quinta-feira, 17 de julho de 2008

Novo caso de espionagem: descobertas escutas policiais ao GARA


O que devia ser uma simples formalidade administrativa com a companhia Telefónica, para solucionar uma transferência de linha de um local de Iruñea [Pamplona] para outro, terminou de um modo certamente desagradável. Com a constatação, uma vez mais, de que neste país se violam direitos básicos com toda a impunidade.
No âmbito das formalidades mencionadas, no dia 14 de Julho recebemos uma chamada da companhia com o intuito de precisar o domicílio para o qual deveriam remeter as facturas a partir do momento da transferência da linha telefónica. Perante a nossa estranheza, pedimos esclarecimentos, e o interlocutor refere-nos, para nosso espanto, dois possíveis domicílios para os quais poderia enviar as futuras facturas: a nossa própria morada (até aí tudo bem), e uma segunda, que correspondia ao... Comando Superior da Polícia Nacional, sito na rua General Chinchilla n.º 3-5, rés-do-chão, de Iruñea. E nem é preciso dizer que a delegação do GARA (Pozo Blanco, 15) e o Comando Superior da Polícia espanhola não se encontram no mesmo edifício, nem sequer na mesma zona da capital navarra.
E o leitor, avisado e atento, perguntar-se-á: como é possível que na companhia Telefónica figurem dois domicílios para a delegação do GARA em Iruñea e que um deles seja o da Polícia Nacional?

Chamadas desviadas

À vista dos dados, e uma vez verificada a situação de que as formalidades seguintes não permitiam conseguir maiores esclarecimentos, sendo que se limitavam a confirmar que, efectivamente, na companhia figurava essa segunda localização – inclusive, facultaram-nos o número de telefone correspondente a esse segundo domicílio, o que permitiu comprovar que, efectivamente, correspondia à Polícia Nacional –, a conclusão é tão óbvia quanto grave: as chamadas que o GARA recebe na sua delegação de Iruñea são desviadas para o Comando Superior da Polícia Nacional e, como tal, escutadas, gravadas ou lá o que seja que fazem com elas.
“Suponho que seja um erro”, foi o único acrescento que arrancámos da nossa interlocução na Telefónica. Mas acredita o leitor que existem semelhantes casualidades neste país?

Denúncia

Na pertinente denúncia ontem apresentada pela empresa editora deste diário no Tribunal de Guarda do Palácio da Justiça de Navarra, refere-se, obviamente, que quem apresenta a mesma não tem conhecimento de que por canal legal algum se tenha decidido a interceptação das suas comunicações.
De tal modo que, depois do exposto e dos diáfanos indícios que motivam a denúncia, a empresa editora do GARA solicita a prática das seguintes diligências de prova:
- que a companhia Telefónica informe o Tribunal acima mencionado se está a praticar alguma intervenção ou escuta telefónica das chamadas recebidas na delegação do periódico em Iruñea ou em qualquer outra linha telefónica da empresa editora do GARA, e a causa ou origem da mesma.
- e que, além disso, se solicite ao Comando Superior da Polícia espanhola que informe o Tribunal se está a praticar alguma escuta telefónica a esse ou a outro número do GARA.

Josu JUARISTI

A Direcção-Geral da Polícia e da Guarda Civil nega ter efectuado escutas ao GARA (precisaram de um dia inteiro para tornar pública uma nota com quatro linhas)

EA: “O Estado espanhol evidencia as suas importantes carências democráticas”

NaBai exige “esclarecimento urgente” das escutas

Fonte: GARA