terça-feira, 22 de julho de 2008

O PNV abandona Euskal Herria


O documento público do PNV que o GARA apresenta, e que forma parte do debate estratégico que o EBB está a desenvolver através da campanha «Think Gaur Euskadi» [Pensa Hoje Euskadi], não deixa lugar a dúvidas sobre a sua concepção da nação basca e o seu projecto para este povo. Nesse texto, o PNV abandona o conceito de Euskal Herria, da nação basca e o objectivo de juntar num território soberano os sete herrialdes que o conformam. O marco político em que se situam os jelkides [os do PNV] é “Euskadi”, sinónimo de Araba, Bizkaia e Gipuzkoa. Assim, Nafarroa faz parte dos “arredores” desses territórios bascos e o seu interesse deriva da sua menção no Estatuto de Gernika. Ipar Euskal Herria [País Basco Norte] é uma entidade unida a esses territórios genuinamente bascos só por interesses “transfronteiriços” e vestígios culturais. Toda uma declaração de princípios, um striptease ideológico completo que obrigam a reflectir sobre o sentido dos adjectivos que qualificam esse partido: nacionalista e basco.

Cada qual é livre de situar o desmoronar ideológico do PNV num ponto histórico concreto. Alguns considerarão que é a separação entre Aberri e Comunión o que marca esse devir; outros recordarão a cobardia mostrada durante o franquismo; muitos situarão a traição em Txiberta; e outros verão no “espírito do Arriaga” a certidão de óbito do seu projecto abertzale. Mas muitos outros, entre os quais estão bastantes militantes e simpatizantes jelkides, situarão essa reviravolta em bases puramente regionalistas – e até abertamente espanholistas –, no golpe dado por aqueles que Arzalluz fez subir até à cúpula e que logo o traíram. Aquele golpe acarretou, além de uma mudança nas estruturas do poder interno, uma nova divisão de funções entre partido e governo.

E é que o documento mencionado apenas poderia ter justificação se se tratasse de um documento de governo e falasse de competências. Como documento de partido que é, reflecte a incompetência dos seus dirigentes, que vão a caminho de perder não só os princípios, mas até esse mesmo governo. Medite quem assume os seus vetos a Nafarroa e a Ipar Euskal Herria.
Fonte: Gara