O advogado sul-africano e mediador em conflitos políticos, que no caso de Euskal Herria descreve a sua tarefa como «facilitador» e a si mesmo como «um agente de paz», expôs ontem no Círculo de Belas Artes de Madrid a sua análise sobre a situação política aberta após a publicação da resolução «Zutik Euskal Herria», apresentando a rota dos passos que entende deverem ser dados para colocar a paz sob perspectiva. Uma declaração de vontades para a qual o próprio Currin não foi parco em qualificativos como «importante», «sincera», «responsável», onde se exerceu «uma liderança verdadeira», e defendendo que «há que o reconhecer a nível nacional e internacional, e de forma positiva».
Brian Currin, convidado novamente pela plataforma Lokarri, mas desta vez na capital espanhola, expôs a sua leitura do processo democrático que defende para Euskal Herria perante cerca de 140 pessoas, entre as quais se encontravam analistas políticos dos principais periódicos espanhóis ou políticos como Teo Uriarte e o deputado jeltzale Joseba Agirretxea, entre outros.
«Nunca antes tinham ido tão longe»
Antes mesmo de que lho perguntassem, o advogado sul-africano esclareceu que os qualificativos positivos que enuncia sobre a declaração da esquerda abertzale não derivam do facto de ser uma pessoa optimista, que também é, mas de ser «realista». «Nunca antes a esquerda abertzale tinha ido tão longe. É a primeira vez que se fala assim de irreversibilidade», afirmou.
Dito isto, Brian Currin lançou a questão, a que deu resposta imediata, sobre o porquê da importância que atribui à declaração da semana passada. Primeiro, abordou-a como um processo de dois anos de trabalho duro no seio da esquerda abertzale, recordando que todos os líderes independentistas com os quais manteve contacto estiveram ou se encontram na prisão pela sua actividade política. Dois anos em que salienta «a verdadeira liderança responsável» que exerceram, não isentos de dificuldades, inclusive no seu meio.
«Mas o mais importante é que não se precipitaram, não escolheram um atalho», esclareceu, ao referir que os dois anos de processo interno foram necessários e que se vêem os seus frutos na resolução. Assim, atribuiu uma grande importância à assunção de que o processo democrático deve ser realizado sem qualquer tipo de violência nem ingerência, assumindo de forma «unilateral» também os Princípios Mitchell. Uma aceitação que, na sua perspectiva, deve passar agora a ser bilateral, referindo-se ao Governo espanhol, e multilateral, em referência a todos os agentes implicados no conflito.
«Transformação de conflitos»
Currin afirmou que o fio condutor de qualquer processo bem-sucedido é o facto de «terem convertido em irreversíveis num determinado momento». Mas não por sua decisão, «antes por uma transformação de conflitos». Algo que se traduz no facto de o recurso à violência já não ser uma opção.
E o mediador sul-africano situou nesse contexto a resolução da esquerda abertzale, apontando que foram anunciados novos passos para os meses que aí vêm que podem representar para alguns «as garantias» para restabelecer de novo a confiança, outro elemento básico.
Violência
Mas insistiu que a «transformação de conflitos» deve ser plural, promovida por todas as partes implicadas, para que esse processo de paz chegue e seja bem-sucedido. Foi por isso que disse ser «imprescindível» que o Executivo espanhol responda de forma positiva à declaração. Porque se a primeira coisa a fazer é recuperar a confiança, também considerou necessário que o ambiente não esteja viciado pela violência recíproca. E também chamou violência aos abusos das Forças de Segurança do Estado, às leis de excepção construídas sob premissas securocratas e com o propósito vão de alcançar «uma vitória» através da acção policial.
Para que o avanço do processo se torne irreversível, disse que deve haver um cessar de hostilidades de todas as partes, mas acrescentou que, para que esse caminho se possa ir construindo, agora deve ser o Governo espanhol a responder de forma positiva e a adoptar também uma atitude de «transformação de conflitos».
Foram muitos os que expuseram as suas dúvidas fundamentadas a este respeito, citando a repressão, a tortura, a Lei de Partidos..., mas Currin, dando-lhes razão, mostrou-se optimista.
