segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Outro conto de Natal

Ofuscado porventura pelo pisca-pisca das luzes de Natal da cafetaria, um menino morde um outro num braço. Imediatamente, o seu pai repreende-o suavemente. «Olha, se lhe deres um beijo, dou-te um caramelo». Fantástico!, de agora em diante, esse menino já sabe que uma boa dentada num braço de outrem pode acabar com uma recompensa.

Que gratificação poderá esperar o rapaz dos arredores de Paris que, numa noite destas, decidiu arrancar com uma dentada o dedo médio ao agente que se aproximou diligente num rotineiro controlo de identidade? Só o juiz de menores o sabe. O que os jornais da capital não questionam é que gesto fazia o polícia para que o adolescente só lhe mordesse esse dedo.

Também não esclarecem se o agente pertence às Companhias Republicanas de Segurança, corpo que cumpre 65 natais de fiel serviço aos interesses da indissolúvel, jacobina e chauvinista França. Como esquecer, por exemplo, aquele Agosto quente de 2008 em que os CRS alegraram as festas de Baiona com impressionantes gases lacrimogéneos e estéticas balas de borracha, deixando os arredores da igreja de Santo André num caos.

Não terão visto essa velha igreja, agora testemunho da fé de um bispo ultra-católico que nem permite veladas a favor das ikastolas, nem sequer que as meninas celebrem com os meninos a missa no altar. É um tradicionalista, este Monsenhor Alliet; confessa-o na sua pastoral de Natal.

O rapaz mordedor saboreia o seu caramelo na cafetaria, confundido ainda pelo pisca-pisca das luzes de Natal, pensando, talvez, num tentador braço carnoso episcopal a benzer sem parar. Como seria grande a recompensa!

Iñaki LEKUONA
jornalista
Fonte: Gara