terça-feira, 21 de julho de 2009

«Okana» é recordado na sua Ondarroa natal como exemplo de compromisso político


Ondarroa homenageou neste domingo a trajectória de sacrifício do refugiado José Antonio Otxoantesana Okana, que partiu da localidade pesqueira biscainha para o exílio em 1979 e cujas cinzas se juntaram a esse mar de que tinha tantas saudades no México, onde faleceu no dia 27 de Junho. Um acto político na Alameda ondarrutarra serviu para recordar a sua trajectória vital de compromisso com Euskal Herria e a perseguição que tanto ele como outros sofreram e sofrem, referindo expressamente o caso de Jon Anza.

No domingo passado, cerca de trezentas pessoas participaram, na Alameda de Ondarroa, num acto a favor dos direitos dos refugiados bascos, no qual se abordou a figura de José Antonio Otxoantesana, desde a sua participação na criação do grupo de dantza Krexala até à sua fuga para Ipar Euskal Herria, de onde partiu para o México por temor à guerra suja.
Foi um acto emotivo, em que os mais veteranos recordaram as vicissitudes da vida de Okana, como era conhecido pelos seus amigos, e em que os jovens prestaram homenagem ao seu compromisso com os direitos políticos e sociais de Euskal Herria. A sua decisão de partir para terras americanas, por causa da guerra suja impulsionada pelo Governo do PSOE nos anos 80, conduziu à reflexão dos representantes do colectivo de exilados e do Movimento pró-Amnistia.

Por entre as alocuções com um carácter mais marcadamente político, houve tempo para uma oferenda floral, na presença de uma foto de Otxoantesana, um respeitoso agurra e um abraço carinhoso aos seus familiares, que vivem nos dois lados do oceano. Anjel Alkalde, em nome do colectivo de refugiados políticos bascos, iniciou a sua intervenção realçando o compromisso de Okana com a liberdade do país, nas ruas de Ondarroa, em Ipar Euskal Herria e no México, um compromisso que o haveria de conduzir a um quartel da Guarda Civil e à prisão.

A guerra suja foi outro dos episódios destacados por Alkalde, que insistiu na ideia de que o exilado ondarrutarra jamais esqueceu o seu compromisso político, mesmo em terras mexicanas. Perante a "chantagem" e as "agressões" dos estados francês e espanhol, "perante a imposição, olhaste sempre para frente", acrescentou o ex-preso e ex-refugiado de Portugalete para agradecer a Okana.
Para além destas reflexões sobre o perfil militante de José Antonio Otxoantesana, os seus amigos, os que ficaram em Ondarroa e com quem manteve uma ligação apesar dos 30 anos de duro exílio, subiram ao palco para agradecer à esposa de Okana e às pessoas mais próximas.

Em seguida, um representante do Movimento pró-Amnistia deu um abraço sentido aos familiares de Otxoantesana, salientando depois que, ao longo da história, têm sido milhares as pessoas obrigadas a fugir por razões políticas, e que "hoje, no século XXI, são inúmeros os cidadãos bascos que ainda têm de fugir".
Sublinhou o mau bocado que todos passaram ao abandonar, contra a sua vontade, a sua terra, a sua família, o seu trabalho, o seu meio, para terem de começar uma nova vida.

Esclareceu que o exílio existe "porque em Euskal Herria a tortura é o pão de cada dia e porque é fácil entrar na prisão, mas não sair". Embora a fuga para o exílio não signifique escapar à repressão do Governo espanhol, nem em terras bascas nem longe delas.

Perseguição sem fronteiras
Neste contexto, lembrou as detenções de refugiados políticos bascos na Irlanda, na Venezuela e no herrialde de Lapurdi. "A caça às bruxas do Governo espanhol contra os exilados não tem em conta fronteiras geográficas, e para isso procura alianças repressivas com diferentes governos em todo o mundo", referiu na presença das pessoas que participaram na homenagem a Okana, na qual também foi lembrada a figura de um outro refugiado morto fora da sua torra, Kepa Arizmendi. Natural de Elizondo, morreu em Baiona no dia 8 de Junho, também na sequência de um derrame cerebral.

O Movimento pró-Amnistia realçou ainda o facto de "este estado de perseguição permanente, para além da distância a que vivem da sua terra e dos seus, ter consequências na sua saúde. Nestas condições, vivem centenas de refugiados dentro e fora de Euskal Herria".
Ao abordar esta situação, não se esqueceu de mencionar o desaparecimento, há já três meses, do ex-preso e refugiado donostiarra Jon Anza, o que o levou a perguntar pelo seu paradeiro e a razão pela qual não aparece.
"Euskal Herria vive um conflito político, e um exemplo claro desse conflito político são os refugiados políticos espalhados pelo mundo. Apesar de terem tido que fugir das suas terras, que amam - afirmou -, conseguiram integrar-se noutras terras pelo mundo fora, nas quais se sabe que são refugiados políticos". Agradeceu a quem os recebe. Concluiu a sua alocução deixando claro que vão lutar pelo regresso de todos os exilados através da solução democrática do conflito político.

Agustín GOIKOETXEA

Fonte: Gara


«Gogoan zaitugu Okana», cerimónia de homenagem a Okana.