sábado, 19 de julho de 2008

Vão tentando, mas não nos conseguimos habituar

Os poderes do Estado espanhol estão acostumados a actuar com total impunidade, inclusive quando se trata de violar a sua própria legalidade. Fizeram-no durante 40 anos de ditadura militar e continuaram a fazê-lo durante os 30 anos da «Monarquia parlamentar». Mais ainda, a actual Constituição espanhola antepõe a função das suas Forças Armadas aos direitos da cidadania: às primeiras dedica o Artigo 8 e à segunda, o Artigo 9. Neste se afirma que “os cidadãos e os poderes públicos estão sujeitos à Constituição e ao resto do ordenamento jurídico”. Estão a ver, a primeira aparição dos “cidadãos” na Carta Magna é para serem advertidos de que rei há só um, porque este, já o deveriam saber, “é inviolável e não está sujeito à responsabilidade” (Artigo 56).

Os “poderes públicos” respeitam a legalidade na medida em que esta não os impeça de alcançar os seus objectivos. Quando sucede o contrário, optam entre mudar a lei e infringi-la descaradamente. E isso foi admitido – inclusive de forma expressa – por generais no topo e até por ministros com pasta.

Por isso, por estarem tão habituados a ser um “estado de desperdício” político e moral, a denúncia que o GARA tornou anteontem pública não implica nenhum terramoto mediático em Madrid, mas antes todo o oposto: oculta-se a notícia na medida do possível, esconde-se atrás do cinismo ou responde-se com a tão engenhosa “julgavam que não nos iríamos atrever?”.

Se o actual Governo espanhol, seguindo os passos de José María Aznar, não ocultou o seu desejo de acabar por qualquer meio com este projecto jornalístico desde que José Luis Rodríguez Zapatero chegou a La Moncloa, alguém duvida neste momento de que o GARA esteja a ser perseguido também de forma ilegal? Provavelmente, ninguém. Mas há certos agentes bascos que, estupidamente, continuam a olhar para outro lado ou que, com o rancor a ofuscar-lhes a objectividade, preferem pensar que “quanto pior para eles, melhor será para nós”. Nisto, deveriam saber, perdemos todos e todas; perderá Euskal Herria, se continua debaixo da bota deste “estado de desperdício”.

Txisko FERNÁNDEZ

Fonte: Gara