Este é, sem dúvida, o mês das melhores recordações para centenas de milhares de bascos que, ano após ano, têm o privilégio de passar a véspera de San Fermin em Iruñea [Pamplona]. As recordações de celebrações passadas, amizades que ali se fizeram eternas, romances fugazes e para sempre; a sensação de viver a liberdade quase plena num país em que a opressão pode ser asfixiante; os excessos com forma de almoços, grandes refeições em grupo, merendas, jantares e até jantares repetidos!, sempre bem regados; o inenarrável espectáculo das peñas na praça, sem ter em conta o sacrifício de um belo e nobre animal que mereceria melhor fim; a emoção das crianças na presença dos kilikis (1) e dos gigantes... Dizem que o santo moreno – que na verdade só o era por causa do fumo das velas que enegreceram a sua talha – protege com o seu capote quem corre à frente da manada negra e branca. E até as jotas soam bem nesse micromundo que nasce todos os anos com o estouro de um humilde foguete. Esse é o Julho dos nossos gozos.
Mas há mais julhos, agora sombrios, e mais lembranças, que trazem o seu rasto de sofrimento até esta data. Há aquele Julho aziago de 78, em que todas as forças do fascismo se conjugaram para estragar a festa e levaram Germán, sem que hoje, 30 anos passados, ninguém tenha pago por aquilo. E há o de 98, vinte anos depois, em que as mesmas forças encerraram o Egin e a Egin Irratia, e puseram ponto final a 21 anos de bom jornalismo, comprometido e corajoso, de qualidade. E hoje, dez anos depois, na sequência de um estrambólico procedimento judicial próprio de uma república das bananas, com todo o respeito pelos produtores de bananas, os que foram vítimas daquele atropelo pagam exageradas penas de prisão.
Já se vê, Julho é mês de grandes alegrias e também de tristes lembranças. No domingo voltaremos a rir, cantar e dançar em Iruñea, mas, no momento em que estoire o txupinazo, teremos uma lembrança para todos eles. Para as vítimas. Para Patxo, Isidro, Pablo, Teresa, Xabier, Txente, Inma, Andoni, Juan Pablo, Bigarren, Iker... Porque vítimas, somos muitos mais do que eles contabilizam.
Martin GARITANO
Fonte: Gara
(1) Kilikis: Representam o cortejo de edis, e a sua missão é assustar e divertir o povo. Estas seis figuras, de cabeça mais pequena que a dos cabeçudos, e armadas com uns bastões de espuma, perseguem as crianças, que os temem, batendo-lhes carinhosamente. Foram construídos nos começos do século XX. Coletas e Barbas são os mais antigos. Cara de Vinagre é o capitão e o que bate com mais força. Fazem-lhes companhia Napoleão, Verrugas e Batata. (Iruñeko_Udala / Câmara Municipal de Pamplona)