O Ministério do Interior fomenta a utilização das novas tecnologias entre o seu pessoal, mais concretamente o iPod (Tasio_Gara)
O papel dos meios de comunicação como termómetro do estado de saúde das democracias ocidentais tem-se vindo a transformar nas últimas décadas. Essa mudança não se pode entender como um processo biológico, isto é, como a inevitável consequência da irremediável passagem do tempo. Não, o que aconteceu é que “o quarto poder” tem vindo a esfumar-se, até formalmente, para passar a converter-se, no melhor dos casos, numa espécie de oposição não parlamentar ao governo em exercício. A imprensa, em muitos dos estados ocidentais, já nem sequer aspira a criar opinião, mas apenas a ser uma eficiente correia de transmissão da opinião estabelecida pelos agentes mais influentes do poder político-económico; dependendo do sector da cidadania a que se dirige em especial, cada meio de comunicação opta por realizar esse trabalho com etiquetas distintas: uns são “mais moderados”; outros, “politicamente incorrectos”. Mas a maioria tende a alinhar com o partido no poder em questões-chave. Para o comprovar, basta ler de vez em quando os seus editoriais.
As nossas leitoras e os nossos leitores sabem que esta iniciativa jornalística nasceu com uma vocação muito clara. Com a ferida ainda aberta pelo fechamento político-policial do Egin, de que se cumpriram dez anos esta semana, o GARA expressou no seu primeiro número que tinha, e mantém, “a vocação de ser a voz do entendimento de quem, a partir do respeito pela pluralidade da sociedade basca, considera que todos os projectos devem poder defender-se em igualdade de condições, e que o aprofundamento da democracia exige depositar nos cidadãos bascos a última palavra no que respeita à conformação do seu futuro, palavra que deve ser respeitada pelos estados espanhol e francês”.
Como é lógico, esses princípios editoriais chocam com os interesses de quem defende com unhas e dentes o actual statu quo no Estado espanhol, com quem nega a Euskal Herria os seus direitos nacionais e persegue a sua cidadania na medida em que esta avança no caminho do exercício do seu direito à autodeterminação. Por isso, desde o primeiro momento, este projecto informativo tem sido atacado pelo aparelho do Estado, que, à data de hoje, é dirigido pelo Governo do PSOE. A constatação das escutas policiais na nossa sede de Iruñea [Pamplona] não foi uma surpresa, mas também não vamos subtrair importância a uma atitude que, para além de ser ilegal, reflecte a falta de legitimidade que o Estado espanhol tem em Euskal Herria e a falta de escrúpulos com que, desde sempre, encara a sua particular cruzada contra o independentismo basco.
Aprofundar a democracia
Neste contexto político e jornalístico, o GARA continuará a trabalhar para que a democracia se instale realmente em Euskal Herria e para que os direitos de todos os seus cidadãos e de todas as suas cidadãs sejam respeitados, sejam quais forem os projectos políticos que defendam em cada momento. E, enquanto considerarmos que o nosso esforço particular contribui para alcançar esse horizonte, não nos cansaremos de denunciar a violação de direitos que o nosso país sofre por parte dos estados francês e espanhol.
Continuaremos a realizar esse trabalho face a quem nega as evidências, como o fez o Governo espanhol através de uma nota policial, no caso das escutas denunciadas pelo GARA esta semana, e face a quem considera que, nesta batalha, o seu papel é “desinformar”, como ficou patente nos principais cabeçalhos mediáticos de Madrid e Barcelona, ao ocultarem a denúncia da editora deste diário e a breve nota oficial em que, no dia seguinte, a Direcção-Geral da Polícia e da Guarda Civil negava as acusações de espionagem. Os mesmos meios de comunicação que, a 11 de Março de 2004, depois dos trágicos atentados de Madrid, levaram a mentira oficial nas suas primeiras edições, em grandes titulares – talvez os maiores que alguma vez publicaram. Fizeram-no porque consideravam que o seu trabalho era esse: transmitir a “verdade oficial”, em vez de procurar a verdade, e nada mais.
Então, ficou claro que há redacções que têm linha directa tanto para os mais altos gabinetes da polícia e da Guarda Civil como para a Presidência do Governo espanhol, e que através desses fios telefónicos se redige uma boa parte das informações sobre o conflito ou sobre a estratégia do Estado respeitante a Euskal Herria. Também o GARA, segundo foi detectado agora, tem linha directa para essas instâncias, mas tal acontece para nosso prejuízo.
