quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O autarca de Bilbau homenageia polícias e militares no 30.º aniversário do assassinato de Yolanda González


Passam agora 30 anos desde que a jovem deustuarra Yolanda González Martín, de 19 anos, foi sequestrada e assassinada pelo Batallón Vasco Español, grupo parapolicial que assassinou 27 cidadãos bascos

Cumpriu-se no dia 2 o 30.º aniversário do sequestro e assassinato, em Madrid, da jovem de Deustu (Bilbau) Yolanda González Martín, de 19 anos, às mãos do BVE. O seu único «crime» foi ser basca, tal como dizia a reivindicação do Batallón Vasco Español, grupo parapolicial que durante os seus anos de existência - paralelos aos diferentes governos da UCD - assassinou 27 cidadãos bascos. Polícias espanhóis, guardas civis e agentes secretos estiveram implicados naquele assassinato. Hoje, contudo, Azkuna teve palavras bonitas para polícias e militares. Nenhuma lembrança para Yolanda nem as restantes vítimas bascas, tal como denunciou a esquerda abertzale.

O cadáver de Yolanda González Martín, jovem da Ribeira de Deustu, apareceu na madrugada de 2 de Fevereiro de 1980. Apareceu morta com um disparo na têmpora, em San Martín de Valdeiglesias, uma pequena localidade madrilena. Na véspera tinha sido sequestrada às portas da sua casa em Madrid por uma célula do BVE que, depois de a interrogar, a assassinou com um só tiro por «ser basca», como indicaram na reivindicação. «Por una España grande, libre y única ¡Arriba España!», assim acaba o comunicado da banda parapolicial.

Yolanda González, militante do PST (Partido Socialista de los Trabajadores), vestia no momento do seu assassinato uma T-shirt com os escudos e o nome de Euskal Herria. Para além disso, levava um lauburu (*) pendurado no fio que trazia ao pescoço. González residia na capital espanhola havia um ano. Tinha-se mudado para ali para estudar Electrónica.

Vários membros da Fuerza Nueva (partido que hoje é conhecido pelo nome de Frente Nacional) foram detidos como responsáveis do assassinato de Yolanda. Entre os envolvidos apareceram polícias nacionais, guardas civis e até um ou outro membro da espionagem espanhola, como a imprensa da época relatou. Os autores materiais, Emilio Hellín e Ignacio Abad, apesar das altas penas a que foram condenados e de Hellín se ter evadido por duas vezes, quase não passaram pela prisão. Nunca foram detidos, processados ou encarcerados os autores intelectuais do assassinato de Yolanda.

Esquerda abertzale
A esquerda abertzale criticou duramente Azkuna, autarca de Bilbau, pelo facto de ter escolhido o dia 2 de Fevereiro para «homenagear polícias, guardas civis e militares espanhóis e de, para além do mais, o ter feito num palco semelhante àquele em que, desde Junho de 1937, ano após ano, os franquistas homenageavam o que eles denominavam 'vítimas'. Para estes, é só parabéns, para Yolanda e as restantes vítimas bascas, silêncio e esquecimento», refere-se numa nota.

Entre considerações diversas, a esquerda abertzale referiu que a sociedade basca sabe que o conceito de vítima é muito mais amplo do aquele que, «derivado de interesses políticos muito específicos», Madrid e determinados meios de comunicação procuram impor.

E, depois de recordar que não sofre mais quem goza de mais minutos de televisão e que o sofrimento é múltiplo e partilhado, a esquerda abertzale fez um apelo no sentido de direccionar todos os esforços para a superação de uma situação de «manifesta falta de liberdades democráticas, que gera um amplo sofrimento».
O oposto, diz, leva-nos a continuar a «fomentar a vingança, a verdade a meias, o ódio e a perseguição ideológica, como Azkuna, Ares ou Basagoiti, fonte, esta última, de mais sofrimento e vítimas».

«Euskal Herria não necessita de porta-vozes de discursos vazios que se limitam a justificar o não perpétuo e a violência de Madrid contra uma solução democrática. A sociedade basca exige a todos os agentes políticos e sociais, sem excepção, passos reais que possibilitem a concretização de todos os projectos políticos e cujo único limite seja a vontade popular expressa nas urnas, que possibilitem um cenário de democracia real».

Por último, depois de insistir que a esquerda abertzale caminha nesta direcção, «a de pôr fim, de forma definitiva, ao sofrimento de todos e todas», lançou a questão seguinte: «Para onde vão Azkuna e os demais?».
Fonte: insurgente.org e kaosenlared.net

(*) lauburu: de forma simplista, cruz basca com quatro braços em forma de vírgula.