quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O meio é a verdadeira mensagem


Só a partir de uma visão complexada do papel dos meios de comunicação e de uma concepção servil que toma as pessoas por súbditos e não por cidadãos se pode entender que todas as cadeias generalistas de um estado emitam em uníssono, todos os anos, uma mensagem real comum que não é mais que um conjunto de lugares comuns e supostas felicitações que, a priori, não têm qualquer interesse informativo. Que praticamente ninguém presta atenção ao que Juan Carlos I diz, junto a um presépio na noite de Natal, sabem-no os actuais responsáveis da EITB e também os partidos que durante anos andaram a pedir à radiotelevisão pública basca que emitisse esse discurso. Porque, também neste caso, o meio é a mensagem. Não importa aquilo que o rei de Espanha disser mas sim que a ETB o transmita «como as restantes televisões espanholas». Da mesma forma que aos anteriores governantes e responsáveis da EITB o que lhes interessava no gesto de não transmitir o discurso era manter a ficção de uma certa insubmissão perante o Estado que não tinha correspondência na sua actuação política e gestão diária.

Mas, por entre as razões que o director-geral da EITB ontem avançou para justificar a decisão da empresa, há uma que merece especial atenção porque já faz parte do rol argumentativo unionista: foram este rei e esta Constituição que «possibilitaram o nosso autogoverno» e os seus organismos, como a EITB, e são eles que «garantem a nossa liberdade e a convivência». Isso não é verdade. Este rei e esta Constituição são fruto de um pacto entre as elites dominantes no franquismo e as que se preparavam para as substituir, pacto que jamais foi ratificado pelos cidadãos bascos. E no que respeita ao autogoverno, o papel do rei e da Constituição foi e é o de limitar e restringir os desejos de soberania da população de Araba, Bizkaia, Gipuzkoa e Nafarroa. Ou será que com uma constituição republicana e que admitisse o direito à autodeterminação teríamos tido menos autogoverno, liberdade e convivência?
Fonte: Gara