Gari MUJIKA
O Friendship do Parlamento Europeu retoma a iniciativa
O Basque Friendship Group retoma os seus trabalhos nesta nova legislatura do Parlamento Europeu. Criado em 2004 por eurodeputados que «desejam apoiar o processo de paz em Euskal Herria», agora, após a renovação da Câmara, volta a constituir-se.
Os deputados Tatjana Îdanoka (PCTVL, da Letónia), Oriol Junqueras (ERC) e Bairbre de Brún (Sinn Féin) vão apresentar hoje na sede do Parlamento em Bruxelas aos novos membros do grupo as suas iniciativas «em prol de uma resolução pacífica do conflito de Euskal Herria na União Europeia».
Entretanto, a executiva do partido flamengo Nieuw-Vlaamse Alliantie (N-VA), integrado na Aliança Livre Europeia, tornou ontem público um comunicado em que «se congratula com a recente evolução política» em Euskal Herria e, em concreto, com o manifesto «Zutik Euskal Herria». O seu presidente, Bart De Wever, a secretária-geral e eurodeputada, Frieda Brepoels, e Matthias Diependaele, membro do Parlamento da Flandres, destacam a unilateralidade da decisão da esquerda abertzale e afirmam que «o Governo espanhol tem agora a oportunidade de tomar as medidas necessárias para reconstruir a confiança e preparar o caminho em direcção a um futuro sem violência». Recordam que o seu partido condenou a actividade armada da ETA e denunciou os abusos do Estado espanhol.
«Zutik Euskal Herria»: uma proposta para fomentar uma mudança real
«A aposta política que a esquerda abertzale tornou pública obrigou todas as sensibilidades políticas de Nafarroa a retratarem-se, deixando claro o nervosismo que a resolução 'Zutik Euskal Herria' provocou nalguns e a esperança noutros». Assim o constataram ontem perante a comunicação social Xanti Kiroga e Txelui Moreno, que deram uma conferência de imprensa em Iruñea para analisar as reacções suscitadas pelas conclusões do debate da esquerda abertzale.
No âmbito de Nafarroa, Kiroga e Moreno analisaram as reacções de três blocos: por um lado, UPN, PP e PSN; por outro, Batzarre e IUN; e, finalmente, o espaço progressista e abertzale. Em relação ao primeiro, «que defende a unidade de Espanha sem permitir que Nafarroa decida livremente», apreciaram «a mesma reacção defensiva que tiveram nos tempos de Lizarra-Garazi ou no último processo de negociação».
«O pacto UPN-PSN e PSE-PP, que nega o direito a decidir, por um lado, e que possibilita a ocupação fraudulenta tanto do Governo de Lakua como do de Navarra, confere à nossa comunidade o nível de questão de Estado e, apesar da blindagem, ou precisamente por isso, as possibilidades de alcançar uma mudança política parecem mais reais que nunca».
Também afirmaram que estes partidos «seguem a linha traçada pelo ministro do Interior» e mostram «pouca capacidade» para avaliar o passo dado pela esquerda abertzale e «pouca abertura de horizontes para encarar o futuro», bem como uma «dependência absoluta» de Madrid. «UPN e PSN vão precisar de tempo para aceitar que a imposição, a negação de direitos, a utilização do poder judicial, a violência policial não são características que um processo democrático deva ter. Têm de aceitar - acrescentaram - que este processo se deve dar na ausência de violência e de ingerência externa, respeitando todos os projectos políticos, incluindo o independentista e a sua possível materialização».
Quanto ao Batzarre e à IUN, aos quais se referiram como «partidos progressistas de tipo espanholista», Kiroga e Moreno salientaram que em ambos «se percebe medo de perder o espaço de representatividade actual», já que «a conjugação do espaço abertzale e progressista de Nafarroa a favor da mudança política e social os deixa fora de jogo».
Por último, consideraram que «o espaço progressista e abertzale de Nafarroa «reconheceu a magnitude e o alcance» da proposta, destacando que, nesta situação, «se avizinham momentos de especial relevância para a consecução da mudança política e social no país».
«É palpável - precisaram - a ansiedade que certos agentes têm em dar por encerradas as fórmulas eleitorais para 2011», mas, «mesmo sendo uma questão importante, não é altura para lançar ultimatos ou fazer uma defesa firme dos interesses partidários, tendo em conta a união das forças de esquerda».
