segunda-feira, 28 de julho de 2008

Nas praias de Euskal Herria: «Entre todos, vamos conseguir que os presos regressem a casa vivos»

Centenas de pessoas secundaram as mobilizações convocadas para exigir respeito pelos direitos dos presos políticos bascos. As praias da costa basca testemunharam uma iniciativa popular que se repetiu nos últimos anos, coincidindo com o período estival, na qual se pediu às instituições que “façam algo” para acabar com a dispersão e se exigiu também a libertação dos presos políticos bascos com doenças graves e dos que já cumpriram as suas penas.

Deste modo, e como ressaltaram na concentração realizada em Zarautz, onde tomaram a palavra as porta-vozes da iniciativa Arrate Makazaga e Maixux Altuna, a mobilização dos cidadãos é absolutamente necessária para continuar a “pressionar” as instituições, no sentido de “fazerem cumprir a legalidade”. “Pedimos apenas que se cumpra a lei”, insistiram.
Makazaga pediu também às instituições bascas para abandonarem “as declarações de boas intenções” e para “fazerem algo, finalmente, porque está nas suas mãos acabar com a dispersão”.
Para além disso, apelou à sociedade basca para que, “como até agora” continue a acorrer às mobilizações em defesa dos direitos dos presos, porque, “entre todos, vamos conseguir que regressem a casa, e vivos”.

Tal como em Zarautz, a praia getxoztarra de Ereaga recebeu ao meio-dia uma concentração numerosa – mais de uma centena de pessoas – para exigir o respeito pelos direitos dos presos políticos bascos e a sua repatriação, reivindicação que se podia ler nas faixas e nas bandeirolas que transportavam, acompanhadas por ikurriñas e fotografias dos presos da região de Uribe Kosta.
Para além de se concentrarem em frente ao passeio marítimo, os participantes na mobilização percorreram também a praia a pé, fazendo ouvir as suas exigências e distribuindo panfletos informativos sobre situação crítica do preso Anjel Figueroa. Este natural de Algorta é um dos 14 presos políticos bascos que se encontram gravemente doentes – no seu caso concreto, sofre de epilepsia do lóbulo temporal e esclerose mesial do lado direito. Apesar de a sua doença ser incurável e de o seu estado de saúde se deteriorar na prisão, foi-lhe denegada a aplicação do artigo 92 do Código Penal, que contempla essa possibilidade.
Além disso, durante a marcha exigiram a libertação dos detidos na última operação policial e denunciaram a utilização da tortura por parte das Forças de Segurança do Estado. Cinco dos dez detidos pela Guarda Civil na semana passada – Arkaitz Goikoetxea, Iñigo Gutierrez, Aitor Kotano, Mikel Saratxo e Inge Urrutia – são desta localidade costeira.


«Prisioneiros de guerra»
Também na zona de estacionamento da praia de Ereaga, dois carros com megafones deram a conhecer algo mais sobre a situação em que se encontram os 740 homens e mulheres que compõem o colectivo dos presos políticos bascos, fazendo saber que esses encarcerados são utilizados pelos governos espanhol e francês como “prisioneiros de guerra, com o propósito de dobrar a sua vontade e de os utilizar para fazer chantagem política”.
Segundo referiram, a política penitenciária que se aplica aos presos, ao fazê-los passar por condições de vida extremas, “procura a sua morte”. Entre essas condições extremas, aludiram à escassa assistência médica; aos entraves postos à comunicação, ao estudo ou à prática do desporto; aos espancamentos frequentes ou às situações de forte tensão a que são sujeitos, mas não quiseram deixar de destacar a “crueldade” da política de isolamento. Tal como indicaram, neste momento há 49 presos que sofrem um isolamento total, com os graves implicações consequentes.
Para além disto, assinalaram que apenas 17 presos bascos se encontram encarcerados em prisões de Euskal Herria, o que obriga os familiares e amigos a percorrerem milhares de quilómetros, e que prolongaram a pena a 28 presos políticos. Denunciaram ainda que 169 presos deveriam estar em liberdade condicional, depois de terem cumprido 3/4 da sua condenação.
A maioria dos banhistas que se encontravam junto à praia biscainha acolheu com simpatia a mobilização de protesto, mas também houve algumas pessoas que se negaram a receber a informação que era distribuída.

Também as praias de Bermeo, onde 40 pessoas participaram na marcha, e Muskiz, que contou com a mobilização de 210 moradores, foram cenário de protestos similares. Para além destes, 165 pessoas reivindicaram em Gorliz o respeito pelos direitos dos presos, enquanto em Ea foram 150 as que participaram na concentração, em Sopela, 150, e em Laga, 110. Na concentração de Ondarroa participaram 265 pessoas. Em Hondarribia foram 250 os habitantes que secundaram a mobilização e em Orio, 300. Também nas praias de Hendaia, Donostia, Zumaia, Deba, Mutriku, Getaria, Bakio, Mundaka e Lekeitio houve mobilizações pelos presos, do mesmo modo que na barragem de Garaio, em Araba.

Fonte: Gara