sexta-feira, 10 de julho de 2009

Grita Iruñea


Apesar da colocação de câmaras dissuasoras, apesar da presença policial asfixiante, vestindo uniforme ou não, apesar das ameaças, Iruñea e os seus cidadãos voltaram a demonstrar que rejeitam maioritariamente Barcina e os seus.

Leire é disso um exemplo. Chegou a casa às 5 da manhã no estado em que se pode chegar, tendo em conta que começou a festa às 9h30 de dia 6 com o almuercico que ela e os seus companheiros tinham preparado na sociedade. Mas o combinado é o combinado e às 11h da manhã já estava a caminho, trilhando o asfalto, primeiro, e o empedrado, minutos depois.

Mikel, o rapaz que conheceu no dia anterior, um tanto envergonhado por não conhecer os da sua cuadrilla, também aparece ao encontro. Entre risos e olhares, um beijinho em público confirma o que todas as suas amigas achavam que tinha acontecido. O sector masculino do grupo que não se apercebeu de nada na véspera passa-se com a situação. Há um que não consegue esconder o quanto aquilo o incomoda. Não sabemos se por uma questão de sentimento protector mal entendido ou porque simplesmente gosta muita da moça. Tarde de mais. Durante alguns segundos, arrepende-se de ter dado mais atenção à cerveja do que à rapariga no primeiro dia de festa. Logo a seguir escolhe uma posição. Na barra, quero dizer… E tudo se esquece pensando no monte de dias de diversão que ainda tem pela frente.

Pintxico e vamos lá à procissão. Não se lembram da última vez que pisaram uma igreja mas nas coisas de santos, como o que dá nome a estas festas, isso pouco importa.

A Alde Zaharra está a rebentar pelas costuras. A temperatura ajuda. Pouco monta que seja terça-feira, estas festas arrastam muita gente. Nesse dia a supostamente conservadora Iruñea mostra-se tal como é; uma cidade multifacetada em que, apesar da uniformização ideológica que nos querem impor a partir dos sectores da direita, a maioria dos cidadãos não responde aos valores retrógrados dos poderosos opusianos, nem aos vende-pátrias que ocultam os nossos símbolos, menosprezam a nossa língua ou ilegalizam ideias rebeldes e progressistas.

Leire é jovem mas tem as ideias claras. Levou com o cacetete pela primeira vez na altura do Euskal Jai. Sabe onde está e quer protestar. Com a sua presença e os seus berros deixa bem vincada a ideia de que Iruñea não é Barcina e aquilo que a UPN quer fazer ver. Mikel, um pouco mais tímido, também protesta mas sem chamar tanto a atenção. Os da cuadrilla, embora a maior parte se encontre um pouco afónica, também pedem à imperatriz que se vá embora, que nos deixe viver em liberdade.

São duas e meia. Leire e os seus recuperaram a atitude. Agora há um dilema. Ir comer com os amigos ou escapar durante algumas horas com o seu novo acompanhante. As amizades são as amizades mas quando existe uma força maior… Combinou aparecer às cinco para a primeira corrida de touros, e assim acaba por decidir não lhe fazer uma desfeita e protagoniza uma escapadela que confirma o que todos já viram: Leire foi a primeira a pescar.

Rapidamente chega a hora de se fazerem à festa que se monta nas bancadas ao sol. Como acontece à maioria dos que acorrem a essa parte da Praça, os seus conhecimentos taurinos são nulos. Além disso, não só não gostam de touradas como estão contra a tortura desses ferozes e belíssimos animais. Não importa. Quem é totalmente coerente? E nas festas de San Fermin ainda menos. Nesta altura até os padres se metem na confusão. Vimos um ou outro por aí. Não vamos dizer nomes.

Para além da corrida, refiro-me à dos touros, no dia 7 há um motivo acrescido para vir até à praça. Barcina preside e é preciso deixar bem claro o que se pensa, participando na vaia popular assim que ela aparecer no palco com o seu sorriso postiço.

Os Sanfermines prosseguem e não sabemos como vai acabar o novo caso de Leire mas parece bem encaminhado. Nestas datas o excesso é total e a festa confirma que, por se ser de Iruñea, não há razão para se ser tacanho, nem partilhar valores do passado que oprimem a mulher, menosprezam a nossa história e perseguem uma cidade para a elite dos opulentos. Grita Iruñea, e que grite com força até mudar tudo o que é para mudar.

Jaime IRIBARREN IRIARTE


Gora Sanferminak! Gora Iruñea! Gora Nafarroa! Gora Euskal Herria askatuta!