o auxílio das instituições para evitar que este tipo de vexações se volte a repetir com quem quer que seja.

Rubio contou, na presença dos representantes nas Juntas do PNV, Hamaikabat, Aralar e Alternatiba - PP e PSE nem sequer se dignaram a assistir -, como a sua filha foi despida na esquadra, enquanto cinco polícias olhavam para ela e um lhe beijava o corpo. «Só a deixavam vestir-se se se desse como culpada, e, por cada delito que dizia ter cometido, só podia vestir uma peça», denunciou.

Motivos ideológicos
«Assim, como é que os nossos filhos não se vão dar como culpados na esquadra?», perguntava ofendida aos representantes nas Juntas, considerando «terríveis e arrepiantes» os testemunhos dos 34 jovens detidos e depois encarcerados.
Apesar do relato dos maus tratos, aquilo que lhes criou maior desassossego, também denunciaram o «verdadeiro linchamento mediático» a que foram submetidos as suas filhas e os seus filhos. Criticaram o facto de, apesar de o processo se encontrar sob segredo de justiça, os meios de comunicação terem vertido todo o tipo de acusações contra os seus filhos. Foram mais longe e afirmaram que o motivo subjacente à detenção dos seus filhos é «ideológico» e que não existem provas incriminatórias contra eles para além das declarações de culpa [forjadas na esquadra].

Oihana LLORENTE
Fonte: Gara