sábado, 26 de julho de 2008

Tortura: a «rede» continua operacional

Em ocasiões anteriores, mencionei a confissão de López Agudín acerca da discussão, quando ele era um alto cargo do Interior, sobre a actuação policial “com rede”, nas suas próprias palavras, “o eufemismo que se emprega para designar os maus tratos e a tortura”.

Na sequência das recentes detenções, que a máquina repressiva apresentou como um golpe ao «comando Bizkaia», pôde-se ler no meio de comunicação digital «El Confidencial» (www.elconfidencial.com) uma crónica que nos lembra o cinismo com que se continua a encarar a tortura sobre os detidos. Diz o redactor do texto, um tal Aníbal González, que a operação pode ter-se adiantado às datas previstas, para oferecer um presente benemérito a Zapatero nos seus 100 dias de governação. E acrescenta González que este adiantamento “impediu que a Guarda Civil efectuasse as detenções de terça-feira às ordens do juiz Grande-Marlaska”. E que mais? – perguntar-se-á muita gente. De acordo com «El Confidencial», o facto de terem sido ordenadas por Garzón criou problemas à Guarda Civil. Porquê? Porque “Garzón ‘se armou em garante', ao ponto de fazer observar certas recomendações da ONU no que respeita ao tratamento dos detidos por pertencerem a um grupo armado, que, não sendo de cumprimento obrigatório pelos Estados-membros, outorgam aos suspeitos de actividades terroristas umas prerrogativas que tornam realmente difícil a investigação policial na hora de obter informação dos detidos”.

Sim, sim! Isto tem interesse! Pode-se fazer apologia da tortura de maneira mais descarada? As garantias para evitar violações dos direitos humanos são prerrogativas? E por que dificultam a obtenção de informação dos detidos?
A tortura seria impossível sem um contexto legal que a tornasse possível, e desse garantias de impunidade aos torturadores. E seria também impossível sem jornalistas e meios de comunicação que a justificassem. Meios que aplaudem os procedimentos de “investigação” das forças policiais espanholas, muitas vezes denunciados pela Amnistia Internacional e a própria ONU.

Floren AOIZ
http://www.elomendia.com/

Fonte: Gara