Por isso, desafiaram estes sectores a fazer «um debate em profundidade sobre o futuro de Nafarroa e sobre o modelo de articulação desse espaço».
Iñaki VIGOR
Fonte: Gara
Brian Currin, convidado novamente pela plataforma Lokarri, mas desta vez na capital espanhola, expôs a sua leitura do processo democrático que defende para Euskal Herria perante cerca de 140 pessoas, entre as quais se encontravam analistas políticos dos principais periódicos espanhóis ou políticos como Teo Uriarte e o deputado jeltzale Joseba Agirretxea, entre outros.
«Nunca antes tinham ido tão longe»
Antes mesmo de que lho perguntassem, o advogado sul-africano esclareceu que os qualificativos positivos que enuncia sobre a declaração da esquerda abertzale não derivam do facto de ser uma pessoa optimista, que também é, mas de ser «realista». «Nunca antes a esquerda abertzale tinha ido tão longe. É a primeira vez que se fala assim de irreversibilidade», afirmou.
Dito isto, Brian Currin lançou a questão, a que deu resposta imediata, sobre o porquê da importância que atribui à declaração da semana passada. Primeiro, abordou-a como um processo de dois anos de trabalho duro no seio da esquerda abertzale, recordando que todos os líderes independentistas com os quais manteve contacto estiveram ou se encontram na prisão pela sua actividade política. Dois anos em que salienta «a verdadeira liderança responsável» que exerceram, não isentos de dificuldades, inclusive no seu meio.
«Mas o mais importante é que não se precipitaram, não escolheram um atalho», esclareceu, ao referir que os dois anos de processo interno foram necessários e que se vêem os seus frutos na resolução. Assim, atribuiu uma grande importância à assunção de que o processo democrático deve ser realizado sem qualquer tipo de violência nem ingerência, assumindo de forma «unilateral» também os Princípios Mitchell. Uma aceitação que, na sua perspectiva, deve passar agora a ser bilateral, referindo-se ao Governo espanhol, e multilateral, em referência a todos os agentes implicados no conflito.
«Transformação de conflitos»
Currin afirmou que o fio condutor de qualquer processo bem-sucedido é o facto de «terem convertido em irreversíveis num determinado momento». Mas não por sua decisão, «antes por uma transformação de conflitos». Algo que se traduz no facto de o recurso à violência já não ser uma opção.
E o mediador sul-africano situou nesse contexto a resolução da esquerda abertzale, apontando que foram anunciados novos passos para os meses que aí vêm que podem representar para alguns «as garantias» para restabelecer de novo a confiança, outro elemento básico.
Violência
Mas insistiu que a «transformação de conflitos» deve ser plural, promovida por todas as partes implicadas, para que esse processo de paz chegue e seja bem-sucedido. Foi por isso que disse ser «imprescindível» que o Executivo espanhol responda de forma positiva à declaração. Porque se a primeira coisa a fazer é recuperar a confiança, também considerou necessário que o ambiente não esteja viciado pela violência recíproca. E também chamou violência aos abusos das Forças de Segurança do Estado, às leis de excepção construídas sob premissas securocratas e com o propósito vão de alcançar «uma vitória» através da acção policial.
Para que o avanço do processo se torne irreversível, disse que deve haver um cessar de hostilidades de todas as partes, mas acrescentou que, para que esse caminho se possa ir construindo, agora deve ser o Governo espanhol a responder de forma positiva e a adoptar também uma atitude de «transformação de conflitos».
Foram muitos os que expuseram as suas dúvidas fundamentadas a este respeito, citando a repressão, a tortura, a Lei de Partidos..., mas Currin, dando-lhes razão, mostrou-se optimista.
Gari MUJIKA
O Friendship do Parlamento Europeu retoma a iniciativa
O Basque Friendship Group retoma os seus trabalhos nesta nova legislatura do Parlamento Europeu. Criado em 2004 por eurodeputados que «desejam apoiar o processo de paz em Euskal Herria», agora, após a renovação da Câmara, volta a constituir-se.
