sábado, 26 de dezembro de 2009

Tratos de polé ao euskara em Nafarroa: «Gabón-soríon-chúak-isán», treze anos depois


O problema não é que Sanz e Jiménez sejam muito fachos, porque também o são os membros do Euskararen Erakunde Publikoa e acabam de aumentar as ajudas ao euskara. A questão é que se sentem ganhadores, impunes, sem oposição... É uma simples questão de correlação de forças.

O que aparece em cima parece chinês, mas não é. Trata-se da redacção da saudação em euskara incluída na felicitação de natal de Miguel Sanz, e feita chegar aos jornalistas na segunda-feira por erro. Ao que parece, um dos seus ajudantes quis facilitar-lhe a leitura e sugeriu-lhe que a pronunciasse assim: «Gabón-soríon-chuák-isán eta nire desío hoberenák, urté berríra-ko»*. Depois de treze anos e meio no cargo (ou seja, mais de 4900 dias), ainda é preciso explicar a Sanz como se diz uma saudação tão básica na própria língua do seu território. E como, por definição, é evidente que o presidente de uma comunidade de mais de meio milhão de habitantes não pode ser um idiota completo, é preciso concluir que, na verdade, é essa a importância que dá ao euskara: mais ou menos a mesma que ao chinês.

A anedota passa a outro nível se se olhar para o orçamento preparado para 2010. É o último que Miguel Sanz executará de princípio a fim, já que na Primavera de 2011 deixará o cargo. Desta forma, já não precisa de dissimular. Os cortes no euskara são tão brutais que nem sequer merecem tal nome, sendo mais acertado falar de supressão directa de todo o tipo de verbas: de fora ficam as ajudas a meios de difusão euskaldunes, de fora, as ajudas a alunos de euskaltegis, de fora, as ajudas a ikastolas, de fora, concursos de euskal kantak, de fora qualquer reforma decente da Ley del Vascuence... Também não há dinheiro para captar a ETB. A melhor fotografia da Nafarroa actual é a que é apresentada pela TDT depois do apagão analógico. A questão não é apenas a de que, entre um total de 28 canais emitindo dia e noite, só exista um minuto por dia em euskara (o do telejornal da Telenavarra). É que tudo o resto, tudo, é em castelhano. O inglês só se afigura fundamental para o Governo na educação, quando é preciso combater o aumento do modelo D [em euskara].

O descaramento com que Sanz redigiu este orçamento traz consigo uma mensagem indirecta muito agressiva para quem pensou, à confiança, que o euskara seria fomentado a partir de instituições como estas, desprezando outras alianças. E assim chegámos à era de Miguel Sanz e de Roberto Jiménez. O problema não é que sejam fachos, porque também o são os membros do Euskararen Erakunde Publikoa nos territórios vizinhos do norte - Miguel Sanz não é mais de direita que Max Brisson - e acabam de aumentar as ajudas para a política linguística. Trata-se de algo muito mais preocupante: sentem-se ganhadores, impunes, sem oposição. Tanto que não duvidam em transformar os euskaldunes em desprezíveis cidadãos de segunda categoria, que por vezes até se resignam a ouvir o seu presidente a declamar de modo patético o gabón-soríon-chuák...

Ramón SOLA
Fonte: Gara

* Gabon zoriontsuak izan eta nire desio hoberenak urte berrirako
Tenham um feliz natal e os meus melhores votos para o ano novo (tradução à letra)

Ver também:
«UPN e PSN liquidam o euskara num orçamento em que a IUN desiste»
"As verbas para o euskara ficam reduzidas à sua mínima expressão no orçamento para 2010 aprovado na terça-feira pela dupla UPN-PSN, a que se juntou a CDN. A IUN decidiu bater com a porta e o Nafarroa Bai ficou sozinho."
http://www.gara.net/paperezkoa/20091223/173621/es/UPN-PSN-liquidan-euskara-presupuesto-ante-que-planta-IUN