sábado, 26 de julho de 2008

Nafarroa: nomes franquistas nas ruas de Burlata


Na sessão plenária de Abril celebrada no Município de Burlata, a UPN, o PSOE e o CDN uniram os seus votos para impedir que as denominações franquistas, que ainda permanecem no arruamento da nossa terra, fossem eliminadas. Trata-se das ruas Pío Loperena, Faustino Garralda, José Mina e Federico Mayo. Além disso, com esta negativa impediu-se a retirada da simbologia fascista e a condição de filho adoptivo ao colaborador do general Mola e destacado membro do regime em Navarra, Francisco Uranga, em cujo palácio de Burlata tiveram lugar algumas das reuniões preparatórias do golpe de estado de Julho de 1936 em Navarra.

Tudo isso foi impedido mediante o voto negativo destes três grupos a uma moção apresentada pelas vereadoras assinantes da esquerda abertzale, que apelava à necessidade da recuperação da memória histórica em Burlata, com a justa lembrança e o justo reconhecimento aos cinco moradores da nossa localidade assassinados pela repressão franquista: Juan Maria Uterga, Isaac Bubea, Sebastián Urrizola, Juan Ilundáin e Candido Jericó. Uma recuperação que consideramos necessária após sete décadas marcadas por um silêncio imposto pelo franquismo e por quem esteve conivente com o pacto de esquecimento decidido durante a transição, que alcançou os sucessivos governos posteriores e que só foi possível alterar graças ao importante movimento social em prol da memória, tal como pudemos comprovar há poucos dias em Sartaguda, um movimento de cujo conteúdo esses tais que combinaram o esquecimento agora querem esvaziar.

A recuperação da memória, em Burlata, implica ineludivelmente a retirada dos nomes e méritos de todas aquelas pessoas que foram escolhidas, não por serem naturais de Burlata e morrerem na frente, como afirmaram os representantes da UPN, mas para simbolizar a suposta homenagem e o afecto que a população lhes deveria prestar pelos serviços prestados à causa da ditadura franquista (não foi por acaso que foram as autoridades franquistas quem o fez). Deste modo, pretendia-se uma exaltação pública dos princípios fascistas, que atentam contra os valores democráticos, especialmente contra os daqueles lutadores pela liberdade, republicanos, socialistas, abertzales, comunistas ou anarquistas que foram vítimas da sua repressão.

É significativo o caso do destacado dirigente da ditadura Federico Mayo. Enquanto a decisão do Tribunal Administrativo de Navarra obriga o Município de Iruñea [Pamplona] a retirar o seu nome das ruas da Txantrea por ser um símbolo do franquismo, a Sessão Plenária do Município de Burlata nega-se a fazê-lo, inibindo-se da sua responsabilidade de os eliminar.

Esta reivindicação conta com mais de duas décadas em Burlata, desde que um acordo em sessão plenária decidiu uma eliminação parcial e incompleta da nomenclatura franquista, retirando exclusivamente os nomes de duas ruas.

Por tudo isto, consideramos a rejeição desta moção como mais um travão para apagar as marcas do fascismo que ainda estão presentes na nossa terra; travões que sempre fomentou essa direita navarra que se sabe herdeira e devedora do franquismo, e que uma vez mais conta com a conivência do PSOE, que em Burlata parece querer continuar com a estratégia do esquecimento e da suspensão da memória que durante três décadas este partido decidiu levar a cabo a todos os níveis. Prisioneiros ainda de tantos anos de falta de sensibilidade para com a memória histórica, e querendo-a esvaziar de conteúdo, deixando-a em parâmetros puramente sentimentais. Memória para a qual não contribuiremos em Burlata enquanto não se fizer justiça relativamente ao reconhecimento aos assassinados pela repressão, e com a eliminação de toda a exaltação franquista. Só assim poderemos olhar para o futuro, desfazendo-nos de ataduras que nos unem a esse passado ainda presente por não se ter cortado com ele em demasiados âmbitos, sabedores de que a verdadeira atadura ao passado é a que produz o temor à mudança.

O grupo municipal Burlatako Abertzale Taldea continuará a trabalhar para que se faça justiça e se preste reconhecimento, para lá da simples homenagem ou da lembrança oca, àqueles que lutaram por uma sociedade livre, justa, igualitária e solidária.

Maite EZKURRA ARANBURU
Amaia DOMEÑO ZARO
Fonte: Nabarralde