Os deputados Tatjana Îdanoka (PCTVL, da Letónia), Oriol Junqueras (ERC) e Bairbre de Brún (Sinn Féin) vão apresentar hoje na sede do Parlamento em Bruxelas aos novos membros do grupo as suas iniciativas «em prol de uma resolução pacífica do conflito de Euskal Herria na União Europeia».
Entretanto, a executiva do partido flamengo Nieuw-Vlaamse Alliantie (N-VA), integrado na Aliança Livre Europeia, tornou ontem público um comunicado em que «se congratula com a recente evolução política» em Euskal Herria e, em concreto, com o manifesto «Zutik Euskal Herria». O seu presidente, Bart De Wever, a secretária-geral e eurodeputada, Frieda Brepoels, e Matthias Diependaele, membro do Parlamento da Flandres, destacam a unilateralidade da decisão da esquerda abertzale e afirmam que «o Governo espanhol tem agora a oportunidade de tomar as medidas necessárias para reconstruir a confiança e preparar o caminho em direcção a um futuro sem violência». Recordam que o seu partido condenou a actividade armada da ETA e denunciou os abusos do Estado espanhol.
«Zutik Euskal Herria»: uma proposta para fomentar uma mudança real
«A aposta política que a esquerda abertzale tornou pública obrigou todas as sensibilidades políticas de Nafarroa a retratarem-se, deixando claro o nervosismo que a resolução 'Zutik Euskal Herria' provocou nalguns e a esperança noutros». Assim o constataram ontem perante a comunicação social Xanti Kiroga e Txelui Moreno, que deram uma conferência de imprensa em Iruñea para analisar as reacções suscitadas pelas conclusões do debate da esquerda abertzale.
No âmbito de Nafarroa, Kiroga e Moreno analisaram as reacções de três blocos: por um lado, UPN, PP e PSN; por outro, Batzarre e IUN; e, finalmente, o espaço progressista e abertzale. Em relação ao primeiro, «que defende a unidade de Espanha sem permitir que Nafarroa decida livremente», apreciaram «a mesma reacção defensiva que tiveram nos tempos de Lizarra-Garazi ou no último processo de negociação».
«O pacto UPN-PSN e PSE-PP, que nega o direito a decidir, por um lado, e que possibilita a ocupação fraudulenta tanto do Governo de Lakua como do de Navarra, confere à nossa comunidade o nível de questão de Estado e, apesar da blindagem, ou precisamente por isso, as possibilidades de alcançar uma mudança política parecem mais reais que nunca».
Também afirmaram que estes partidos «seguem a linha traçada pelo ministro do Interior» e mostram «pouca capacidade» para avaliar o passo dado pela esquerda abertzale e «pouca abertura de horizontes para encarar o futuro», bem como uma «dependência absoluta» de Madrid. «UPN e PSN vão precisar de tempo para aceitar que a imposição, a negação de direitos, a utilização do poder judicial, a violência policial não são características que um processo democrático deva ter. Têm de aceitar - acrescentaram - que este processo se deve dar na ausência de violência e de ingerência externa, respeitando todos os projectos políticos, incluindo o independentista e a sua possível materialização».
Quanto ao Batzarre e à IUN, aos quais se referiram como «partidos progressistas de tipo espanholista», Kiroga e Moreno salientaram que em ambos «se percebe medo de perder o espaço de representatividade actual», já que «a conjugação do espaço abertzale e progressista de Nafarroa a favor da mudança política e social os deixa fora de jogo».
Por último, consideraram que «o espaço progressista e abertzale de Nafarroa «reconheceu a magnitude e o alcance» da proposta, destacando que, nesta situação, «se avizinham momentos de especial relevância para a consecução da mudança política e social no país».
«É palpável - precisaram - a ansiedade que certos agentes têm em dar por encerradas as fórmulas eleitorais para 2011», mas, «mesmo sendo uma questão importante, não é altura para lançar ultimatos ou fazer uma defesa firme dos interesses partidários, tendo em conta a união das forças de esquerda».
Por isso, desafiaram estes sectores a fazer «um debate em profundidade sobre o futuro de Nafarroa e sobre o modelo de articulação desse espaço».
Iñaki VIGOR
Fonte: Gara