Nestas circunstâncias, quando uma denúncia de escutas policiais num meio de comunicação põe a nu uma vez mais as vergonhas de quem se apresenta a si mesmo como o campeão da democracia em Euskal Herria, parece no mínimo chocante escutar o Governo de Lakua a reclamar justiça, em nome da “sociedade basca”, aos membros do Tribunal Constitucional espanhol e a acusar o Executivo de José Luis Rodríguez Zapatero de mover a seu bel-prazer os fios do Poder Judicial para travar o “autogoverno basco”. Nestes tempos, sobram os eufemismos: nem o Parlamento de Gasteiz nem o Governo de Lakua são sedes da soberania basca. E não o são porque há quem prefira acatar a imposição espanhola a construir a sua própria nação.
As nossas leitoras e os nossos leitores sabem que esta iniciativa jornalística nasceu com uma vocação muito clara. Com a ferida ainda aberta pelo fechamento político-policial do Egin, de que se cumpriram dez anos esta semana, o GARA expressou no seu primeiro número que tinha, e mantém, “a vocação de ser a voz do entendimento de quem, a partir do respeito pela pluralidade da sociedade basca, considera que todos os projectos devem poder defender-se em igualdade de condições, e que o aprofundamento da democracia exige depositar nos cidadãos bascos a última palavra no que respeita à conformação do seu futuro, palavra que deve ser respeitada pelos estados espanhol e francês”.
Como é lógico, esses princípios editoriais chocam com os interesses de quem defende com unhas e dentes o actual statu quo no Estado espanhol, com quem nega a Euskal Herria os seus direitos nacionais e persegue a sua cidadania na medida em que esta avança no caminho do exercício do seu direito à autodeterminação. Por isso, desde o primeiro momento, este projecto informativo tem sido atacado pelo aparelho do Estado, que, à data de hoje, é dirigido pelo Governo do PSOE. A constatação das escutas policiais na nossa sede de Iruñea [Pamplona] não foi uma surpresa, mas também não vamos subtrair importância a uma atitude que, para além de ser ilegal, reflecte a falta de legitimidade que o Estado espanhol tem em Euskal Herria e a falta de escrúpulos com que, desde sempre, encara a sua particular cruzada contra o independentismo basco.
Aprofundar a democracia
Neste contexto político e jornalístico, o GARA continuará a trabalhar para que a democracia se instale realmente em Euskal Herria e para que os direitos de todos os seus cidadãos e de todas as suas cidadãs sejam respeitados, sejam quais forem os projectos políticos que defendam em cada momento. E, enquanto considerarmos que o nosso esforço particular contribui para alcançar esse horizonte, não nos cansaremos de denunciar a violação de direitos que o nosso país sofre por parte dos estados francês e espanhol.
Continuaremos a realizar esse trabalho face a quem nega as evidências, como o fez o Governo espanhol através de uma nota policial, no caso das escutas denunciadas pelo GARA esta semana, e face a quem considera que, nesta batalha, o seu papel é “desinformar”, como ficou patente nos principais cabeçalhos mediáticos de Madrid e Barcelona, ao ocultarem a denúncia da editora deste diário e a breve nota oficial em que, no dia seguinte, a Direcção-Geral da Polícia e da Guarda Civil negava as acusações de espionagem. Os mesmos meios de comunicação que, a 11 de Março de 2004, depois dos trágicos atentados de Madrid, levaram a mentira oficial nas suas primeiras edições, em grandes titulares – talvez os maiores que alguma vez publicaram. Fizeram-no porque consideravam que o seu trabalho era esse: transmitir a “verdade oficial”, em vez de procurar a verdade, e nada mais.
Então, ficou claro que há redacções que têm linha directa tanto para os mais altos gabinetes da polícia e da Guarda Civil como para a Presidência do Governo espanhol, e que através desses fios telefónicos se redige uma boa parte das informações sobre o conflito ou sobre a estratégia do Estado respeitante a Euskal Herria. Também o GARA, segundo foi detectado agora, tem linha directa para essas instâncias, mas tal acontece para nosso prejuízo.
Nestas circunstâncias, quando uma denúncia de escutas policiais num meio de comunicação põe a nu uma vez mais as vergonhas de quem se apresenta a si mesmo como o campeão da democracia em Euskal Herria, parece no mínimo chocante escutar o Governo de Lakua a reclamar justiça, em nome da “sociedade basca”, aos membros do Tribunal Constitucional espanhol e a acusar o Executivo de José Luis Rodríguez Zapatero de mover a seu bel-prazer os fios do Poder Judicial para travar o “autogoverno basco”. Nestes tempos, sobram os eufemismos: nem o Parlamento de Gasteiz nem o Governo de Lakua são sedes da soberania basca. E não o são porque há quem prefira acatar a imposição espanhola a construir a sua própria nação.