À enésima desarticulação de uma estrutura da ETA sucede-lhe, de forma indefectível, uma cascata de reacções de satisfação. Voltamos, pois, a ouvir que os militantes são cada vez mais jovens e inexperientes; que o tempo que medeia entre o ingresso na ETA e na prisão se reduz a cada dia que passa; que é assim que se fazem as coisas e não com preços políticos; que os membros dessa organização, como no inferno de Dante, devem perder toda esperança para lá de uma condenação penal que já transformaram em perpétua. Também voltamos a ouvir as palavras de alento e felicitação à Guarda Civil e o júbilo de quem proclama – também pela enésima vez – o isolamento e o repúdio social pelo independentismo basco. E os jornais especializados em contra-insurreição voltarão a encher páginas com novos organigramas, com nomes de guerra e perfis cozinhados nos departamentos mais sinistros dos serviços de espionagem.
Voltarão, pois, por onde estavam acostumados, no afã de animar a sua clientela e tornar a vender um romance que, como os de Marcial Lafuente Estefanía, é uma cópia do anterior e do anterior ao anterior. Quantos comandos ou “complexos” desarticularam? Quantas “cúpulas” desbarataram? Quantos “números um” caíram? Quantos chefes do “aparato militar”, da “logística”, das “finanças”? E, contudo, a realidade, teimosa, apresenta-nos outra imagem. Quarenta anos depois de um grupo de jovens ter pegado em armas em demanda de liberdade, a renovação geracional não se interrompeu nem um instante e, com os altos e baixos próprios desse tipo de organizações, a ETA continua aí, com a sua prática armada, a sua proposta política e uma oferta que alguns de nós cremos sincera, para pôr fim à confrontação mediante as únicas armas que deviam ser efectivas em política: a negociação e o reconhecimento dos direitos de um povo que resiste a ser assimilado até à sua anulação.
Melhor fariam os que andam a repicar sinos se reflectissem sobre tudo isto. Mesmo que seja só para pôr fim a tanto sofrimento. O de todos.
Martin GARITANO
Fonte: Gara